segunda-feira, maio 30, 2005

eloqüência

Sentei o pau hoje (veja bem, sentei O pau e não NO pau). E foi uma coisa meio metralhadora, sentei o pau em todo mundo.
Atirei o pau no gato. E matei pelo menos umas duas vidas do bichano.
Hoje minha analista viu, eu vi, que o buraco é mais embaixo. Desfiei uma romaria de palavrões digna de Dercy Gonçalves. Mostrei toda a minha expressividade quase poética. Usei e abusei de figuras de linguagens chulas, mas nem por isso pouco eloqüentes.
Lavei a égua, enfiei o pé na jaca, chutei o pau da barraca. O mesmo pau, aliás, usado pra matar o gato.
É verdade que uma andorinha só não faz verão. Mas duas, eu e Isabela (a analista), já faz um calorzinho. Calor que deixou gente de orelha quente.
Hoje muitas dúvidas foram elucidadas, muitas confusões foram desfeitas. Deixei de confundir alhos com bugalhos e rifle de caçar rolinha com bife de caçarolinha. E ainda bem que o rifle era de caçar rolinha e não andorinha. Seria um risco pra nós duas.
Eu que pensava que cachaça era água, que urubu era galinha, que era só colocar a merda na gaiola que ela cantava... redondamente enganada. Mas tudo a seu tempo. A César o que é de César. Cada coisa no seu lugar.
Consegui dizer não, não entregar o ouro ao bandido. Sem culpas. Não vesti a carapuça, ela não me servia.
No fim das contas, foi muito bom. Não fugi da raia. Não ralei peito. Não peidei na farofa. Güentei o tranco legal. E fiquei assim, satisfeita. Ouso dizer que até feliz. Mais do que pinto no lixo.

domingo, maio 29, 2005

***

Mais uma vez jogo no lixo as expectativas. É, eu tinha expectativas. Sei que minto, digo que nada espero. Tento me enganar. Tento acreditar nisso. Mas sou sim uma otimista incurável. Tento me convencer de que nada dá certo. Uso argumentos lógicos e vejo, com toda a racionalidade que me é permitida, que nada tem dado certo mesmo. Mas, ainda assim, meu coração, sempre ele, me diz pra tentar mais uma vez. Pra acreditar. Pra esperar.
E espero. E creio. E sonho. E me desiludo. A dor de hoje é física, tanta que até me distrai da dor do coração. Só assim pra conseguir escrever com tamanho distanciamento. Mas estou, verdadeiramente decepcionada. De novo. Mais uma vez.
Começo a desconfiar que testes de QI não significam absolutamente nada. A inteligência é muito mais do que a capacidade de processar e resolver problemas matemáticos. Tem a ver com aprender com os erros e mudar os comportamentos. E eu não tenho nem aprendido e muito menos mudado. Continuo agindo igual. Sou muito menos capaz do que os números me dizem. Muito menos inteligente do que gostaria de acreditar.
Mas dá tempo. Acho que dá tempo de sair pouco machucada. Talvez aquela camada protetora esteja ficando mais impermeável com o passar do tempo. Talvez poucos sentimentos tenham realmente sido absorvidos. Talvez, com um paninho úmido, tudo volte a ficar limpo e sem marcas. Talvez eu realmente tenha perdido a capacidade de amar.

sexta-feira, maio 27, 2005

negro

Parece que alguém morreu. Parece que você morreu. Que eu morri.
Ao som de Bach, choro essa morte. E minhas próprias lágrimas me emocionam. Sufoco com o choro preso, acumulado. Choro de tantos anos, tantas dores, tantas mágoas.
Afogo os ressentimentos. Tento limpar o coração. Limpo as feridas com o sal das lágrimas e sinto arder. Sinto a cicatrização lenta e difícil. Tenho medo de não fechar nunca, nunca, nunca...
Alguma coisa tá acabando. Tá morrendo. Tá suspirando. Quem morre? É a mulher seca, fria racional? Ou aquela, tão bem escondida, de emoções fortes, transbordantes, coração intenso, romântica incurável...? Aquela que sabe amar? A que sabe doar, dar, entregar, cultivar, apaixonar?
Tenho violinos dentro de mim, num vai e vem barroco de sentimentos antagônicos. Culpa e redenção. Amor e ódio. Dar e tomar. Viver e morrer.
Parece que alguém morreu. Que você morreu. Que eu morri.
Choro e nem sei por quem. Sinto saudades de algo que nunca vi. De um lugar que nunca estive. Sinto falta dos sentimentos bons, da vida, do sol, do mar, do cheiro quente da cozinha da minha avó. Lembro quando violinos eram bons.
Eu só me pergunto porque. Quero a causa não o efeito. As conseqüências estão aqui, conheço todas. Mas têm ar de castigo, de pena, de purgação. As vozes de um coral religioso ecoam na cabeça. É belo e assustador.
Parece que alguém morreu. Que você morreu. Que eu morri.
Estou de luto. Visto negro. Véu no rosto e lágrimas nos olhos. Quanto tempo resta? Quanto mais dura o luto? Sonho com o dia do vermelho. O dia do batom. O dia dos cabelos soltos e da roupa fresca. O dia de Villa Lobos. O dia de voltar a viver.

quinta-feira, maio 26, 2005

alguém

Tenho medo de nunca mais ficar confortável. Nunca mais estar à vontade verdadeiramente. Nunca mais amar inteiramente. Queria alguém que tocasse Insensatez no violão no tom certo. Que visse comigo todos os filmes do 007 e depois gravasse pra mim as músicas tema. Que cuidasse do antivirus, das atualizações, de absolutamente tudo do meu computador. Que risse da minha cara de mal-humorada pela manhã. Que levasse leite com chocolate na cama à noite. Que colocasse bilhetinhos de "não esqueça" em todos os lugares que eu passe. Que fosse comigo ao cinema ver uma comédia e risse mais das minhas gargalhadas do que das piadas da tela. Que confiasse nas minhas opiniões. Que passasse a madrugada inteira tentando me convencer de que o meu ponto de vista em relação à Revolução Francesa não está de todo correto. Que fosse pescar, escorregasse na lama e fosse salvo por uma bananeira. Que esculachasse certos tipos de música que escuto mas que compusesse músicas lindas comigo. Que fosse tão inteligente, a ponto de irritar qualquer mortal. E tão irônico, que irritasse mais ainda. Que cuidasse da trilha sonora de nossas vidas. Que lesse mais compulsivamente do que eu. Que não se importasse que eu goste de Guerra nas Estrelas, Indiana Jones, De volta para o Futuro, Matrix e Senhor dos Anéis. Que achasse divertido toda vez que troco de cor de cabelo. Que gostasse do meu cheiro e eu do dele. Que tivesse um lado selvagem inexplorado. Que colocasse apelidos no meu pai. Que gostasse de cachorros e gatos. Que me desse uma rosa de vez enquando. Que tivesse cara de bom moço e enganasse a todos, menos a mim. Eu saberia que não é tão bom moço assim. Que fosse o meu melhor amigo. O amigo ideal. Que tivesse o beijo mais inesquecível da minha vida. Que fosse meu cúmplice. Que roubasse minhas palavras e pensamenmtos e falasse as maiores abobrinhas junto comigo, sem ensaio, sem treino, no improviso. Que comesse a pior e mais azeda torta de limão que eu fizesse, rindo, debochando, mas comendo. Que fizesse carne moída com curry, tão ruim, mas tão ruim, que nem o cachorro comeria. Que tivesse um lado bem ruim e cruel, mas que tivesse também um lado maravilhoso. Que me amasse. E que eu amasse também.

xiiiii

Tava indo tudo tão bem... mas tive que passar hidratante nos pés e nas mãos. Foi irresistível e imperioso... hummm... mal sinal.

quarta-feira, maio 25, 2005

celular 2

- Deh?
- oi, querida!!
- tudo bem? então, tô te ligando porque hoje tem uma festa ótima em Santa Teresa, vamos?
- festa, hoje? mas assim no meio da semana?
- Deh, amanhã é feriado, esqueceu?
- ahhhh, é mesmo, esqueci... e vai ser boa?
- vai sim, daquele jeito: festa estranha com gente esquisita... hehehe... a nossa cara!! você pode dormir aqui em casa!!
- tá, vou pensar... tô sem carro, você sabe... e tá chovendo... e tô com tanta coisa pra fazer!!
- xiiii!! você não é mais a mesma... desde quando isso é problema?!
- acho que desde que fiquei velha...
- é, você tá parecendo uma velha mesmo!! quantos netinhos?
- tá!! então vou!!! velha é o cacete!!
- hahahahahahaha
- te ligo então pra combinar alguma coisa...
- acho que você não vai mesmo... mas espero você ligar, tá?
- tá, vou pensar... acho que vou sim!!
- unhum... bem, um beijo querida!
- beijo e até já!
- tchau!!
.
Ligo ou não ligo? Vou ou não vou? Ai, Deus, que medo!! Como não sei se quero ir a uma festa estranha com gente esquisita?! Será que é essa a senha da velhice? Como posso estar com mais vontade de assistir a um videozinho embaixo das cobertas do que encher a cara em uma festa com muita música e gente "interessante"?
Se continuar assim minha próxima cosulta médica será com um geriátra e férias só num lar de idosos mesmo...

celular

- alô!
- como vai a senhora?
- ah... oi, tudo bem e você?
- tô querendo te ver...
- bem, vamos ver...
- vem pra cá hoje
- hoje?! não dá... tô no meio de uma arrumação, e tenho uns trabalhos, tô meio ocupada...
- mais desculpas, né? como sempre... tem 6 meses que não te vejo, sabia?
- não tem isso tudo... tem?
- tem sim... a ultima vez foi lá no BG, isso foi em fins de novembro, início de dezembro do ano passado!!
- você tem uma memória!!
- já vi que não vou te ver nunca mais...
- não dramatiza... deixa de ser exagerado!
- você sabe que me deixa doido!!
- já tá exagerando de novo...
- vem logo...
- escuta, tô sem carro e muito ocupada.. e já é tarde.
- pega um táxi!! e hora não é problema, eu durmo tarde e você também!!
- é longe, tô sem grana pro táxi... deixa pra outra oportunidade.
- eu pago o táxi!! isso não é problema!!
- você deve ter tanta fã da banda atrás de você... não sei o que eu posso ter de especial... e tudo menina bonita e nova!!
- você sabe bem o que tem de especial, não se faça de desentendida!!
- tá bom, eu vou pensar... vou ver o que dá pra fazer e te ligo, tá?
- isso é um não, né? um não educado... já sei que não vai ligar...
- porra, se tô dizendo que vou ligar, é porque vou!!
- tá bom... vou esperar sentado... queria saber o que você tem contra mim...
- não tenho nada contra... mas já te disse, tô meio cansada de encontros assim casuais, queria me apaixonar e por você não dá, né?
- é, já sei... bom, você vai ligar?
- ligo sim!
- então um beijo e até mais tarde...
- tá, beijo!
.
E não liguei de volta.

terça-feira, maio 24, 2005

muda daqui, mexe acolá

Bateu o sopro da mudança. E chegou entre sorrisos. Não estou me importando, estou até procurando... ô, coisa boa!!
Estou retornando, me recriando das cinzas, de um esboço mal feito. Redesenhando a vida, as vontades.
Mudei tudo de lugar, abri mão de coisas, liberei sentimentos. Assumi umas coisas que estavam tão guardadas que dava medo. Mas nem doeu. Ou melhor, doeu. Mas não tanto quanto já vinha doendo. E foi dor libertadora.
Sou eu. Eu de volta. Eu nova. Com elementos antigos, mas remodelada. Nas estruturas.
Falta muita coisa, mas tô conseguindo enxergar o caminho. Consegui uma lanterna. Chega de black outs. Chega de escuridão. Chega.
E eu tô chegando.

segunda-feira, maio 23, 2005

guarda-chuvas e anões

Que objeto pode ser mais chato e incômodo do que um guarda-chuva? Não cabe em canto nenhum, é antiquado, demode, anacrônico. E, na verdade, só sentimos falta quando estamos na rua e chove. Logo está sempre no lugar errado, em casa ou perdido no último lugar em que você esteve.
Eu sempre achei que era por essa total falta de praticidade que o guarda-chuva é o campeão absoluto dos objetos perdidos. Mas, depois de uma conversa elucidativa com um amigo querido, percebi o quão enganda estava.
Me explico. Guarda-chuvas são "coisas" de uma natureza muito mais dinâmica e mutável do que aparentam. Se transformam em objetos comuns e fáceis de encontrar em qualquer lugar, como cinzeiros, grampeadores, clipes de papel, moedas de 5 centavos. Isso com o intuito único de nos confundir.
É claro que têm uma ajuda crucial. Assim, será que alguém, na vida, já viu um enterro de um anão? Tá bom, nem precisa ter visto, mas tem um amigo que foi a um? Eu duvido. Por uma questão muito simples, anão não morre. Simplesmente desaparece. E vai pra onde? Justamente pra esse lugar onde o guarda-chuva é transformado em outras coisas para nos confundir e, fatalmente, nos fazer esquecer dele.
O restante da teoria foi criada por mim, com base em estudos e a observação aguda do dia-a-dia. Você pode estar se perguntando qual é o objetivo dos anões ao fazer isso. Simples: anões têm descendência direta e comum aos ancestrais de Murphy. Sim, aquele mesmo Murphy da lei. Ou seja, é um caso de família, trabalham juntos para que a máxima seja sempre verdadeira, "tudo o que puder dar errado, dará".
.
.
Totalmente dispensável dizer que peguei chuva hoje...

...e qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d'água...

As coisas estão ficando sérias. Ou talvez agora é que estejam melhorando. Ainda não dá pra saber bem. Mas até que tem surtido algum efeito aturar alguém metendo o bedelho na minha vida, esmiuçando meus sentimentos.
A verdade é que começo a ligar os pontos. A entender o eterno sentimento de apreensão, de perigo e de insegurança. A ver como tenho guardado a sete chaves sentimentos considerados tão feios por mim, transformados ao longo dos anos em um verdadeiro monstro interno, uma bomba prestes a explodir.
Carrego um campo minado, mantenho sob controle uma área de alto risco, onde ninguém tem autorização pra entrar. Nem eu tenho. Mas só eu sei ou imagino o perigo. Esse sentimento que algo cataclísmico vai acontecer me persegue desde muito nova. Oito, nove anos talvez. Os sonhos com guerras, com muito fogo e explosões, bombas atômicas, tudo isso já vem dessa época. E, de acordo com minha natureza dramática e trágica, sempre foram encarados como quase premonitórios, aumentando a insegurança. Na verdade eram sinais de que algo estava ali, pronto pra aflorar a qualquer momento. Mas como tinham (e têm ainda) para mim o efeito devastador de milhares de megatons, eu simplesmente não podia deixar virem à tona. A todo custo, tive que manter tudo sob vigilância cerrada. E faço isso até hoje.
Daí vêm as noites de insônia, a crescente sistematização de tudo, o pavor de mudanças, já que geram necessidade de readaptação e reaprendizagem da manutenção da ordem, a inércia e apatia (sempre na expectiativa de algum acontecimento apocalíptico) e o medo atroz de me apaixonar. Paixão significa entrega, falta de racionalidade e total perda de controle. E perda de controle está ligada a explosão que está ligada a fogo e a muito sofrimento.
Bem, falta descobrir que sentimento é esse, que campo minado tão grande e assutador afinal de contas se encontra escondido em minhas entranhas. Já sei que esse tipo de associação a guerras e bombas tem muito a ver com raiva, muita raiva. Ou a querer muito alguém. E é claro, pode muito bem se tratar das duas coisas, já que querer muito alguém e não ter, pode gerar uma raiva viceral. Eu acho que tá tudo realmente liagado à raiva. Raiva que nunca expresso de acordo. Que sempre, com medo da perda do controle, abafo, afogo. Nunca brigo e se brigo, peço desculpas. Sou capaz de, muito friamente, nunca mais falar com uma pessoa. Mas sou incapaz de berrar-lhe palavras mais duras, por mais magoada que eu possa estar. Sinto sempre uma necessidade funda de gritar alto, mas o grito tá sempre preso, estrangulado. Amordaçado.
Quantas pessoas passaram na minha vida e nem se deram conta do estrago que fizeram. Mas a culpa não é delas. A responsabilidade é minha. Eu não disse, não falei. Fiquei esperando, impávida, pela "descoberta", como se fosse uma obrigação saberem. Não é.
Começo, timidamente a limpar a área. Quero não ter medo do desconhecido. Preciso, como todos na vida, amar, ser amada. Viver as tristezas e as alegrias. Deixar de lado essa bolha sintética, essa atmosfera artificial em que tenho vivido há tanto tempo que nem sei se conheço o ar real. Soltar as amarras, atadas e cosidas por mim. Criar asas e borboletear de verdade.

pérolas familiares

Meu pai, para Bia:
- quem é a mãe do mingau?
ela:
- não sei...
- Mãezena
- ...
- e a avó?
- fala...
- a véia Quacker!!
- hehehe
aí minha mãe manda em seguida:
- e o avô??
Bia:
- ??
- O Vômaltine!!
e assim vou vivendo, né? fazer o quê?

sábado, maio 21, 2005

sim ou não...

Estou por um momento confusa...
Devo confiar ou não?
Acredito ou não acredito?
E toda aquela história, era pra me sensibilizar? Era pra se fazer de vítima?
Todos sempre sabem de tudo. Jornal estampado, periódico da sua vida.
A minha vida anda, assim, comprometida, comentada.
Não gosto de flashs e nem exposições. Só as por mim autorizadas, controladas.
Não gosto, não gosto mesmo. Assim, eu digo não.
Um não redondo e firme. Sem rodeios.
Eu só preciso saber a verdade. Mesmo angustiante, mesmo dolorida.
Mesmo que seja pra confirmar o que eu sempre soube. Que eu não sou nada, que eu não sou ninguém.
Nem nessa vida e nem na vida de qualquer outra pessoa.
Confirmar a falta de valores e a inteligência curta.
Curta por acreditar sempre no irreal. Sempre no mágico. No metafísico, no sobrenatural.
Por achar que um dia melhora, um dia vai, um dia acontece.
Gostaria de dizer sim, uma vez mais. Mas um sim calçado na verdade. Mesmo que a verdade seja feia. Mesmo que eu não goste de encará-la muito.
Mas sabendo, eu escolho. E enquanto existir mentira, terei medo. Direi não, sei disso.
Quando a verdade finalmente aflorar (se é que vai aflorar algum dia) tomarei coragem, e enfrentarei os senitmentos de peito aberto. E poderei, finalmente dizer sim.

sexta-feira, maio 20, 2005

a Amiga

A Amiga é amiga desde o primórdio dos tempos. É uma amiga dinossáurica. Literalmente, já que a amizade começou no meio de uma pesquisa sobre dinossauros. Oito ou nove anos de idade. Tudo realizado e sacramentado na bancada do atelier de mamãe, um quartinho com porta de vidro, que cheirava a resina e a chifre de boi prensado, localizado no terraço da casa em que morávamos. E tudo regado a um bom e doce suco de caju.
Ficamos inseparáveis. Nos víamos diariamente na escola e fora dela, andando de bicicleta, brincando de barbie, compondo músicas e escrevendo contos e peças teatrais. Éramos uma dupla, um par, as Amigas.
No princípio eu era a irmã mais velha. Já tinha morado em tantos e tantos lugares diferentes e ela sempre ali, no mesmo lugar. Tínhamos famílias muito diferentes e eu respondia às suas perguntas, no auge da minha sabedoria infantil. Ensinava tudo, achava que sabia tudo. E íamos vivendo assim.
Foi ela a primeira saber (e por muito tempo a única) do meu debut sexual. Dois meses depois, foi o dela, encorajado logicamente por mim. Namoramos no mesmo período, nos parecíamos fisicamente, viajávamos juntas... unha e carne!
Aí veio a faculdade e o meu casamento. Tivemos um afastamento inevitável. Ela viajou, estudou, trabalhou. Eu estudei, trabalhei, vivi minha vidinha de casada. Eu virei a certinha e ela a porra-louca.
Sempre foi avoada, esquecida, doida mesmo. Inteligentíssima, mas nunca capaz de lembrar de uma piada inteira. Quando muito, contava o final no início da piada. E ria. De perder as forças.
Lembro dela, ainda criança, chegando lá em casa com uma cara estranha. Dizendo que tava com dor na cabeça. Minha mãe chegou e perguntou: que foi, minha filha? E ela, meio sem graça e quase chorando: é que eu pensei que venho tanto aqui que podia fazer o caminho de olhos fechados... aí fechei os olhos e vim... mas bati com a cabeça numa árvore!!
Inútil dizer que passei mal de tanto rir!!
O tempo passou, a amizade continuou e fortaleceu. Hoje, com mais de vinte anos de convivência, de trocas, confidências, somos mais amigas do que nunca. Eu me separei. Ela casou. E continuamos nos ajudando, nos ouvindo, aprendendo a viver juntas, com nossas experiências. Ela é a Amiga. Sempre vai ser e, como já disse a ela, quero vê-la sempre bem, quero tricotar sapatinhos pros seus bisnetos. Porque, de verdade, eu amo muito a Amiga.

quinta-feira, maio 19, 2005

Ciranda da bailarina

Não resisti e procurei a letra dessa música que é a um tempo melancólica e divertida, que encanta e entristece. A Ciranda da bailarina, do Grande Circo Místico, Chico e Edu lobo. E, aliás, tem alguma coisa mais contraditória do que o circo? Algo que desperte mais sentimentos ambíguos? Eu não conheço. Sempre saio feliz, mas um cado deprimida depois de uma ida ao circo. Bem, sem lenga lenga, aí está:
.
Ciranda da Bailarina

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
.
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem
.
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
.
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
.
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
.
Procurando bem
Todo mundo tem...
.
Chico Buarque

só lembranças...

Tá, eu disse que não ia ter post. Mas esse nem é assim um post. É só uma lembrança.
Lembrei que hoje, depois de séculos, coloquei Aquarela, do Toquinho, pra ouvir. E me emocionei de tal forma que cheguei às lágrimas. Sei que é um música bem bonita mas, não fosse a viagem no tempo que ela me proporcionou, não teria me tocado tanto assim.
Voltei à infância, aos primos brincando, às brincadeiras de princesa, de perdidos na selva, às fantasias que usava. Aos meus dias sobre rodas, onde eu só tirava os patins na hora de tomar banho e dormir, as pernas moles de tanto esforço. E uma sensação boa e feliz.
E toda uma trilha sonora me veio à mente, Os Saltimbancos, A Ciranda da Bailarina, também do Chico, a poesia maravilhosa de Vínicius, na Arca de Noé, Plunct Plact Zum, com Raulzito. Lembrei dos sons que meus pais ouviam e que eram pra mim tão familiares e cotidianos, como Pink Floyd, Beatles, Faces, Gil, Caetano, A Cor do Som, Amelinha, tantos tantos.
Era bom sim. Meus contatos com o mar e com os pescadores em Arraial do Cabo, minha volta pro Rio e as andanças de bicicleta e explorações pelo bairro do subúrbio carioca, arborizado, tranqüilo, convidativo. A época de lagartas, onde peguei tantas e tantas pra levar pro cantinho de ciências da escola que o vidro com álcool mais parecia um vidro de lagartas em conserva. A vez que achamos uma lagartixa morta e constatei, surpresa, que ela era transparente, dava pra ver o coraçãozinho pela pele. Mesmo os tombos apoteóticos de bicicleta são lembrados com sorrisos. E quantos foram!! Lembro ainda da cadela fila, chamada Olimpia, muito braba, que vivia numa casa vizinha. E que, de tanto insistir, de tanto passar e falar com ela, de tão sem medo que eu era, acabei fazendo amizade e coçando-lhe a cabeça pelas grades do portão de ferro.
Lembro de tudo isso. Sinto o cheiro. Voltei no tempo pelos acordes de uma música. Só não lembro qual foi o ponto exato em que cresci e deixei essa infância e felicidade toda pra trás. Mas, será que cresci mesmo?

não tem post

Nossa, que coisa estranha. Tô com muita vontade de escrever, mas me faltam assuntos, criatividade. Já pensei em um monte de coisas que foram rapidamente descartadas por falta de graça ou de interesse real.
Tipo, pensei em falar sobre um dos porteiros daqui, um de bigode, alto e moreno. Falar sobre como ele olha pra gente de um modo esquisito, inquiridor. Às vezes parece interessado no que estamos pensando até. Às vezes parece tão aborrecido que não ouso dirigir-lhe a palavra. No máximo, entre os dentes, dou-lhe um bom dia. Mas ele me dá medo. Aí, prefiro não escrever.
Pensei na jornaleira. Compro jornais, lógico, e cigarros com ela. É uma mulher do sul, dá pra ver pelo sotaque. Mas é assim, como direi, meio máscula. Vive discutindo futebol, usa umas bermudas largas e compridas e sempre tem uma dica boa pra dar sobre o carro. Os cabelos curtíssimos, brincos nem pensar e tem uma risada grossa e forte. Me dá também um pouco de nervoso porque me olha sempre com um sorriso estranho nos lábios. É, descartada por motivos óbvios.
O chaveiro também foi cogitado, com sua barriga imensa e seu nariz descomunal, cheio de furos. É um chaveiro diferente, faz chaves e conserta ventiladores, panelas de pressão, descargas de privada. Um multi-homem. Mas ele me dá um certo asco, acho que pelo tom esverdeado de pele que tem. Cor de quem tá meio embolorado, mofado. O jeito de falar mole e debochado também não ajudam. Eca. Definitivamente não quero falar sobre ele.
Até Lola, a poodle minúscula que vive aqui em casa, foi levada em consideração. Mas, tadinha, anda parecendo uma estopa velha, dessas sujas de graxa e poeira. Ela, que era pra ser assim como uma cachorrinha de madame, é um cão sem dono, mesmo com tantos possíveis donos em casa. Ela adotou mamãe como dona. Mas a proprietária de fato é Bia. Agora, no auge dos seus rebeldes 11 anos, você acha que ela lembra que Lola existe? Nem pensar. Quanto a mim, temos uma relação meio tempestuosa. Nos entendemos entre gritos e mordidas, carinhos e brincadeiras. Mas juro que nunca a mordi. Fui sempre vítima de seu dentinhos pequenos, mas afiados. E dói, como dói. Aí eu grito,né? Não dá. Não vou realmente escrever sobre alguém, mesmo um ser canino, que me tasca os dentes de vez enquando. Acho que não faria sentido, mesmo levando em conta minha natureza ligeiramente masoquista.
É isso, desisto mesmo. Não vou escrever sobre nada. Hoje não tem post. Ou melhor, tem isso aqui, explicando justamente a falta de posts. Vou ler jornais, umas revistas, fazer mais compras em mercados, talvez dar uma volta na Central do Brasil. Dar uma renovada no estoque de inspiração.

quarta-feira, maio 18, 2005

hiato

Não tem coca-cola, não tem chocolate, a vida parou.
Parou no tempo, respiração em suspenso, coração disparado.
Não existem mais cinemas, nem bosques, nem cães.
A vida parou, acabaram-se os relógios, nem um trem parte hoje.
O povo dorme, nehuma palavra é escrita, não há chuva.
As plantas secas, morrem. Os homens tristes, choram.
A vida parou e nenhum bebê nasce hoje. Mas 5 funerais são feitos.
O amor morreu. A luz apagou. O sol se pôs. O sorriso fechou. O lábio murchou.
As rugas brotam, árvores na testa, negativo vivo.
Prova fiel e sincera, inequívoca e inconfundível.
A vida parou. O olho perdeu o brilho. O fogo queimou.
Só resta renascer.

das dificuldades de locomoção ou de como minha vida parece uma kombi ou, ainda, das carências do transporte urbano

É assim, eu tenho e não tenho um carro. Ele é meu, é vermelho, pequeninho. Mas tá parado, numa garagem de uma oficina mecânica. E não é a primeira vez que isso acontece. Há alguns meses atrás, sofri um pequeno acidente de carro. Digo pequeno, porque (ainda bem) ninguém se machucou. Mas ele, o carrinho, ficou arrasado. Toda a lateral destruida, vidro quebrado. Uma lástima.
Dessa vez não foi acidente, mas um problema nos freios. A roda esquerda traseira travada. Não anda. E se andasse provavelmente não teria freio. Tá então parado. O grande problema é que meu carro é velho e importado. Logo, as peças são carerésimas e difíceis de encontrar. E, é óbvio, seguindo a imperiosa e onipresente Lei de Murphy, não encontro em canto nenhum o que precisa. Encomendas foram feitas. Prazo mínimo? 15 dias. E eu sem carro.
Faz tempo que eu não andava de ônibus e afins. Com a batida de carro (re) aprendi um pouco a arte de me locomover por esse mundão de Barra, Recreio e Jacarepaguá sem estar devidamente motorizada. Com essa nova parada, o curso está sendo finalizado. Lindamente, diga-se de passagem.
Temos (e eu nem sabia) um grande problema de falta de condução digna e eficiente nessa área. Você nunca sabe qual o ônibus que vai, qual o que volta, qual passa lá por trás do Barrashopping, qual vai pela praia.... enfim, um caos total para uma leiga criatura como eu. Outro grande entrave é que as distâncias são enormes e é basicamente impossível o ato humano de caminhar sobre duas pernas. Só dá sobre rodas. Duas ou quatro.
Hoje parti para uma aventura. Levar umas bijus para uma gerente querida e amiga de uma loja do já citado shopping. Levava bolsa? Pesada? Tava atrasada? Sim, para todas as perguntas anteriores. Eu e mami paradas no ponto de ônibus e passa o que? Uma kombi. Eu deixaria passar, mas mamãe tem mais anos de estrada e transporte coletivo e disse:
- vamos, filha!! essa é boa que deixa a gente em frente.
Fui. Apertado. Gente fedida. Correndo. E eu, rezando.
Cheguei já mau-humorada no shopping. Bom, tá legal, mau-humor meu não é novidade pra ninguém. Mas, tudo bem. Foi legal lá, vendemos, comemos torta (aliás, um cheese cake delicioso), rimos e relaxamos.
Mas, durou pouco esse momento de descontração. A volta foi pior. Mamãe (sempre ela) disse para pegármos outra kombi, dessas que fazem ponto no estacionamento. Disse que se sentia mais segura (??) do que pegando um ônibus. Eu, já sem forças pra nada, me deixei levar e obedeci. Sou uma filha obediente.
Sabe aqueles dois bancos que tem atrás na kombi? E que cabem 3 pessoas?? Eles colocam 4. Fui agarrada, abraçada, embolada com mamãe no primeiro banco. No de trás tinha um homem, uma mulher com uma criança no colo e uma mulher gorda. E entrou mais uma. Essa última reclamou do incômodo:
- nossa, tá apertado aqui. Nem dá pra encostar!!
A mulher gorda explicou:
- ah, é assim mesmo. Sempre tem que ter um sem encostar. Fica sempre assim. É um banco pra 4 pessoas sentarem. Mas só pra 3 encostarem.
Ao que a outra respondeu:
- mas tô pagando a passagem igual de quem encosta! Eu gosto de encostar também!
E continuou na kombi, mesmo indignada, mesmo sem encostar, mesmo pagando a passagem igual.
Me fez pensar. Cheguei em casa muda, refletindo sobre vida. Minha vida anda meio como uma kombi lotada. Tô sempre embolada com alguém, pago o preço, mas tô sempre sem encostar, sempre incômoda. Tenho que me dar por satisfeita de poder sentare usufruir a viagem. Que, se não é cômoda como no meu carrinho velho, é pelo menos útil. Cumpre seu papel.
Preciso é realmente consertar meu carro. E deixar essas kombis de lado. Pelo menos vou evitar de pensar nessas metáforas ridículas, comparando a minha vida a um banco fedido de um transporte coletivo. E alternativo ainda por cima.

terça-feira, maio 17, 2005

apenas uma história

O sol estava morno, apesar de estarmos no auge do verão. A temperatura agradável e cômoda. Já passavam, possivelmente, das quatro da tarde. Não tinha relógio, e nem precisava. A hora era a última coisa que me preocupava naquele momento.
A praça estava cheia. Muitas pessoas conversando, algumas em pé, outras sentadas na grama. Várias famílias tinham estendido lençõis e estavam deitadas, aproveitando a sombra das árvores e a brisa fresca que soprava. Eu caminhava com desenvoltura entre o povo, com um misto de satisfação e orgulho. Via os rostos, me reconhecia na multidão, Fazia parte de alguma coisa.
Meu irmão, minha mãe, minha sobrinha também estavam lá, perdidos no meio de todos. Mas não precisava encontrá-los. Quando quiséssemos, com certeza nos veríamos. Até meu antigo amor estava, com sua nova família, fazendo parte de tudo aquilo. Mas nem isso me incomodava.
Ouvia ao longe o violão dele. Violão gostoso do meu querido amigo Dimitri. Eu ia me aproximando e ouvindo com mais clareza seus acordes, sua voz melodiosa e confortável. Começava a ver, entre as cabeças, sua figura marcante em cima do palco improvisado. Na verdade fazia um pequeno show, de última hora, por amor à arte e ao povo, sentado em um banquinho numa varanda de uma grande casa, cedida por um morador patriota. Mas, apesar de tanto empenho, o povo estava disperso, falava, e não prestava muita atenção a tudo aquilo.
Ele de longe me viu. E me surpreendeu falando alto de lá de cima:
- E agora minha querida amiga Fernanda canta comigo essa linda canção!!
E apontou pra mim no meio da multidão. Por um momento me senti nua, descoberta. Mas feliz por ter sido vista, notada por ele. Eu o amava e nem sabia. Não me dava conta do óbvio.
Comecei a cantar ainda no meio de todos, enquanto caminhava até o palco. O povo abria passagem e me olhava, admirado. Até eu me admirava. Aquela voz não parecia minha. Tão forte, segura, doce. E como era bom cantar assim!!
Subi ao palco e cantei a música até o fim, contando com o sorriso cúmplice e terno de Dimitri. Ele fazia a segunda voz e aumentava a miha força, a minha segurança.
Esse homem/menino de mil talentos, mil surpresas, mil idéias, me encantava. Eu confiava nas suas palavras e sorrisos. Me reconhecia nos seus pensamentos. Me via espelhada na sua imagem e no seu modo de ser. Tínhamos uma ligação forte já, um laço profundo de amizade. E nesse dia olhei pra ele como se fosse a primeira vez. Lembrei do sentimento de déjà vu que eu tinha experimentado em nossa primeira conversa, falando de arte. Vi o homem delicado e sensível, que muitos, quase ninguém aliás, conseguia compreender. E eu podia. E ele a mim.
O público aplaudiu nossa canção. Mas nesse momento já não estávamos mais ali. Tudo parecia longe, diferente. Dimitri me olhava e me sorria com uma ternura muito própria, muito singular. Sentia a sua cumplicidade.
Nossa maratona de eventos e vigília já durava mais de 24 horas. e apesar de sermos da mesma natureza insône e noturna, de nos alimentarmos basicamente de palavras e idéias, estávamos exaustos. As pessoas se dispersavam e já haviam perdido o interesse em nós. Deitamos no chão da varanda, de pedra fresca e ficamos por um bom tempo virados um de frente para o outro nos olhando, nos medindo, nos conhecendo de uma nova maneira. Dimitri acariciou lentamente meu rosto, meus cabelos esvoaçadaos pela brisa e me deu o beijo mais longo e carinhoso de toda a minha vida. E me disse com aquele sorriso luminoso:
- Como alguém pode beijar e cantar assim!!
Adormecemos assim, deitados no chão, sem acessórios, sem adereços. Só nós e nossos braços. Só a brisa, o céu e nós. A vida simplificada ao extremo. O amor e só.

segunda-feira, maio 16, 2005

registros

NA COZINHA
(pegando a segunda caneca de café do dia, ainda sob os efeitos devastadores do mau humor matutino)
Rosa: Debra, tava pensando numa coisa...
Eu: ... o que?
R: tava pensando em você e na tua vida...
E: ?
R: ... acho que tá na hora de você casar de novo e ter filhos!
E: ... ah é?
R: é!!! você já tá dois anos separada, já tá bom, né?? vai ter uma família, quetar o facho, ter uns filhinhos lindos!!
E: ...
R: e não faz essa cara... vócê já passou dos 30, daqui a pouco não dá mais não!!
E: ô Rosa, você sabia que pra fazer isso tudo precisa de um pequeno detalhe?
R: ahn?
E: precisa ter um namorado, noivo, marido, pai pros filhos, o diabo, mas precisa de alguém!! sozinha não dá, lembra disso??
R: ah, é isso?? Pensei que você ia falar de dinheiro!! Homem é fácil! Na minha terra, mulher bonita e inteligente assim como você só não arruma homem se não quiser... vai, boba, casa logo!!
E: #@$*&¨#%&¨#%¨#!!!
E saí da cozinha xingando... até a empregada dá palpite agora na minha vida sementimental... vê se eu vou falar das batatas dela?!
NA INTERNET
(no Skype)
Juh (era esse o nick da criatura): oi!!
Eu: oi
J: tudo bem? você é do Rio, né?
E: sou
J: Você é fã da Grazie?
E: ?!?! de quem?!
J: ah, você sabe, a Grazie do BBB!! Ela é famosa!!
E: BBB...?
J: é...rsss... então, o Big Brother Brasil!!!
E: ahhh... sei... sou fã não...
J: mas você sabe onde ela está hospedada??
E: eu?!
J: é!!! ela tá aí no Rio!! Você deve saber qual hotel ela está!!
E: olha, não tenho idéia.
J: poxa, você também é bem mau-humorada!! claro que deve saber, ela é famosa e deve ter um monte de gente na porta querendo ver ela!! qual o hotel que vai tá assim? só o que ela estiver!!
E: escuta, minha filha, onde vc mora?
J: Canfundó-dos-judas, em Santa Catarina
E: e quantos habitantes tem a sua cidade?
J: 40 mil!!
E: e quantos hotéis deve ter... assim, mais ou menos?
J: ahhh, não sei... uns 20, 30...ah sei lá!
E: minha querida, o Rio de Janeiro deve ter uns 10 milhões de habitantes e pelo menos uns 1000 hotéis!! como cacete vou saber onde essa mulher tá hospedada?!?!
J: mas ela é famosa!!!
E: ela é uma famosa quem?? aqui você vai caminhar na praia e encontra o Chico Buarque, vai tomar um chopp no Baixo e econtra o Rodrigo Santoro... famosa quem??
J: ahahahahahaha!! ahhh, tá bom... conta outra... que mulher maluca!! você é maluca sabia?? vai se tratar!!!
E: ....
Eu mereço mesmo... se acontece comigo só pode ser merecimento meu...
NO TJ
(tomando um café com o ex)
Ex: não sei como te deixam entrar aqui... que cara de suspeita...
Eu: de novo essa história?
Ex: se fosse eu não deixava nem passar no detector de metais... ia ter que ter revista completa...
Eu: qual é a implicância hoje?? não sei porque ainda venho aqui falar com você...
Ex: é que você tá cada dia pior...
Eu: ah tá!! e vc?? e vc??
Ex: ué, eu entro a hora que eu quero!
Eu: tua sorte é que você vem com etiqueta e certificado de garantia...
Ex: ...??
Eu: essa merda desse crachá pendurado no pescoço!! se tivesse feito pscicotécnico... sei não sei não...
Ex: certificado de garantia sim!! pior você que já passou da validade há muito tempo!!
E eu ainda me sujeito a isso... será que vale a pena, só pra tomar café de graça??
NA ANÁLISE
(no final da sessão)
Minha analista: acho que estamos tendo algum progresso
Eu: é...
MA: na última sessão vimos que você é controladora, manipuladora e bloqueada
E: foi
MA: nessa chegamos ao consenso de que você é derrotista e medrosa!!
E (com lágrimas nos olhos): unhum...
MA: viu como está tudo melhorando??
Cheguei em casa procurando uma tesourinha de unha, um prestobarba, um grampo de cabelo... qualquer coisa assim... porque com esse curriculum até uma tentativa de suicídio tem que ser assim, ridícula e fracassada...

domingo, maio 15, 2005

pedófila?!

Ontem à noite recebi um telefonema de uma amigo da Europa... acabamos ficando mais de meia hora conversando e relembrando coisas engraçadas, que geraram grandes risadas.
É uma história, no mínimo interessante. Nos conhecemos em um aniversário da mãe dele. Ela minha amiga queridíssima e colega de turma de faculdade. Ele, na época, apenas o filho de uma amiga que tinha voltado a morar com a mãe depois de uma longa estadia em outra cidade brasileira.
Mas eis que o filho se interessou pela amiga da mãe. Conversamos, paqueramos e acabou rolando um daqueles beijos de fim de festa, no balcão do sobrado eclético em que a comemoração acontecia.
A história teve desdobramentos... chegou a um convite para a amiga da mãe assistir a uns vídeos com o filho, a temporada de Friends, uns filmes do Monty Python, uma comédias interessantes. Mas onde seria isso?? Na casa da mãe, claro!!
O desfecho foi a mãe chegando mais cedo de um jantar, filho e amiga colocando roupas correndo, como dois adolescentes, fingindo estar assistindo calma e tranquilamente aos filmes em questão e risadas hilárias até hoje, por eu ter me sentido assim como uma pedófila. O detalhe é que o filho é mais velho do que eu. Dois anos.
Ficamos amigos, e o papo de ontem girava justamente na minha possível viagem à Europa no próximo mês. E a certeza absoluta que a mãe dele vai também e de que vamos acabar pegando o mesmo voô, em poltronas vizinhas. Porque mãe tem faro. Mãe sente o cheiro. Ainda mais se tem uma amiga de faculdade envolvida na história.

insensatez

A insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor
O seu amor
Um amor tão delicado
Ah, porque você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração quem nunca amou
Não merece ser amado

Vai meu coração ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração pede perdão
Perdão apaixonado
Vai porque quem não
Pede perdão
Não é nunca perdoado

Antonio Carlos Jobim

sábado, maio 14, 2005

nada demais... só eu mesmo

Falando de mim (como se fosse uma grande novidade falar de mim) estou passando por um momento de descobertas. Tenho pensado muito, sofrido outro bocado, chorado alguns rios.
A inércia em que me encontro tem sido desesperadora. Sei que sou capaz de grandes feitos, nunca me dispus a fazer algo sem fazê-lo bem, sempre tive algum reconhecimento e sucesso em tudo o que me meti. Mas minhas forças atuais me dizem o contrário. Que me falta competência, interesse, perseverança, capacidade. Meus pensamentos têm um foco único. O que está errado? Que forças paralizantes são essas?
Me sinto com ferramentas suficientes pra me dedicar a qualquer coisa que queira. Tenho uma gama de possibilidades infinitas. E isso, ao contrário do que pode parecer, me confunde e atrapalha mais. Não consigo escolher um caminho. Tenho sempre medo de fazer uma escolha, de tomar a decisão errada.
De alma limpa, deixando de lado a arrogância e prepotência, tenho visto que meu grande problema é a criatividade. Um amigo, há pouco tempo, disse que minhas dúvidas e incertezas são frutos justamente da minha inteligência. Segundo ele, eu penso demais.
Naquele momento, achei um absurdo tal afirmação, discutimos bravamente, mas fiz o que sempre faço: pensei a respeito. E cheguei à conclusão de que ele não estava de todo errado. Aliás, chegou próximo da realidade. A quantidade de idéias e pensamentos que me passam pela cabeça, a todo instante, é enorme. Sinto uma necessidade imperiosa de colocar isso tudo pra fora, criar sem parar. O veículo de criação, muitas vezes, não importa. Posso fotografar, desenhar, cantar, inventar uma brincadeira com Bia, me fantasiar, escrever... posso tudo. E criação realizada, tenho que passar à próxima antes que fique enfadada e entediada. Tenho alma de artista. Mas sou, na verdade, uma arteira. Não me dedico a uma arte, mas acabo fazendo arte de criança.
A vida me tem sido dura. Financeiramente, na vida familiar, na vida cotidiana e, o principal, sentimental e emocionalmente. Tem pelo menos dois anos que não sei o que é relaxar, receber um cafuné, não pensar na conta de amanhã. Isso tudo gerou um estresse tão grande, um cansaço tão profundo que sequei. Não tenho mais forças. Não consigo mais lidar com as burocracias da vida. Só tenho ânimo para o que me dá algum prazer. E esses, têm sido poucos. Têm sido justamente esses pequenos momentos em que o céu é o limite, que o ridículo é esquecido, que me solto das amarras, dos preconceitos e crio.
Sinto falta de amor, de criar no amor. Quero amar alguém e ser amada do jeito que sou. Assim, imperfeita, inconstante, criatividade saindo pelos poros. Alguém que possa compreender esse jeito, que nem eu mesmo entendo bem. Quero troca. Quero estímulo. Quero inteligência. E falo de sensibilidade, capacidade de análise e de intercâmbios emocionais. Não me refiro, de jeito nenhum, a conhecimentos adquiridos. Esses não são difíceis de se ter, basta-se saber ler um pouco, colecionar alguns livros. O difícil é saber usar, saber relacionar os conhecimentos com a vida, com a realidade.
Acho que, como sempre, me estendo além do necessário. Falava de mim e acabei migrando para um amor. Mas na verdade está tudo interligado. Está tudo dentro de mim, tudo pedindo pra ser revelado, exposto, falado. Quero é ser compreendida e aceita. Talvez por mim mesma. Talvez eu queira um companheiro de jornada, de criações. Um velho amigo novo. Um outro eu. Alguém em quem eu possa ver refletida a minha imagem. E com a minha dedicação, com o meu amor, eu possa compreender. E assim me compreender também.

divagações fisiológicas

Às vezes me pego pensando na falta de sentido de fazer tudo igual. Dormir, acordar, comer, cagar. Tudo mecânico. Tudo igual.
Já pensou que toda a população dorme quase ao mesmo tempo? Que temos um móvel específico em casa pra nos esticarmos e fecharmos os olhos por uma boa quantidade de horas? Ali, parados, fazendo nada, só cumprindo o que o corpo manda. Cumprindo a nossa obrigação fisiológica de dormir. Igual a todos os outros animais.
E comer? Preparamos a comida, nos deliciamos com almoços e jantares e tudo pode virar um acontecimento social. Mas, na verdade, poderíamos viver de ração. Uma ração balanceada, como fazemos com cães e gatos, onde ingeríssemos o combustível necessário pra continuar vivendo. Uma obrigação só.
As necessidades fisiológicas (defecar e urinar) mereceríam um capítulo à parte. Todo mundo caga, todo mundo mija, temos um ambiente dentro de casa pra fazer isso (olha que evolução, saímos do matinho!), mas sempre existe um pudor pra se falar no assunto... "eu vou ao toilete", "posso usar o seu banheiro?". Mas qual a diferença para os outros animais afinal? Nenhuma, fazemos tudo igualzinho e os felizardos (como eu) têm até horário certo! Como uma máquina, cronometrado.
Sei que essas reflexões provavelmente não vão me levar a nada. Vou continuar dormindo, comendo, cagando. Mas me fazem pensar que somos (ou sou) bastante arrogantes, nos sentindo assim seres pensantes, especiais. No fim das contas a vida é essa mesmo. Muito simples. Muito mecânica. Talvez complique justamente por termos um banheiro, por participarmos de almoços e jantares. E por termos uma boa e confortável cama pra dormir.

lavar louça todo dia... que agonia!!

ai ai... lavar louça acaba sendo um problemão quando se é tão sistemática. Imagina que minha maior preocupação, além da limpeza óbvia, é arrumar os pratos e copos adequadamente no escorredor. Isso engloba organizá-los por cor e tamanho. Esse é um dos motivos, que vai muito além da estética, de eu gostar de tudo igualzinho. Dá menos trabalho. Não preciso gastar tantos neurônios em uma tarefa tão corriqueira e banal.
Passei por essa experiência, há pouco, com pratos diferentes. Tinha pratos com folhas desenhadas e outros com detalhes azuis. Os pratos rasos eu arrumei com tranquilidade por tamanho. Os de folhas são maiores, ficam atrás. Até aí, ok. Mas os de sobremesa o tamanho era invertido. Os com detalhe azul eram maiores. Deusdocéu! O que fazer? Continuar na lógica de tamanho, mas quebrar o rítmo e a ordem anterior de folhas-azuis? Ou colocar os menores atrás, mantendo o sistema de cores originais mas subvertendo completamente a ordem correta de tamanho??
Isso, sinceramente, ocupou um boa parte do meu tempo. Acabei optando pela ordem dos tamanhos, depois de várias experiências e tentativas e de, inclusive, pedir a opinião de minha mãe. E você pensa que ela me chamou de maluca? Rá! Pelo contrário, discutiu seriamente as possibilidades comigo.
Acho que dá pra entender o porquê de eu ser assim.

sexta-feira, maio 13, 2005

meu querido diário..?!?!?

Ok. Já sei que esse blog tá foda. Já sei que é deprimente. Já sei que é uma merda. Mas lê quem quer.
Salvo uma ou duas pessoas que fazem a diferença, cago para o resto das opiniões.
E é assim, escrevo justamente quando tô mal. Quando tô bem vou caminhar na praia e beijar na boca.
Então, nem adianta esperar um monte de mensagenzinhas fofas e saltitantes, com gifs de coraçõezinhos pulando. Pro caralho com os corações. Não adianta que não vai ter mensagens de amor e de esperança de um mundo melhor. Nem politicamente corretas. Sou incorretíssima!
Sem querer me alongar, que não tô aqui nem pra desculpas e nem justificativas, não venha torrar o meu saco.

momento pensamentos absurdos

Se eu e Ana não tivéssemos ambas olhos azuis, teríamos nos tornado tão amigas?
*****
Não deveríamos colocar a pior roupa, o pior cabelo, a pior arrumação em um primeiro encontro? Assim mataríamos dois coelhos: testaríamos a veracidade dos sentimentos do parceiro em questão e evitaríamos cobranças sobre nossa aparência no futuro, do tipo "eu já era assim, ou pior quando vc me conheceu".
*****
A vida real deveria ter uma cartilha ou cartazes com emoticons. Poderia vender na papelaria ou jornaleiro. Facilitaria muito, pouparia trabalho e seria um mundo muito mais prático. Nada de dúvidas. Mesmo que se gritasse um pouco, mostraríamos um smile depois e, ahhh!!, agora entendi que não era tão sério!
*****
Um ex querer dar um balão na atual pra tentar sair com você é bastante estranho. Te mandar uma cantada, do tipo seus olhos são lindos, depois de 15 anos, é mais ainda. Mas o pior mesmo é você acreditar.
*****
Queria subir num camelo, galopar até a Pedra Bonita, me jogar lá de cima nas asas de uma joaninha, caindo de pára-quedas em um cruzeiro em alto mar rumo às Ilhas Caribenhas. Aí acordar, descobrir que tudo não passou de um sonho e que estou no meio do deserto do Saara, correndo deseperadamente, em cima de uma lhama, atrás de um tesouro de 300 mil anos, 300 mil moedas e 300 mil pérolas gregas, enterrado no pico do Himalaia.

quinta-feira, maio 12, 2005

nylon

Ando tão falsamente engraçadinha. Não a engraçadinha do meu poeta, menina sapeca e rodriguiana de algum subúrbio carioca. Não essa engraçadinha.
Falo engraçadinha de comediante americano. Daqueles que fazem piadas ininteligíveis ou sem graça. Ou os dois.
Por que falsamente? Porque não sou comediante, logo não sei contar e nem criar piadas, e muito menos americana, o que justificaria a total falta de graça nas minhas anedotas. Não tenho álibi nem pra ser insossa.
Acho que minha vocação (se é que tenho alguma vocação) é para o trágico mesmo. No máximo um tragicômico, dado o ridículo das situações de vida que me meto. Sempre estou envolvida em sentimentos baratos e, por isso mesmo, dilacerantes. Vivo emoções de plástico, cor-de-rosa vibrante, embrulhadas em papel laminado, cheirando a perfume doce de jasmins.
Nada mais trágico do que um coração sintético. Nada mais cômico do que o exagero de um amor desse mesmo coração.
Nada mais sintético e exagerado do que eu.

qualquer dia

Um dia teve cheiro de coisa boa.
Um dia teve clima de romance.
Um dia teve sentimento intenso.
Um dia teve beijo interminável.
Um dia teve risada de cumplicidade.
Um dia teve sorriso de ironia.
Um dia teve vontade não saciada.
Um dia teve palavra de crueldade.
Um dia teve lágrima de prazer e desespero.
Um dia teve grito de dor e de amor.
Um dia teve sol quente.
Um dia teve brilho ofuscante.
Um dia teve ilusão que cega.
Um dia acabou.

quarta-feira, maio 11, 2005

confusão

Se afinal a monogamia foi uma evolução da espécie, pressupõe-se que homens e mulheres deveriam ter parceiro único. Mas, em estudo dos espermatozóides sabe-se que isso não era verdade já que existe, até hoje, um sistema de combate para uma possível disputa entre essas células de homens diferentes.
Portanto as informações parecem contraditórias e pássíveis de algumas interpretações e perguntas:
1. A monogamia era só masculina? Ou seja, a mulher tinha uma espécie de harém e os homens eram seus escravos sexuais, ansiando por uma atenção e uma dileção especial? Tanto assim que até suas células se adaptaram a isso?
2. Ou a monogamia foi uma evolução pós espermatozóide-fecundador/espermatozóide-soldado? Os homens se rebelaram e resolveram só caçar se fossem o único a conceder os prazeres e genes à mulher? Mas, se assim foi, porque até hoje ainda existem esses tipos de célula?
3. Os árabes não fazem parte dessa escala evolutiva?
4. E exatamente quando os homens deixaram de desejar a perpetuação genética e a fugir dos possíveis casos de gravidez, fazendo-se hoje tão popular o teste de paternidade? Foi quando boa parte da população masculina virou jogador de futebol ou pagodeiro?
Estou seriamente desconfiada que cochilei em um momento crucial do documentário.

continuando...

Por informação obtida na mesma BBC de Londres, é sabido que em uma ejaculação existem dois tipos de espermatozóides: os que correm atrás do óvulo, para tentar fecundá-lo, e os espermatozóides-soldados, que estariam ali para eliminar possíveis espermatozóides estranhos(ou seja, de outro homem) e proteger os fecundadores.
Conclui-se, com isso, que as mulheres costumavam ter vários parceiros e essa era uma maneira de tentar garantir a fecundação e a transmissão dos genes do homem em questão. Além da provável disputa antes do "acasalamento", entre os homens, suas células continuavam (e continuam até hoje) a brigar pela posição titular.
A dúvida que permanece é em que ponto da história humana as mulheres trocaram de papéis com os homens, já que cultural e socialmente é muito mais aceitável um homem com várias parceiras do que uma mulher poligâmica.

monogamia X poligamia

Segundo documentário da BBC de Londres, a monogamia é, na verdade, um avanço evolutivo da espécie humana. Isso porque o bebê-homem é o único, entre todos os filhotes, que não tem a mínima chance de sobreviver sem os cuidados de um ser-humano adulto. Logo, a monogamia foi "instaurada" para que os dois, pai e mãe, cuidassem da cria juntos. Enquanto um caçava, por exemplo, o outro protegia o filhote. Isso impedia que o bebê ficasse sozinho, o que com certeza seria fatal.
Aos poligâmicos só resta a informação de que seu comportamento é totalmente primitivo, diminui bastante as chances de sobrevivência de uma família e, conseqüentemente, da sua perpetuação genética.

momento cantinho do pensar...

Quem não tem cão, caça com rato... que o gato já virou tamborim há muito tempo.

terça-feira, maio 10, 2005

em má companhia...

Parafraseando um amigo, essa história de estar só pra não estar mal-acompanhado já deu o que tinha que dar.
Mas ando desconfiada de uma coisa, dado o tempo de solidão, a falta de (sérios) candidatos ao cargo e a um processo de seleção que não termina nunca, tô achando, contra todas as minhas crenças anteriores, que a má companhia sou eu...

...e chegou!

Bem bem bem...
Explodi, afinal...
Falei pelos cotovelos, chorei e fiz chorar. Achei que não fosse agüentar. Pedi arrego, liguei pra amigos. Apelei pra amigo da net.
Mas agüentei sim. E tirei algumas teias de aranha que estavam enfeiando o sótão, ainda empoeirado, mas já com cara de arrumado, agora.
É, tô viva e muito mais do que estava antes. Num movimento catártico, me sinto renovada, purificada, de alma lavada. A alma ainda tá encardidinha, falta colocar no sol pra clarear, mas já tá limpinha.
Tomei algumas decisões. Poucas, mas importantes. Uma delas é, muito provavelmente, aceitar um trabalho novo, que milagrosamente bateu à minha porta. Renovar as vontades e os ares. E a grana também. Outra é deixar rolar. Não vou pensar no futuro por enquanto. Vou viver o presente, o agora mesmo. Sem demagogias, sem falsas esperanças, sem me enganar.
A última, e acho que a mais importante, é que decidi abrir o coraçõa: taí, vou me apaixonar. Tá bom, não sei nem quando, nem onde e nem por quem. Mas já é um bom caminho querer, assumir e se abrir.
Candidatos??
:-)

CHEGAAAAAAAA

Acho que vou explodir. É hoje que quebro tudo, jogo tudo pela janela, toco fogo na vida!
Não agüento mais a pressão. Não agüento mais me sentir enganada, traída, usurpada. Minha vida foi roubada, minha alegria também.
Não quero mais saber de ninguém, cuidar de nada, de família, de trabalho.
Cacete, que família eu tenho afinal? Uma porra de aglomeração de pessoas, juntas por conveniência, isso sim!!
Mas chega. Pra mim não tá sendo nada conveniente. Não vou cuidar de mais nada, mais ninguém.
Vou embora. Vou sumir. Vou fugir. Vou achar quem goste de mim. Vou servir cafezinho. Vou viver de miojo. Mas vou.

segunda-feira, maio 09, 2005

análise 2

Talvez o primeiro grande passo para a cura da loucura seja o reconhecimento da mesma. Essa é a minha esperança, senão não justificaria o sofrimento, a tortura de descobrir certas coisas.
Não me considero (ainda) complatamente louca. Mas já enxerguei um pouquinho dessa necessidade enorme de manter tudo sob controle. Ainda não sei bem porque preciso disso, mas ajo assim.
E é por isso, com certeza, que passo tantas e tantas horas na frente da internet, gastando tempo e energia em relacionamentos e amizades que muito provavelmente nunca passarão do virtual. Explicando, aqui nessa atmosfera controlada, meu poder de decisão, de manipulação é muito grande. Sei o que falar, sei como agir, sei catalogar os comportamentos das pessoas. E identifico muito bem a diferença entre uma conversa real de uma fantasiosa. São anos de prática, foram anos de estudo. E mesmo quando alguma surpresa ocorre, está dentro de um limite de possibilidades. Acabam não sendo tão surpresas assim. Quando as coisas começam a ultrapassar o virtual, os sentimenots passam a ser reais e as surpresas passam a ser realmente inesperadas... pimba!! bloqueio e pronto!
É claro que já tive algumas migrações de relação virtual para real, mas inevitavelmente sofri. E muito. O medo aumenta com isso... a necessidade de controle também.
Mas o "bloqueio" sempre vira contra mim. Quando bloqueio alguém, estou na verdade bloqueando meus sentimentos, travando qualquer possibilidade de evolução, de envolvimento, de crescimento... de relacionamento.
Existem excessões, mas são raríssimas. E são essas mesmas excessões que me dão medo, pavor até. Mas, como estou tentando, estou enxergando um cadinho a frente dos olhos, quero deixar fluir... quero não ter controle, quero ser surpreendida... só espero que a surpresa não seja a esperada: mais sofrimento.

análise

minha mãe: como foi a análise hoje?
eu: boa...
m.m.: mas falaram sobre o que?
eu: coisas...
m.m.: que coisas?
eu: algumas descobertas...
m.m.: mas tipo o que?
eu: bem... sou controladora, manipuladora e bloqueada.
m.m: ahhh...
eu: ...
m.m.: mas fora isso, tá tudo bem, né?!

dá vontade de xingar às vezes...

domingo, maio 08, 2005

mãe é mãe... e amiga, e companheira, e sócia...

Quase no fim do dia e só agora falo de mamãe...
Mas acho, às vezes, desnecessário falar certas coisas... é que estamos sempre tão juntas, tão amigas, tão íntimas, que já ultrapassamos de muito a relação de mãe e filha, que por si só, já não seria pouco.
Estamos em uma categoria acima: a de companheiras, cúmplices, confidentes. As melhores amigas, as que se conhecem melhor, as que se amam, se respeitam, se compreendem. E, olha que bom, ainda somos mãe e filha!
A minha gratidão é grande sim. Foi ela que me pariu, ela que me criou, ela que me ensinou tantas e tantas coisas. Pode ser até que o resultado não seja lá grandes coisas, mas tudo o que sou teve o dedinho dela por trás. E é graças a ela, em boa parte, que estou ainda aqui, viva, respirando e me mantendo em pé. Se não foi ela que me ajudou, me deu a mão no momento mais difícil da vida? Quando eu simplesmente achava que viver já não fazia mais sentido? E ela lá, durinha do meu lado. Enxugando minhas lágrimas, respeitando os meus limites, mas me empurrando pra cima. Agradeço muito por isso.
É uma das mulheres mais engraçadas que conheço. Virginiana total, de corpo e alma, de palavras irônicas, de distrações hilárias, de inteligência aguda e criatividade sem limites. Uma artista, doida, mulher, insegura, forte, temperamental, menina, maravilhosa...
Amo mesmo. E quero tudo de bom pra ela. Sempre.

ao meu querido amigo e poeta

Meu querido Edu, o Biba de 11 anos do Andaraí, meu pirata salteador de corações!!
Que saudades de nossas conversas à luz da lua, sobre o convés daquela caravela que conseguimos salvar do fogo, sob estrelas, com canções de fundo e discussões sobre Nelson Rodrigues, García Márquez e Kubrick!!
Peço aqui, publicamente, sob os olhares do mundo, perdão a você! Perdão por ter sumido. Perdão por ter te deixado no escuro. Perdão por nunca mais ter aberto portas de geladeiras e armários!
Você sabe, me entende, me dá permissão pra sumiços e desaparecimentos. Sempre entendeu aqueles silêncios só possíveis entre amigos queridos. Mas não me sinto justificada. Fui injusta sim com você!
Não quero mais te deixar nesses hiatos de informações, logo você, meu querido e temperamental capricorniano, que desde o princípio me compreendeu tanto, foi tão presente. Preciso sempre das nossas trocas, dos bate papos com pés em cima da mesa de centro, do bolo de fubá, de contar causos em volta da fogueira!
Me coloco à disposição com meu préstimos de designer de interiores para a tão falada decoração do Coelhão... e o único que peço em troca (se é que tenho o direito de pedir algo em troca) é uma taça de um bom vinho e aquele ombro amigo que só você sabe dar!
Um grande beijo, um carinho na cabeça e um sorriso.

despertando, será?

Ando me sentindo meio esquisitinha. Parece que estou despertando de uma longa hibernação.
Tenho sentido umas coisas assim estranhas, como se tivesse engolido umas mil borboletas vivas e elas ficassem voando barriga a dentro!
Um friozinho na espinha, mãos que suam, corção que dispara... ansiedade, vontade de sorrir, vontade de cantar...
Será que, finalmente, meus senitmentos começam a dar sinal de vida? Será que, contra todas as minhas crenças e expectativas, não estou tão seca e dura afinal? E ainda, será que consigo dominar o medo das borboletas, das ansiedades e dos sorrisos?
Sofrimento, tá intimamente ligado a tudo isso. Bem sei. Se não sinto nada, pouco sofro, mas ainda poderia me considerar viva?
Hummm... vou deixar de lado todas essas análises estéreis, todas as "premonições", essa mania de ser trágica em tudo!!
Vou viver bem isso... deixar as borboletas em paz, voarem livremente... o sentimento voando atrás delas...

a festa

Ando irritada. Sei que pra quem me conhece isso não é nenhuma novidade. Mas a minha tolerância anda baixa em todas as áreas da vida e atingiu agora a do divertimento, das relações sociais.
Tenho estado meio fechada, quase não tenho curtido badalações. Achava que a causa disso era uma possível necessidade de isolamento, vontade de ficar só, de me interiorizar um pouco mais. Mas tô achando, agora, é que eu tô é sem paciência mesmo. Tô chata, exigente, metida até.
Bem, isso tudo pra explicar a festa de ontem. Sabe aquelas festas onde tudo deveria ser perfeito? Onde dificilmente você teria algum minuto de tédio? Pois é, essa era uma dessas festas. Localizada numa linda casa no Alto Gávea (como alguém pode ter dinheiro pra viver num lugar tão tão carerérrimo assim???), com convidados descoladérrimos, designers, jornalistas, intelectuais, etc, etc, todos da minha faixa etária, todos bem moderninhos, todos antenados. Música interessante, moderninha e antenada. Muito álcool, alguma comidinha de festa, daquelas misturas descoladas de cachorro-quente a patê de fois-gras.
As conversas? Todas descoladas, moderninhas e antenadas. Eu tô fazendo não-se-o-quê. Viu o filme de não-sei-quem ? Ah a exposição de fulano-de-tal estava ótima!!!
A maneira de se vestir era bem homogênea, todos muito descolados e antenados. E moderninhos, claro. As mulheres de preto e sapatos estilosos. Os homens de jeans, uma camisa descolada e uma casual all star.
Tudo pra ser uma daquelas festas cariocas inesquecíveis, onde se é tão descolado e moderninho e antenado, que pode-se dançar de Beatles a Claudinho e Bochecha, com o mesmo interesse, o mesmo sorriso e a mesma atitude blasé de sempre. Mas acontece que foi um saco.
Tediosa, com pessoas que não têm o que dizer, todos usando aquele mesmo padrão descolado, moderninho e antenado, que desemboca numa arrogância de comportamento, numa elitização que dá nojo. Até porque a maioria "vive" socialmente é justamente da atitude, daquele ar blasé, do que parece ser e não do que na verdade se é e se sente. E o pior, é que treinam tanto esse "papel", que acabam acreditando que realmente são a nata descolada, moderninha e antenada. E que a verdade está com eles. Pobres dos outros mortais que fazem parte da grande massa. Mas nesse pacote de comportamento, existe também a complacência (falsa, claro), a aceitação social de que existem pessoas intelectualmente desfavorecidas e que devemos ser generosos e compreensivos com eles. Mas claro, nunca chamá-los para essas festas. Porque nessas festas especiais, só entram pessoas muito descoladas, antenadas e moderninhas.
Resumo da ópera: uma bebedeira memorável com uma ressaca dos diabos!

sexta-feira, maio 06, 2005

vontades

Começa com olhar, depois vem o desejo, em seguida o beijo... e que beijo!!
Aí, é o tesão que chega. O beijo continua, aumenta a intensidade. As mãos passeiam corpo afora e corpo adentro. As línguas brincam. Os lábios se esfregam, são mordidos.
As roupas são arrancadas, os corpos se encontram, as peles se conhecem, falam entre si.
Os cheiros se misturam, fortes e quentes. Os suores brotam dos esforços, da luta pelo prazer, da busca frenética, dos egoísmos e das generosidades...
Homem e mulher.
Homem que é homem.
Mulher que é mulher.
Homem que é mulher.
Mulher que é homem.
Homem-mulher.
E um desmaio.

quinta-feira, maio 05, 2005

trecho de conversa de um banheiro feminino

- Eu não vou colocar Fulano na mesma mesa do Sicrano...
-...
- Ia ser escroto, né? Não ia ficar escroto?
- ahan!
- Se eu não tivesse feliz, tudo bem. Mas eu até tô me sentindo feliz!!
- é...
- Pô, ainda mais que vai começar aquela obra lá... é até esquisito eu falar desse jeito, mas vai começar a obra!
- é mesmo...
- Vou segurar a onda...

aí o xixi acabou...

quarta-feira, maio 04, 2005

regurgitado

Homem objeto.
Homem petisco.
Verme titânico.
Bocarra apocalítica.
Presa pre-histórica.
Conquista metódica.
Confiança irracional.
Engano colossal.
Mergulho abissal.
Homem comida.
Homem bebida.
Fome saciada.
Osso quebrado.
Coração despedaçado.
Prazer usurpado.
Entranhas dilaceradas.
Bocas escancaradas.
Lágrimas revoltadas.
Mulher sorrindo.
Mulher digerindo.
Mulher partindo.

terça-feira, maio 03, 2005

desabafo

Por que cacete ele me ligou afinal? Será que aquela sintonia e conexão ainda, meu deus, depois de tanto tempo, perdura? Isso é irritante. Será que não me livro nem dessa telepatia irracional e absurda? Eu penso, xingo, falo, fico com raiva e pronto! Ele aparece. "Oi, tudo bem? Liguei pra saber como você está!" Pro caralho como estou! O que interessa afinal? Interessa que fudeu completamente a minha vida? Interessa que me deixou ainda gostando, ainda querendo, ainda sem entender? Mas sabe que estou sozinha... isso interessa e lhe dá prazer, sei disso. Esse prazer sádico, de posse.
E eu? Eu continuo aqui, sozinha, solitária, sentindo falta do amigo, sentindo o vazio enorme deixado por ele... me diz que sente o mesmo vazio, que não foi preenchido e nunca será por ela... ha ha ha... palavras vazias, isso sim!! E não me importa que esteja infeliz vivendo na sua vidinha de casadinho. Cago pra isso. Só não quero sua falsa comiseração. "Não chora, querida... você é a mulher mais maravilhosa que conheço e só hoje me dou conta do que perdi e nunca mais terei... você sempre foi de uma honestidade de princípios impressionante... nunca mudou de atitudes e de pensamentos, nunca usou de dois pesos e duas medidas... nunca me julgou..."
Julguei sim!!! E julgo agora: você acabou comigo! Com meu emocional, meus sentimentos, deixou meu coração em pedaços!! Não venha me exibir essa sua pseudo-felicidade burguesa, que me embrulha o estômago!
E sim, te gosto sim. Sinto falta da tua amizade. Mas não quero migalhas. Não quero compaixão. Não quero ouvir você dizer que está pronto pra me ajudar sempre, desde que não seja depois das sete da noite e nem durante os finais de semana. Eu sou sua amiga, sua companheira, sempre fui. Você deixou de ser há muito tempo. Muito antes de me deixar submersa nesse pântano sujo e malcheiroso de emoções baratas, encontradas somente nesses boleros medíocres dos antigos inferninhos da Lapa.