sexta-feira, maio 27, 2005

negro

Parece que alguém morreu. Parece que você morreu. Que eu morri.
Ao som de Bach, choro essa morte. E minhas próprias lágrimas me emocionam. Sufoco com o choro preso, acumulado. Choro de tantos anos, tantas dores, tantas mágoas.
Afogo os ressentimentos. Tento limpar o coração. Limpo as feridas com o sal das lágrimas e sinto arder. Sinto a cicatrização lenta e difícil. Tenho medo de não fechar nunca, nunca, nunca...
Alguma coisa tá acabando. Tá morrendo. Tá suspirando. Quem morre? É a mulher seca, fria racional? Ou aquela, tão bem escondida, de emoções fortes, transbordantes, coração intenso, romântica incurável...? Aquela que sabe amar? A que sabe doar, dar, entregar, cultivar, apaixonar?
Tenho violinos dentro de mim, num vai e vem barroco de sentimentos antagônicos. Culpa e redenção. Amor e ódio. Dar e tomar. Viver e morrer.
Parece que alguém morreu. Que você morreu. Que eu morri.
Choro e nem sei por quem. Sinto saudades de algo que nunca vi. De um lugar que nunca estive. Sinto falta dos sentimentos bons, da vida, do sol, do mar, do cheiro quente da cozinha da minha avó. Lembro quando violinos eram bons.
Eu só me pergunto porque. Quero a causa não o efeito. As conseqüências estão aqui, conheço todas. Mas têm ar de castigo, de pena, de purgação. As vozes de um coral religioso ecoam na cabeça. É belo e assustador.
Parece que alguém morreu. Que você morreu. Que eu morri.
Estou de luto. Visto negro. Véu no rosto e lágrimas nos olhos. Quanto tempo resta? Quanto mais dura o luto? Sonho com o dia do vermelho. O dia do batom. O dia dos cabelos soltos e da roupa fresca. O dia de Villa Lobos. O dia de voltar a viver.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Fica assim não... :)

10:30 AM  

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