quarta-feira, maio 18, 2005

das dificuldades de locomoção ou de como minha vida parece uma kombi ou, ainda, das carências do transporte urbano

É assim, eu tenho e não tenho um carro. Ele é meu, é vermelho, pequeninho. Mas tá parado, numa garagem de uma oficina mecânica. E não é a primeira vez que isso acontece. Há alguns meses atrás, sofri um pequeno acidente de carro. Digo pequeno, porque (ainda bem) ninguém se machucou. Mas ele, o carrinho, ficou arrasado. Toda a lateral destruida, vidro quebrado. Uma lástima.
Dessa vez não foi acidente, mas um problema nos freios. A roda esquerda traseira travada. Não anda. E se andasse provavelmente não teria freio. Tá então parado. O grande problema é que meu carro é velho e importado. Logo, as peças são carerésimas e difíceis de encontrar. E, é óbvio, seguindo a imperiosa e onipresente Lei de Murphy, não encontro em canto nenhum o que precisa. Encomendas foram feitas. Prazo mínimo? 15 dias. E eu sem carro.
Faz tempo que eu não andava de ônibus e afins. Com a batida de carro (re) aprendi um pouco a arte de me locomover por esse mundão de Barra, Recreio e Jacarepaguá sem estar devidamente motorizada. Com essa nova parada, o curso está sendo finalizado. Lindamente, diga-se de passagem.
Temos (e eu nem sabia) um grande problema de falta de condução digna e eficiente nessa área. Você nunca sabe qual o ônibus que vai, qual o que volta, qual passa lá por trás do Barrashopping, qual vai pela praia.... enfim, um caos total para uma leiga criatura como eu. Outro grande entrave é que as distâncias são enormes e é basicamente impossível o ato humano de caminhar sobre duas pernas. Só dá sobre rodas. Duas ou quatro.
Hoje parti para uma aventura. Levar umas bijus para uma gerente querida e amiga de uma loja do já citado shopping. Levava bolsa? Pesada? Tava atrasada? Sim, para todas as perguntas anteriores. Eu e mami paradas no ponto de ônibus e passa o que? Uma kombi. Eu deixaria passar, mas mamãe tem mais anos de estrada e transporte coletivo e disse:
- vamos, filha!! essa é boa que deixa a gente em frente.
Fui. Apertado. Gente fedida. Correndo. E eu, rezando.
Cheguei já mau-humorada no shopping. Bom, tá legal, mau-humor meu não é novidade pra ninguém. Mas, tudo bem. Foi legal lá, vendemos, comemos torta (aliás, um cheese cake delicioso), rimos e relaxamos.
Mas, durou pouco esse momento de descontração. A volta foi pior. Mamãe (sempre ela) disse para pegármos outra kombi, dessas que fazem ponto no estacionamento. Disse que se sentia mais segura (??) do que pegando um ônibus. Eu, já sem forças pra nada, me deixei levar e obedeci. Sou uma filha obediente.
Sabe aqueles dois bancos que tem atrás na kombi? E que cabem 3 pessoas?? Eles colocam 4. Fui agarrada, abraçada, embolada com mamãe no primeiro banco. No de trás tinha um homem, uma mulher com uma criança no colo e uma mulher gorda. E entrou mais uma. Essa última reclamou do incômodo:
- nossa, tá apertado aqui. Nem dá pra encostar!!
A mulher gorda explicou:
- ah, é assim mesmo. Sempre tem que ter um sem encostar. Fica sempre assim. É um banco pra 4 pessoas sentarem. Mas só pra 3 encostarem.
Ao que a outra respondeu:
- mas tô pagando a passagem igual de quem encosta! Eu gosto de encostar também!
E continuou na kombi, mesmo indignada, mesmo sem encostar, mesmo pagando a passagem igual.
Me fez pensar. Cheguei em casa muda, refletindo sobre vida. Minha vida anda meio como uma kombi lotada. Tô sempre embolada com alguém, pago o preço, mas tô sempre sem encostar, sempre incômoda. Tenho que me dar por satisfeita de poder sentare usufruir a viagem. Que, se não é cômoda como no meu carrinho velho, é pelo menos útil. Cumpre seu papel.
Preciso é realmente consertar meu carro. E deixar essas kombis de lado. Pelo menos vou evitar de pensar nessas metáforas ridículas, comparando a minha vida a um banco fedido de um transporte coletivo. E alternativo ainda por cima.