segunda-feira, maio 23, 2005

...e qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d'água...

As coisas estão ficando sérias. Ou talvez agora é que estejam melhorando. Ainda não dá pra saber bem. Mas até que tem surtido algum efeito aturar alguém metendo o bedelho na minha vida, esmiuçando meus sentimentos.
A verdade é que começo a ligar os pontos. A entender o eterno sentimento de apreensão, de perigo e de insegurança. A ver como tenho guardado a sete chaves sentimentos considerados tão feios por mim, transformados ao longo dos anos em um verdadeiro monstro interno, uma bomba prestes a explodir.
Carrego um campo minado, mantenho sob controle uma área de alto risco, onde ninguém tem autorização pra entrar. Nem eu tenho. Mas só eu sei ou imagino o perigo. Esse sentimento que algo cataclísmico vai acontecer me persegue desde muito nova. Oito, nove anos talvez. Os sonhos com guerras, com muito fogo e explosões, bombas atômicas, tudo isso já vem dessa época. E, de acordo com minha natureza dramática e trágica, sempre foram encarados como quase premonitórios, aumentando a insegurança. Na verdade eram sinais de que algo estava ali, pronto pra aflorar a qualquer momento. Mas como tinham (e têm ainda) para mim o efeito devastador de milhares de megatons, eu simplesmente não podia deixar virem à tona. A todo custo, tive que manter tudo sob vigilância cerrada. E faço isso até hoje.
Daí vêm as noites de insônia, a crescente sistematização de tudo, o pavor de mudanças, já que geram necessidade de readaptação e reaprendizagem da manutenção da ordem, a inércia e apatia (sempre na expectiativa de algum acontecimento apocalíptico) e o medo atroz de me apaixonar. Paixão significa entrega, falta de racionalidade e total perda de controle. E perda de controle está ligada a explosão que está ligada a fogo e a muito sofrimento.
Bem, falta descobrir que sentimento é esse, que campo minado tão grande e assutador afinal de contas se encontra escondido em minhas entranhas. Já sei que esse tipo de associação a guerras e bombas tem muito a ver com raiva, muita raiva. Ou a querer muito alguém. E é claro, pode muito bem se tratar das duas coisas, já que querer muito alguém e não ter, pode gerar uma raiva viceral. Eu acho que tá tudo realmente liagado à raiva. Raiva que nunca expresso de acordo. Que sempre, com medo da perda do controle, abafo, afogo. Nunca brigo e se brigo, peço desculpas. Sou capaz de, muito friamente, nunca mais falar com uma pessoa. Mas sou incapaz de berrar-lhe palavras mais duras, por mais magoada que eu possa estar. Sinto sempre uma necessidade funda de gritar alto, mas o grito tá sempre preso, estrangulado. Amordaçado.
Quantas pessoas passaram na minha vida e nem se deram conta do estrago que fizeram. Mas a culpa não é delas. A responsabilidade é minha. Eu não disse, não falei. Fiquei esperando, impávida, pela "descoberta", como se fosse uma obrigação saberem. Não é.
Começo, timidamente a limpar a área. Quero não ter medo do desconhecido. Preciso, como todos na vida, amar, ser amada. Viver as tristezas e as alegrias. Deixar de lado essa bolha sintética, essa atmosfera artificial em que tenho vivido há tanto tempo que nem sei se conheço o ar real. Soltar as amarras, atadas e cosidas por mim. Criar asas e borboletear de verdade.