sexta-feira, janeiro 26, 2007

pãozinho no forno


Então, pessoas, o negócio é que eu tô grávida. Assim. Pluft. Engravidei e tô vendo a barriga crescer, sentindo uns movimentos estranhos lá dentro, umas novidades que eu desconhecia. Desconhecia, mas intuía, claro.
Porém intuição não dá conta de colocar todas as nossas expectativas nos eixos, de explicar (e racionalizar) que sentimento estranho foi aquele ali na rua. Que chororô é esse que acontece se você vê um pombinho com cara de doente (logo eu que odeio pombos e sempre tive que controlar meus impulsos assasssinos de chutar todos os que vi pela frente vida afora). Intuição não explica, de maneira nenhuma, a sensação de abdução do início da gravidez. Eu sentia um alien dentro de mim. Aliás, tive certeza que minha cabeça tinha sido atarraxada em um novo corpo (vide Marte Ataca, dirigido pelo adorável e doido Tim Burton). Nunca, em toda a minha vida, senti tantos enjôos e incômodos de uma vez só. Vomitar ao menos uma vez por dia passou a ser normal e, por favor, não deixe de levar em conta que estou longe de ser bulímica. Muito esquisito.
Mas, eis que nos habituamos a tudo e, quando menos se espera, os enjôos, náuseas (e quantas náuseas...) meio que evaporam, desaparecem completamente. Você abre o olho de manhã, pronta pra correr pro banheiro (eu sei, eu sei, eu sou uma das sortudas que sempre conseguiu chegar ao banheiro antes da primeira náusea do dia) e, tchan tchan tchan, nada! Apenas uma ligeira e insuportável FOME. Isso, aliás, é digno de nota, como passamos repentinamente a ter um apetite devastador de estivador em fim de dia, depois de descarregar um navio inteiro de sacos de cimento. Impressionante e assustador. O resultado? 7 quilos a mais num piscar de olhos, a perda de todas as roupas minimamente legais do seu guarda-roupa e um puxão-de-orelhas da sua ginecologista/obstetra.
Falando na médica, essa é uma das inúmeras coisas que mudam também na vida. Ela deixa de ser ginecologista, aquela que cuidava de você e de todos os seus probleminhas femininos, para ser obstetra e passar a defender, como uma advogada de seriado americano, todas as necessidades e direitos de seu mais novo cliente, o bebê.
A gente acaba se sentindo uma portadora e uma guardiã nomeada por intervenção meio divina. Seus direitos acabam. Todos, mas absolutamente todos, passam a ter o direito inviolável e inquestionável de passar a mão na sua barriga e a dizer o que você deve comer, quanto deve ganhar de peso, se você está muito gorda, se você está muito magra. Se tem espinhas, é menina. Se os pelos do corpo estão crescendo muito rápido, é menino. Eu me pergunto, e se as duas coisas acontecerem ao mesmo tempo? Hermafrodita? Ai, ai, Deus me livre...
Enfim, como não bastassem tantas e tantas mudanças corporais e emocionais, a gente emburrece. Não consigo entender o porquê. Talvez já não compreenda justamente pela diminuição na velocidade e na qualidade dos pensamentos. Pode ser que o cérebro (isso é, obviamente, teoria minha) vá se liquefazendo em uma substância nutritiva ao feto e assim vamos diminuindo a capacidade de reflexão mês a mês, enquanto sua cria cresce robusta e feliz. Palavras são esquecidas, simples cálculos de aritmética são completamente ignorados, as coisas caem das mãos, datas são atropeladas. As únicas lembranças fortes e presentes são as relacionadas à gravidez e ao bebê. E isso já ocupa um tempo e um espaço enorme, claro. Vai da ulltrassonografia à última touquinha minúscula que você comprou para o seu rebento. As preocupações em relação ao parto, à amamentação, à recuperação, às trocas de fralda, aos primeiros banhos, à cicatrização do umbigo, etc, etc, etc, ocupam completamente o seu dia-a-dia. E, devo acrescentar, com um imenso prazer. Imaginar olhos, boquinha, narizinho, e todos os "inhos" que vão compor o corpinho do seu filhote, passa a ser o seu esporte predileto!
Bem, são imensas mudanças. Dor nas costas, pés e mãos inchados, peitos do tamanho de estádios de futebol, circunferência corporal aumentando em proporções quase geométricas, acessos de pânico em toda subida à balança... e um sentimento de plenitude, uma felicidade grande que faz chorar, uma sensação de produtividade, um amor pelo mundo, um tesão inimaginável, uma vontade de dizer "eu te amo", um orgulho da barriga crescendo, uma surpresa boa se mexendo lá dentro, a certeza de carregar uma verdadeira união entre você e o seu amor. Por tudo isso e pela possibilidade de ouvir um pimpolho te chamar de mãe, acho que vale a pena sim. E muito.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

sem explicação

É isso aí. A ausência não tem nem explicação e nem desculpa. E não pretendo inventar, mais uma vez, um blá blá blá qualquer pra tentar explicar o hiato. Não. Não tô afim. Tenho um pouco de dignidade. Um cadinho de vergonha na cara. Então é isso. Talvez (veja bem, eu disse TALVEZ) eu esteja voltando. Ponto final.

segunda-feira, agosto 28, 2006

du iu ispiqui inglishi?

E lá se vai um mês exatamente desde meu último post. Tô virando a maior preguiçosa da paróquia. Claro que Tomzinho vive me dizendo pra escrever, claro que assunto tem aí aos borbotões. É só andar com a antena ligada que a gente sai tropeçando em coisas "escrevíveis" em cada esquina.
Mas o problema é justamente um mal contato nas antenas. Tô cheia de interferências. Cheia de preocupações enviando ondas e mais ondas à minha central de criatividade literária. Não que o que eu faço seja propriamente literatura. Já sei disso. Mas falo não num sentido, digamos, literal, mas num sentido figurado, usando "literatura" no lugar de "escrita".
Enfim, acabo de passar, precisamente, 12 dias com Merlin, meu enteado de 14 anos, lindos olhos azuis, aparelhos nos dentes, amante inveterado de vídeo games e afins e que, para o meu desespero comunicativo, não fala uma palavra de português. Quer dizer, não falava. Agora fala "oi", "obrigado", "de nada", "desculpe", "filho da put...". Eu ensinei alguma coisinha pra ele não passar sufoco, né? Mas fora esse básico do básico, é encarar um inglês pesado, ligeiro, de New Jersey, um inglês de quem não tá ligando muito se tá sendo compreendido. E eu como a mulher do pai, a madrasta ou, com a tecla sap ligada, a stepmother, tinha que correr atrás do prejuízo, tinha que entender, tinha que me comunicar.
O que aconteceu de fato é que eu perdi a vergonha totalmente. Sabe aquele medo de pagar mico e trocar alhos por bugalhos? Foi pro saco. Sabe aquela sensação que vc é um ET e que vc fala numa língua initeligível, como "¢∂ß©ƒˆ ¨¥ƒˆ¶∑œƒ¨¥®∂ƒ ©ƒ∂¨¥†∑?" (tradução: quer almoçar?)? Esteve sempre presente. Mas assumi as antenas de marciana e continuei falando. Claro que teve horas de eu praticamente implorar pra ele repetir uma frase uma 25 vezes. E é claro que não adiantou, eu continuei sem entender, mas parei de pedir com medo de tomar uma dentada. Se fôsse eu, com certeza, já teria partido pra violência física lá pela pergunta de número 8... quanto mais 25!!
Falando dele especificamente, posso dizer que fui tratada com bastante benevolência e compreensão. Mais ainda do que eu poderia esperar de um menino dessa idade. Ele me ensinava as palavras, me corrigia quando tava errada (de 2 em 2 minutos, para ser mais precisa), me ouvia de olhos bem abertos (acho que era pra poder me ouvir melhor, ou talvez pra tentar adivinhar o que eu estava falando, ou ainda, pra descobrir que cacete de língua era esse em que eu balbuciava). Fizemos muita companhia um ao outro, rimos juntos, comemos sushi, falamos sobre séries de TV, filmes, video games, tiramos fotos de língua de fora. Enfim, foi tão bom que chorei um rio quando deixei ele no aeroporto.
E aí eu volto ao assunto do dia, "comunicação". A verdade é que nós dois tínhamos dificuldades em entender o que o outro estava falando. E era verdade também que precisávamos ficar muito tempo juntos sem o nosso tradutor oficial, atarefadíssimo, envolvido em um milhão de ensaios. E é claro que poderíamos ter nos rendido às dificuldades iniciais e nem termos nos dado ao trabalho de tentar nada. Mas tentamos sim. Mesmo tendo idades bem diferentes, mesmo sendo pessoas estranhas, nos conhecendo nessa overdose de presença um do outro, mesmo tendo assuntos e vidas tão diversas, acabamos amigos. Acabei ouvindo dele que eu sou "legal" ou "you're all right". E ele acabou sendo apertado num abraço, entrecortado de beijos, e escutando ao pé do ouvido que vou sentir muita falta dele. Segurando as lágrimas, claro.
Isso tudo pra dizer que falta de comunicação é falta de amor, de boa vontade entre as pessoas. Talvez seja por isso que me sinto tão estranha quando vejo Tom muito calado. Primeiro porque a natureza dele é a de uma mama italiana encerrada num corpanzil de americano, ou seja, ele fala e gesticula pelos cotovelos. Segundo porque sempre acho que a única razão para as pessoas não se comunicarem é a falta de vontade, de carinho. Com as barreiras do preconceito e das idéias pré-concebidas baixadas, a comunicação acontece naturalmente. E tive essa prova dentro de casa. Claro que eu nunca disse que é fácil. Isso não é não. Mas é compensador. Foi maravilhoso ganhar um amigo. Foi ótimo esse amigo ser filho do Tom, o meu alto do pódium em amizade. Assim, posso dizer que amigo é família, e que a minha família tá crescendo e ficando cada dia mais recheada de pessoas interessantes e diferentes. Cada dia mais bonita.

sexta-feira, julho 28, 2006

uma viagem à Lídice Brasileira

Era uma manhã clara e transparente de outono, aqui no Rio de Janeiro, quando acordamos naquele domingo, dia 30 de abril. Tínhamos já planejado, desde o dia anterior, uma pequena fuga para uma cidadezinha no meio das montanhas do estado, entre Angra dos Reis e Barra Mansa. A localidade foi “descoberta” através do hábito doido (mas muito útil) do meu Namorado Gringo de futucar mapas, seguir as rodovias e estradas de ferro, ver até onde vão os rios, qual a altitude do terreno, e assim por diante. Enfim, por intermédio dessa, digamos, mania, pudemos ver esse pequeno ponto do estado, a mais ou menos 600 m de altitude e a aproximadamente 40 km da Costa Verde, através de montanhas espetaculares. O nome do lugar? Lídice. Lídice Brasileira, sendo exata e utilizando nome e sobrenome.

A Lídice Brasileira nasceu em 1944. Na verdade o distrito foi re-batizado em 1944 com esse novo nome em homenagem à Lídice Tcheca, onde aconteceu um verdadeiro massacre durante a Segunda Guerra Mundial, onde 192 homens, 60 mulheres e 88 crianças, de origem judaica, foram brutalmente assassinados. Por isso vários países do mundo fizeram renascer Lídice em seus domínios e entre eles o Brasil (o que não deixa de ser surpreendente tanto pela rapidez com que foi criada, ainda no final da guerra, tanto pela enorme proximidade com a capital do nosso país, governado na época por Getúlio Vargas, um presidente notadamente fascista). Podemos ver no centro da cidade o Monumento à Fênix, uma homenagem ao povo de Lídice Tcheca e, com certeza, uma referência clara à necessidade de renascer, de refazer a vida, de perpetuar a memória.

Mas a a localidade original é bem mais antiga. Ela faz parte do município de Rio Claro e seu nome era Santo Antônio do Capivari. Pelas poucas construções originais que ainda podemos encontrar em alguns sítios e fazendas próximos e pelo tipo de calçamento utilizado nas estradas de acesso, é fácil constatar que o povoado tem vestígios de nascimento do período colonial, onde toda a região possivelmente era recheada de plantações de café. As vistas, porém, continuam muito pouco diferentes do que podemos imaginar que eram 300 anos atrás.

Saímos de casa por volta das 10:10 da manhã com destino à Rodoviária Novo Rio, pegando um daqueles ônibus conduzidos por psicopatas homicidas, que correm feito loucos e ameaçam capotar a cada esquina. É claro que, olhando por outro ponto de vista, você também não pode ser flor-que-se-cheire, tendo uma forte tendência suicida ou, no mínimo, masoquista pra conseguir suportar e não ter um ataque cardíaco durante o caminho. Mas, de qualquer modo, um motorista veloz e com síndrome-de-piloto-de-fórmula-um veio bem a calhar. Conseguimos chegar bem antes das 11:00 na rodoviária, dando tempo pra pegar o ônibus de 11:05 (R$25,00 a passagem) pra Angra dos Reis. E ainda escolhemos a poltrona que queríamos!!

Já sabíamos que existem alguns ônibus da empresa Costa Verde que partem do Rio direto pra Lídice, mas são poucos e o próximo que sairia teria sua partida somente às 18:00 o que nos daria a inacreditável espera de 7 horas!! Nem pensar, que em 7 horas se vivia uma vida e se aproveita um feriado inteiro!! Decidimos, então, embarcar para Angra em um ônibus da mesma empresa e de lá pegaríamos um ônibus local com destino a Rio Claro, que passaria obrigatoriamente pelo meio de Lídice.

O caminho pra Angra começa na Av. Brasil, que não tem nada de bonita e atraente sendo, no máximo, curiosa. A Av. Brasil segue atravessando toda a cidade, vários bairros da zona norte, alguns da zona oeste, além de cidades da baixada, até desembocar na estrada que nos leva a Angra, a Rio-Santos. Essa estrada segue ainda por uma baixada durante algum tempo, mas logo já se pode avistar o mar e aí passamos a contornar as encostas, semperteando a água o tempo todo. As vistas são espetaculares, de um lado o verde do mar, com suas ilhas, barcos, povoados espremidos entre pedras e areia. Do outro lado o verde da mata atlântica fresca, úmida e abundante que sobe pelas encostas e paredões de rocha.

Conheço bem a estrada, tendo já passado incontáveis vezes por lá, seja dirigindo ou de ônibus. Mas posso entender perfeitamente e compartilhar do mesmo entusiasmo do meu Namorado Gringo que só tinha estado por aquelas bandas numa viagem onde ida e volta foram, lamentavelmente, feitas à noite, tendo ele mesmo como motorista, o que diminuiu qualquer possibilidade de conhecer as maravilhas do caminho. Dessa vez, no entanto, podemos apreciar cada curvinha. E não são poucas. Como fala a música sobre “as curvas da estrada de Santos”, a estrada vai acompanhando a tipografia do terreno e isso nos dá uma estrada com uma sinuosidade feminina, com subidinhas e descidinhas, além de túneis gelados. Ir de ônibus tem a vantagem de não precisar se preocupar com a estrada, só com a paisagem e você está expressivamente mais alto do que dentro de um carro, o que te dá uma visão mais ampla. Além disso não precisa parar o carro pra ir ao banheiro e nem prestar atenção no monte de lombadas eletrônicas ao longo da estrada, principalmente dentro dos povoados que vamos cortando. Pra quem vai de carro é importante ficar atento a isso, porque os limites são incrivelmente baixos, de 40 ou 50 km por hora e é muito fácil passar acima disso, ganhando uma multa daquelas por excesso de velocidade. Uma boa pra quem pode parar, é dar uma conferida nas barraquinhas de beira de estrada que vendem, entre outros doces, uma cocada de dar água na boca. Pra tomar nota.

Com 2 horas e 20 minutos de viagem, chegamos na rodoviária de Angra. Imediatamente fomos ao guichê da empresa Costa Verde e pudemos saber o horário em que um novo ônibus sairia em direção a Rio Claro, passando por Lídice. Não se compram passagens antecipadas para lá porque se trata, na verdade, de um ônibus urbano, desses comuns, com roleta e cobrador. A passagem custa R$4,80 e vem acompanhada, inteiramente grátis, de um pacote de emoções: curvas, subidas, decidas, precipícios e alta velocidade. Ignorando o que nos esperava, com uma fome de dar dó, saímos em busca de alguma coisa honesta para comer antes da partida para Lídice. A tarefa não parecia muito fácil, já que a rodoviária fica fora do centro de Angra e não oferece opções de refeições, apenas uma lanchonete de poucos amigos e pouca variedade, indo do Fandangos à salsicha recheada banhada em óleo de fritura. Não, obrigado! Acabamos por encontrar, do outro lado da rua, dentro de um posto de combustíveis, uma lanchonete da rede MaxBurger. Deu pra comer hambúrgueres interessantes por bons preços (R$1,50 o refrigerante de 300ml e R$2,95 pelo cheeseburger).

Saimos da rodoviária por volta de 14:15 e, apesar do medo da morte que parecia iminente, o caminho de Angra a Lídice é simplesmente espetacular. Você é surpreendido, uma vez após outra, com paredões verticais e montanhas, que vão se descortinando ao fundo, de proporções enormes, dando a impressão de que sim, é possível ir até o céu sem morrer. Bem, isso era o que nós esperávamos, já que o nosso motorista sofria de uma síndrome parecida com a que acomete os motoristas de ônibus urbanos cariocas: direção totalmente ofensiva e desesperadora. A verdade é que numa estrada que acompanha o relevo de montanhas, as curvas são inevitáveis e incontáveis, além da proximidade a abismos ser um pouco maior do que uma pessoa minimamente cautelosa gostaria que fosse. Sendo assim, os sustos e medos são obrigatórios. Mas ao observarmos os moradores das redondezas, obviamente acostumados ao trajeto, viajando de forma tão tranqüila (alguns dormiam o sono dos justos, sem ao menos se dar ao trabalho de manter os olhos na estrada) fomos gradativamente nos acalmando e relaxando. Acidentes, com certeza, não são comuns.

Os aproximadamente 45 km de Angra a Lídice são percorridos em cerca de uma hora, passando por vários túneis gelados e escuros, minados de goteiras que brotam das pedras. Na chegada fomos "recepcionados" pela primeira pousada do povoado (Pousada Águas Claras - 55 24 3334 1377), bem na entrada de Lídice. Apesar de ser um povoado de pouco menos de 5 mil habitantes (entre urbanos e rurais), conhecer toda a redondeza a pé é uma tarefa árdua, que toma tempo, disposição e muita sola de sapato. Mas igualmente compensadora e extremamente prazerosa, com a descoberta de várias
fazendas, a estrada de ferro que liga Barra Mansa ao porto de Angra, cachoeiras de águas geladas e cristalinas e rios sinuosos, com corredeiras e quedas, ideais para a prática de rafting.

Como já haviamos feito uma pesquisa anterior e feito contato por telefone, optamos por nos hospedar na Pousada Recanto (55 24 3334 1103). A pousada, como quase todo o povoado é, está localizada numa pequena encosta, e teve a sua construção realizada em degraus, com vários chalézinhos morro acima. Ficamos com o chalé de nº 2, o que foi muito bom, já que nos dava uma linda vista de todo o vale sem termos que subir tantos degraus de escada a ponto de perder o fôlego. A pousada está longe de ser uma pousada de nível internacional, pecando justamente onde poderia ganhar muitos pontos: na familiaridade e improvisação. Sempre acho agradável a sensação de estar hospedada na casa de amigos. Desde que eu não esteja incomodando esses "amigos" e que tudo esteja muito bem arrumado, obrigada. Mas, por ser uma pousada familiar, onde quem cuida são os donos, o serviço é lento e meio difícil. O cuidado com o chalé também não é dos melhores, mas um telefonema resolveu tudo e toalhas foram trocadas, quarto varrido e a vida continuou fluindo feliz. O café da manhã, no dia seguinte, foi farto e bem servido, de sabores honestos e caseiros. Valeu a pena. E devidamente incluido na diária de R$ 60,00 (casal).

A verdade é que o povoado definitivamente não está icluído no circuito turístico do estado, tendo uma infraestrutura muito precária para atender visitantes. As pousadas são bastante simples (e baratas, claro, o que não deixa de ser um ponto positivo) e restaurantes são praticamente inexistentes. Você encontra padarias não muito bonitas, mas com produtos de boa qualidade, como pães de queijo e doces da região. Tudo a preços módicos. Demos a sorte, na noite de chegada, de encontrar o Parador Santana, um restaurantezinho muito aconchegante e charmoso, aberto por uma carioca que tem uma casa na região e que planeja abrir em breve uma boa pousada voltada para o ecoturismo. O restaurante fica localizado bem no centro de Lídice, em frente ao monumento à Fênix. Não tem erro. Lá pudemos desfrutar de uma boa refeição: sopa de abóbora (R$4,00), suco de pitanga (R$1,50) e "vovó gelada", uma sobremesa feita de bolo de chocolate e sorvete de nozes (R$2,50). Os 10% tradicionais de serviço não foram cobrados mas achamos justo e merecido pagar a gorjeta. O retaurante, no entanto, é o único do gênero e, provavelmente, o único que você vai conseguir pegar aberto à noite.

O dia 1º de maio amanheceu com um céu espetacularmente azul e limpo. A temperatura estava agradável e convidativa a caminhadas exploratórias. Depois de forrar nossos estômagos, com uma garrafinha de água no bolso, máquinas fotográficas e muita disposição, partimos para a estação de trem de Lídice, estação final do antigo trem turístico que partia de Angra, passando por dentro da mata atlântica e subindo as montanhas da região. Hoje não existem mais trens de passageiros. Os que passam por lá o fazem uma vez ao dia, carregados de minérios, fazendo o trajeto Angra - Barra Mansa - Angra. A pequeníssima quantidade de tráfego, faz da linha férrea um lugar tranqüilo para se caminhar e um óbvio convite à "aventura segura". Como não poderia deixar de ser, nos atiramos aos trilhos, subindo em direção a Rio Claro.

O que pudemos ver foram inúmeros morros e colinas, gado pastando equilibrado nas encostas, casebres à distância, pessoas caminhando depois da igreja, muito verde, e o rio correndo incansável, paralelo à linha do trem, ora largo e caldaloso, ora sereno e tranqüilo, murmurando entre pedras.

O caminho foi quase todo percorrido em grande paz. Mas sabíamos que o trem do dia ainda não tinha passado e ficamos durante um bom tempo com as orelhas em pé, tentando advinhar o momento certo de sair da estrada e abrir caminho para o comboio. Não foi necessário tanto cuidado. É simplesmente impossível ignorar o barulho da locomotiva, beirando o ensurdecedor à medida em que se aproxima, e foi fácil percebermos a sua chegada. Fácil e surpreendentemente assustador. Estando na beira da linha do trem, temos a sensação da chegada de um enorme dragão, barulhento, colocando fogo pelas ventas, pronto para te engolir. Nos encolhemos o máximo que pudemos e ficamos estupefatos, seres urbanos que somos, com a possibilidade de estar ali, com todo aquele verde, sem proibições, sem fronteiras, acenando ao maquinista, felizes de existir. Imperdível.

Resolvemos continuar caminhando em frente até a próxima estação ou à possibilidade de encontrar a rodovia. Assim poderíamos ter mais um bom tempo de explorações, além de podermos pegar um ônibus para retornar. A linha do trem continua encosta afora mas chega um momento em que tem que atravessa o rio. E isso é feito através de uma ponte, claro. Mas, o que eu não sabia ou nunca tinha parado pra pensar, é que pontes feitas para trens são muito diferentes das feitas para pessoas caminharem. Ou seja, não são inteiriças, sendo construídas de ripas espaçadas de madeira, o suficiente apenas para a colocação do trilho e dos dormentes. Você caminha e vai vendo o rio passando lá embaixo entre uma ripa e outra de madeira. E, segundo meu Namorado Gringo, essa pontezinha não passava disso mesmo, uma pontezinha inofensiva de pouco mais de dez passos. Mas pra mim, bem, pra mim essa ponte era a ponte do inferno que me levaria direto a uma morte inclemente, sendo tragada pelo rio que corria furiosamente por baixo dos meus pés. Inútil e dispensável dizer que entrei em pânico. NG teve que me dar a mão e eu, entre as lágrimas que brotavam espontaneamente, olhava pra ele (e só pra ele) em desespero, num pedido suplicante de "não me abandone!!". Enfim, assim consegui ultrapassar, entre alivio e satisfação, esse primeiro grande obstáculo do percurso. Mal sabia que o pior ainda estava por vir. Mais ou menos 40 minutos depois dessa primeira pontezinha eu encontrei o que era uma ponte de verdade, dessas pontes de filme, grande, com estrutura de metal e que, para meu total desespero, era muito mais alta e feita exatamente com o mesmo tipo de ripas de madeira. A verdade é que só não desisti e voltei porque eu já sabia da existência da primeira ponte, o que me deixava sem muitas escolhas. Cheguei a pensar em descer a encosta e atravessar o rio a nado, mas depois de uma avaliação um pouco mais racional da situação, achei que seria mais perigoso atravessar as correntezas de um rio que eu não conhecia e nem imaginava a profundidade, do que caminhar por sobre uma ponte construída para agüentar uma locomotiva. Segui adiante mas, meus amigos, medo não é racional e o pânico bateu sem pedir licença. E o trajeto, que poderia ser feito em um minutinho, demorou 10 vezes mais. Ou 100 vezes mais. Impossível dizer, aliás, já que perdi completamente a noção de tempo. A ponte nunca acabava e o tempo nunca passava. Mas, felizmente, acabou. E relaxei, caindo no pranto, sentada no trilho do trem, com o carinho e a paciência do meu Namorado Gringo que, independente do estado de petição de miséria em que eu me encontrava, adorou a ponte, o visual, o rio passando lá embaixo, a possibilidade de ver a água correndo por baixo dos seus pés, a beleza da costrução em madeira e ferro. Duas formas opostas de ver uma ponte: caminho para o inferno ou para o paraíso?

Bem, no meu caso o inferno foi o caminho e não o destino final. Esse foi deliciosamente compensador, tendo valido a pena até os desesperos momentâneos passados. Todo o passeio foi permeado por uma atmosfera de calma e paz, com céu cristalino e colinas de um verde tranqüilizador. Em companhia de um amigo canino feito pelo caminho, chegamos a uma estrada de terra que ligava a rodovia à uma localidade chamada Santana, cruzando a linha do trem. Ali nos despedimos da estrada de ferro, com um gostinho de quero mais, uma vontade de continuar caminhando indefinidamente pelos trilhos, de relaxar ao sabor da aventura sem se preocupar pra onde se está indo, mas com a certeza absoluta de chegar a algum lugar, pois o trem sempre vai pra algum lugar.

Chegando na estrada rodoviária paramos pra esperar o ônibus que iria de Rio Claro a Lídice. Mas um morador local nos ofereceu uma carona e os mais ou menos 7 km percorridos a pé pela linha do trem, em aproximadamente 3 horas, se transformaram em míseros 10 minutos de carro. O que não deixou de ser um alívio, depois de tantas emoções e de tanto sol na cabeça. Saltamos, entre sinceros agradecimentos, na padaria existente em frente à pousada, demos uma enganada no estômago e, após pegar nossa parca e enconômica bagagem na pousada, caminhamos até o centro de Lídice para pegar o ônibus de volta para Angra. A volta foi sonolenta e calorenta, mas com emoções tão fortes quanto a ida. Os motoristas devem passar por um mesmo processo de treinamento, que os ensina bem direitinho como assustar os incautos e desprevenidos passageiros.

Em Angra compramos nossas passagens, demos uma fugida ao MaxBurger novamente (em time que está ganhando não se mexe) e voltamos para o Rio, dessa vez em um ônibus sem ar condicionado. E, claro, depois de um final de semana prolongado, pegamos um bom de um engarrafamento na estrada. Mas nada que abalasse nossos humores. Nada que fizesse estragar nossas lembranças. Nada que apagasse nossos sorrisos de exploradores bem sucedidos, felizes e tranqüilos.

quarta-feira, julho 26, 2006

vai trabalhar vagabundo, vai trabalhar criatura, deus permite a todo mundo uma loucura

Eu costumava ser uma pessoa inteligente, de pensamento rápido e lógico. Dizem que inteligência não vai embora. Mas sinto como se não existisse mais. Tipo, tem mas acabou.
E assim as oportunidades existem sim, mas estão em falta. As que estão no mercado não são do meu número, do meu shape. Ou são largas demais, e fica faltando recheio de Deborah pra preencher todas as exigências pertinentes ao cargo, ou são muito apertadas, sobrando cérebro, capacidade e conhecimento meus para a posição almejada. Ou é muita areia pro meu caminhãozinho ou a areia sou eu pro caminhãzinho de alguém. Lastimável.

****


-Oi! É daí que tem um emprego legal para escritores amadores? é que eu escrevo, sabe?
-Ah, é daqui sim. Mas você escreve com letras grandes ou pequenas?
-Eu sou muito versátil, leio e escrevo com letras grandes e pequenas. De acordo com o necessário na hora do trabalho.
-Que pena, você parece muito competente no que faz. Mas essa oportunidade não é do seu número não. A gente não contrata pessoas que lêem e, principalmente, que escrevem com letras grande ou pequenas, só as que escrevem com letras ENORMES ou pequenininhas. Desculpe, resposta errada.
-Mas eu posso aprender, sabe...? tenho facilidade nesse negócio de aprender...
-Ah, também não trabalhamos com pessoas com facilidade de aprendizado. Sabe como é, você pode aprender mais do que o gerente... aí como é que ele vai te dar esporro, né? Além do mais pessoas com essas características precisam ganhar mais...
-Eu tô me contentando com o salário que for, eu juro. E, olha, eu aprendo a não aprender. Posso até emburrecer, se for necessário.
-Querida, não minta pra mim. Tô sendo sua amiga... já tá difícil você arranjar emprego com essa capacidade toda... meu conselho é que você não tente ser aquilo que não é e nem tente fazer coisas fora da sua capacidade. Fingir que é mais burra é uma coisa que definitivamente não vai dar pra você fazer!!

****

Tem uma dignidadezinha sobrando por aí??
Tem, mas acabô...

tem mas acabô

Fui no pagode
Acabô a comida
Acabô a bebida
Acabô a canja
Sobrô pra mim
O bagaço da laranja
Sobrô pra mim
O bagaço da laranja


Zeca Pagodinho, O Filósofo.

segunda-feira, julho 24, 2006

desvantagens do clube do assinante do o globo

Aqui em casa temos o hábito bem carioca, segundo recente pesquisa, de ler jornal todos os dias. Parece que o carioca é o brasileiro que mais lê jornal no país. E, como a grande maioria e por falta total de opções, lemos o Jornal O Globo. Às vezes damos uma namorada, mesmo que tímida e discreta, com o novo JB. Mas confesso ainda uma certa desconfiança nesse novo formato, principalmente quando lembro do JB da minha infância, de leitura obrigatória lá em casa, pelo menos aos domingos.
Bem, pra facilitar a vida de leitor diário, somos assinantes do O Globo. E, salvo um dia ou outro de dor de barriga do Globinho, nunca ficamos sem jornal e este sempre chega quentinho e embrulhadinho aqui no prédio. Mas ser assinante do Jornal O Globo envolve ainda uma série de vantagens do tal Clube do Assinante que, infelizmente, nunca usufruimos. Na verdade, apesar da assinatura já existir há mais de um ano e dos constantes telefonemas à central de atendimento, só recebemos nossos exclusivos e intransferíveis cartões de vantagens há pouquíssimos dias. Não deixou de ser uma vitória.
Mas a alegria durou pouco. Diria durou quase nada. Tomzinho, o assinante titular, pediu um cartão adicional pra mim, sua esposa de papel passado e sobrenome na identidade. O resultado de tantas exigências e informações pedidas foi, claro, um sururu na zona. Muito difícil enviar um cartão (imagina, demoraram mais de um ano!). Dois cartões, com nome e sobrenome?? Isso é algo que deixa cérebros menos favorecidos, no mínimo, confusos e com certeza exaustos!! O resultado foi o seguinte:

Só pra esclarecer os, digamos, desagradáveis "errinhos", o sobrenome do meu querido maridinho é Moore e não Noore. Mas é um erro passível de acontecer. Afinal sempre podem-se confundir alhos com bugalhos. Rifles de caçar rolinha com bifes de caçarolinha. Normalíssimo. Mas o que dizer do meu cartão? Se sou sua esposa, com mesmo sobrenome, o mínimo que esperávamos era um erro semelhante. Sra. Noore, ao invés de Moore. Porém acho que o recentimento tomou conta desse ser ignóbil que anotava o pedido e, não satisfeito em escrever meu nome com um acento terrível e sem meu "H" metido (Débora... irchhh... ao invés de Deborah), resolveu me jogar uma praga, um feitiço (toc toc toc, isola!!). Ou ainda, quis fazer um terrorismo psicológico. Ou pior, por total despreparo e burrice escreveu: Débora C. F. MORRE. (???!?!?) Será que por ser tão exigente e querer que nosso direitos de consumidor e cliente "especial" sejam respeitados eu mereço morrer?? E devidamente registrado em cartão?
Enfim, levei (mais ou menos) a coisa com bom humor. Afinal de contas não acredito mesmo em pragas e maldições (será mesmo que não acredito...?). Mas num país de crendices e supertições, eu bem que poderia processar o Jornal O Globo. Eu bem que poderia não querer ir mais ao Cristo com medo de seqüestros relâmpagos nas Paineiras. Eu bem que poderia ficar com medo da violência e de ser efetivamente assaltada no Rio. Eu bem que poderia ficar com medo de balas perdidas e ataques terroristas a ônibus (coisas que só acontecem em São Paulo agora). Eu bem que poderia ficar com medo de ser atropelada por um motorista bêbado homicida nas ruas da cidade. Mas como sou uma pessoa muito sensata e razoável, não tenho medo de nada disso e continuo vivendo por aí, me divertindo e amando a cidade.
Agora, é claro que vou ligar pra tal Central de Atendimento ao Cliente pra pedir um novo cartão que, apesar da tranqüilidade e das delícias da vida carioca, não convém facilitar com os deuses. No creo en las brujas, pero que hay hay.

sexta-feira, julho 14, 2006

baixinho-conhecimento

Tem dia e hora que não tenho a menor idéia do porquê ainda continuo fazendo análise. Basta um estressezinho financeiro e meu mundo vem abaixo, choro, me descabelo, penso em sumir do mapa, em morrer mesmo. Claro que não é morrer-morrer, mas um morrer-dormir talvez. Sair momentaneamente do ar para manutenção. Ou algo assim.
Tudo isso pra dizer que não sei se tô vendo resultados com o meu novo estágio, digamos, de auto-conhecimento. E o pior é que do alto dos meus 1.62 m, nem posso fazer trocadilhos com alto-conhecimento. Melhor seria com baixo-conhecimento, mas isso talvez me deixasse mais deprê e, literalmente, pra baixo ainda.

curry de frango

Ingredientes
1 pouco de frango, tipo de 400 g a 1 kg. Peito de preferência.
1 ou 2 cebolas grandes, picadas em pedações. Ou pedacinhos, como queira.
1 ou 2 tomates (não obrigatórios) picados de qualquer maneira, assim como as cebolas.
1 caixa grande de polpa de tomate.
Para frescos (como eu)
1 pitada de pimenta do reino.
2 colheres de chá de curry.
2 colheres de chá de cominho.
Para machos (como meu Gringo é e está querendo me transformar)
1 porrada de pimenta do reino.
1 tonelada de curry.
A mesma quantidade de cominho.
Sal (há controvérsias nesse quesito. Eu, particularmente, faço questão. Já Tom nunca coloca, só não sei ainda se por uma questão de estilo ou de esquecimento mesmo).
Modo de fazer
Coloque um pouco de óleo numa frigideira grande (pode ser numa panela também, mas é que aqui fazemos a coisa numa grande frigideira chique), refoque as cebolas, acrescente os tomates, os condimentos, o frango, a polpa de tomate e deixe cozinhar em fogo baixo por, pelo menos, duas horas, acrescentando um pouco d`água sempre que começar a dar uma pegadinha no fundo. O cheiro é delicioso e pode ser sentido, com facilidade, do corredor do prédio. Faça um arroz branco para acompanhar e delicie-se com o quitute!

Dica: nunca, repito, NUNCA mesmo, bata com o vidro de cominho (ou qualquer outro vidro) na lateral da panela de curry enquanto estiver cozinhando, sob pena de perda total do prato, da dignidade e da esperança em uma vida melhor. Mas, se tiver sido fundamental e inevitável, não entre em pânico antes de ter certeza ABSOLUTA que o vidro realmente quebrou dentro do prato em questão. Se você tiver provas suficientes e, frisando bem, incontestáveis, tudo bem, pode pirar. Caso contrário, pense bem, respire fundo, dê uma volta, não ligue (ainda) para sua mãe e (importantíssimo) faça a comparação minunciosa do vidro de cominho (ou qualquer outro vidro em questão) com outro vidro similar.

Importante: COAR MOLHO DE CURRY NO PANO-DE-PRATO FAZ MAL À SAÚDE MENTAL.

quinta-feira, julho 13, 2006

falando de pano-de-prato

O pano-de-prato do post anterior ficou irremediavelmente manchado. Irrecuperável.
Usando de toda a criatividade que me é de direito, resolvi fazer uma experiência e coloquei o dito cujo numa bacia com água fervendo e umas três colherinhas de açafrão (açafrão nacional, claro, que com o preço do importado eu compraria uns 15 panos-de-prato e jogaria esse fora).
O resultado foi um pano-de-prato inteiramente amarelo agora. Não que tenha ficado lindo, mas minimizei os efeitos visuais das manchas, descobri um amarelo bastante, digamos, apetitoso além de ter me divertido bastante.
Meu próximo passo será tingir com beterraba. Não percam os próximos capítulos.

quarta-feira, julho 12, 2006

de panelas, vidros (inexistentes ou não), curry e panos-de-prato

Meu querido maridinho anda ensaiando feito louco. Esse mês de julho é o mês de ensaios e concertos. O que é muito bom, claro. Cachês são super-benvindos. E fazer concertos sempre é bom. Enfim, sendo assim, eu espero por ele ansiosamente durante à noite, que é quando a gente senta à mesa, janta juntos, fala mal dos outros, combina a vida.

Como boa, dedicada e amorosa esposa, resolvi ir pra cozinha preparar um incrível e fabuloso Curry de Frango (receita no próximo post). Piquei temperos, temperei o frango, refoguei. Adicionei condimentos e condimentos. Até que chegou a vez do (bendito) cominho em pó. Fica num vidrinho, junto com outros tantos condimentos. Mas tinha bem pouquinho e eu, num misto de pressa e ingenuidade, dei duas batidinhas com o vidro na beirada da panela. Na segunda batida eu ouvi algo como um crash, algo como um barulho fora do comum, algo que não era pra ter acontecido. Em frações de segundo eu saquei tudo: a porra do vidro tinha quebrado, caiu um pedaço dentro da panela. Um daqueles pedaços minúsculos que não dá pra ver mas que fazem um estrago terrível em línguas e vísceras de quem come. Pra confirmar o que meu cérebro já dera como certo, passei o dedo pela rosca do vidro e notei uma reetrância, algo como um lascadinho, algo que, segundo minha cabeça afirmava indiscutivelmente, não era pra estar ali. O pior é que o frango estava praticamente pronto, delicioso, cheirava super bem e eu não tinha mais frango nem cebolas em casa. Preparar outro estava completamente fora de questão. Além disso, a hora de Tom chegar se aproximava e eu sabia que seria infernizada para o resto da minha vida por causa disso. A sacanagem seria insuportável e inevitável. E a fome, confesso, era grande e não seria facilmente aplacada por um mísero biscoitinho.

Pensei bastante e tomei a atitude mais acertada para o momento emergencial: liguei pra mamãe. Em pânico, claro. Ela atendeu, mandou eu respirar fundo, falou pausadamente, me disse o que eu deveria fazer e eu, no desespero das horas e na certeza absoluta de que não conseguiria tirar o vidro e mataria meu marido com um pedaço de vidro minúsculo entalado em suas entranhas, falava alto, gesticulava com o telefone, dizia pra ela me passar as instruções logo, pulando as "introduções" e os "modos de fazer". Bem, depois de alguns desencontros e desentendimentos em volume, digamos, um pouco alto, conseguimos nos entender e ela me deu a idéia de coar todo o molho num pano-de-prato (limpo, claro). Depois lavar o frango coado, pedaço por pedaço, pra tirar o pedaço infâme de vidro que tinha acabado com meu jantar. Bem, tinha tentado acabar, porque eu, contra todo senso comum e óbvio, não me deixaria vencer tão facilmente, não jogaria o meu espetacular frango lata de lixo a fora.

E assim comecei num processo altamente estressante e cuidadoso de salvamento. Iniciei o passo a passo de "coagem de molho em pano-de-prato limpo". Que deixou de ser limpo e branco num segundo, claro, passando a incríveis tonalidades de vermelho-molho-de-tomate, laranja-curry e amarelo-açafrão. A cozinha, de armários, fogão, geladeira e piso brancos, também passou por uma rápida e aparentemente irreversível redecoração, com pintas e manchas em todo o ambiente (incluindo, e não me pergunte como e porquê, o teto). As minhas unhas ficaram amarelas e com um delicioso (delicioso??) aroma de curry que, descobri mais tarde, ficaria fixo por vários dias. A louça lavada e inadvertidamente deixada no escorredor, ficou completamente respingada e teve destino obrigatório pia adentro. Enfim, espremi, espremi, espremi o pano-de-prato, e consegui um líquido ainda perfumado e completamente livre de vidros do outro lado. Tinha chegado a hora crucial de lavar o frango (que estava ainda todo dentro do pano-de-prato) e descartar as cebolas em pedaços, muito transparentes e parecidas com o vidro em questão. Mas, para meu desespero total, quando abro o pano-de-prato encontro uma massaroca disforme de frango meio desfiado, meio massacrado, numa paçoca grudenta e impossível de separar das cebolas. Encontrar algum vidro ali, seria impossível e, diria mesmo, um ato de alta periculosidade.

Nesse ponto eu já tinha voltado quase ao meu estado de desespero incial. Olhei para paredes, chão, pano-de-prato, mãos, tudo com as marcas da batalha. A panela com o caldo dentro, resultado de tão ferrenha luta. E o frango inutilizado. Era hora de saber que perdi? Era hora de desistir de tudo e ligar pro Mister Pizza? Fiquei nessas divagações durante alguns instantes e, entre um pensamento e outro, abri portas de geladeira e freezer. E eis que encontro um pacote de 4 bifes congelados de contra-filé. A inspiração foi imediata e podia-se ver estampado em meu rosto um enorme sorriso de felicidade. Eu não seria abatida tão facilmente. Tirei imediatamente a carne congelada do freezer, coloquei numa vazilha com água (eu não tenho microondas e precisava apressar o processo de descongelamento, mesmo que parcial) e joguei, triunfante, todo o frango na lata de lixo. Me servi de uma taça de vinho branco, porque afinal de contas eu merecia, e parti para a finalização do jantar.

Piquei o bife ainda meio congelado, já que não dava pra esperar mais tempo, dei uma leve temperada com pimentas e sal, joguei na frigideira e deixei dorar bem. Depois tasquei o molho de curry por cima e, voilà!, tinha o prato principal do jantar pronto. Um arrozinho branco para acompanhar e minha vida havia sido salva.

Quando meu digníssimo consorte chegou em casa, nariz para o alto, farejando os aromas espalhados por todos os cômodos, me perguntou logo:
- hummm, que cheiro bom!! É curry de frango??
Eu, meio sem graça, meio sem saber se contava a verdade, meio sem conseguir esconder, respondi:
- mais ou menos...
- ué, mais ou menos como?
- bem, é curry, mas é mais ou menos de frango...
- ??? você usou só o FRAN e deixou o GO pro próximo jantar?
- não... é que eu fui temperar, quebrou um vidro dentro, eu coei, joguei o frango fora, coloquei uma carne e terminei assim um jantar maravilhoso e sofrido pra você!!
- como é que é? me conta essa história direitinho...
E contei, tintim por tintim, tudo o que tinha acontecido, as brigas com o frango, o desespero das vísceras sangrando, a idéia iluminada do bife entrando como substituto. Ele me olhando entre incrédulo e preocupado, solidário e compreensivo. Depois de tudo dito e explicado, eu já beirando as lágrimas de culpa e de vergonha, dizendo a ele que ele não precisava comer, bla bla bla, ele me pede:
- sweetie, me mostra o vidrinho que quebrou?
eu:
- claro!
E entreguei triunfante o vidrinho, vazio, de cominho na mão dele. Estava ali o vilão da minha história, o culpado por tanto sofrimento. Ele, vidrinho na mão, dedo em riste, pergunta mais uma vez:
- onde foi que quebrou?
Eu passei o dedo pela rosca do vidro mais uma vez e lá estava a reetrância, no mesmo lugar. Eu mostrei, num misto de euforia e ataque nervoso:
- tá aqui!! aqui, ó! passa o dedo!!
Ele:
- mas sweetie, isso tá me parecendo normal...
- NÃOOOOOOO, não é normal não!!! tá quebrado!! essa entradinha não era pra tá aí!!
Ele, paciente, mas tão teimoso quanto eu:
- vamos ver outro igual pra saber se está diferente?
Eu, desafiadora:
- agora!!
Abrimos outro vidro, tiramos a tampinha e, tchan tchan tchan..., a rosca era exatamente, milimetricamente, absurdamente, idêntica à do vidrinho de cominho. A reentrância, detectada pelo meu cérebro neurótico e fatalista, era exatamente igual ao do outro vidro e estava onde deveria sempre ter estado. Sabe por que? Porque nunca, em momento algum, em hora nenhuma da vida o vidro se quebrou. Tudo não passou de uma auto-sugestão que eu engoli com uma voracidade impressionante. Todo o trabalho em vão. Tudo jogado fora.

Comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo. De qualquer modo eu fiquei muiiiiito aliviada de não ter jogado vidro moído de verdade dentro da comida. Diminui muiiito minha culpa. E ora bolas, se fiz tudo o que fiz, foi para proteger a minha família!! A mim e a meu querido maridinho!! Esse, aliás, ria de se acabar, disse que a história já tinha se trasnformado em uma lenda familiar, me fez ligar, mais uma vez pra minha mãe e decretou, com ar de brincadeira:
- você, de agora em diante, não fica mais sozinha em casa, tá? e se ficar, nada de ir pra cozinha, sim?? é para seu próprio bem...

Hummm, primeiro que desconfio seriamente de que o decreto não tenha sido tão na brincadeira e tão inocente assim... Segundo que a preocupação dele acho que não é comigo não, mas sim com o pescoço dele. Com uma mulher assim vai que na próxima, ao invés de curry até no teto, ele não encontre é teto nenhum, com a casa tendo ido todinha pelos ares!!

de faxineiras

Em se tratando de faxineiras, cheguei à seguinte conclusão: ao invés de pagar alguém pra não limpar a casa, prefiro não pagar ninguém e eu mesmo não limpo.
A casa continua totalmente suja. Eu não me canso. O dinheiro continua no bolso.

Prático e econômico.

sábado, julho 01, 2006

copa... que copa mesmo?

Hoje não tem post. O Brasil foi eliminado da Copa, nas quartas de final, num jogo roubado contra a França, nossa conhecida carrasca de outras copas... além disso não poderemos mais sacanear os argentinos, tarefa tão agradável para todos os torcedores brasileiros. Alegria de pobre dura pouco mesmo. A nossa durou um diazinho só, desde a eliminação de nossos hermanitos até a nossa própria eliminação. A decisão vai ficar entre europeus que fizeram a nós, latino-americanos metidos a besta, dançar bonito.
Aqui um bom sambinha de raiz, na Argentina um trágico e dramático tango.