quinta-feira, abril 28, 2005

verbos de uma quinta-feira

Falar. Correr. Pagar. Fazer. Arrumar. Decorar.
Falar. Esperar. Estrear. Vender? Ganhar?
Falar. Comprar. Assistir. Ansiar. Conhecer. Apreciar?
Falar. Sorrir. Reparar. Analisar? Criticar?
Falar. Ver. Brilhar. Gostar? Beijar?
Falar. Ouvir. Pensar. Trocar. Saciar?
Falar. Sonhar. Reconhecer. Realizar. Relaxar...

segunda-feira, abril 25, 2005

vivendo...

O corpo tá cansado. A cabeça também. Conseqüência de tantas e tantas noites mal dormidas, dos amores mal vividos, da família mal resolvida.
Mas hoje é um dia bom. Cuidei do corpo e da mente. Suei e falei. E descobri coisas muito interessantes: descobri que o corpo responde aos cuidados, descobri que minha analista não meio odeia afinal, descobri que tudo tá misturado sim, mas que dá pra separar. Descobri que sofro por coisas que realmnete não valem a pena, não me dizem respeito. Descobri, aliás, redescobri como eu gosto de viver!
E viver não tem a ver com pessoas. Não tem a ver com festas. Não tem a ver com divertimento gratuito e vazio. Tem a ver com autenticidade, com liberdade, com alegria, com o presente. Tem a ver com a verdade. Com a minha verdade interna.
Quero ser inteira, quero me amar por inteiro, quero viver inteiramente essa vida... ruim, boa, triste, alegre, solitária, recheada de amor... é a minha vida. Só minha. E de mais ninguém. E um dia acaba. Não quero deixar pra depois.

domingo, abril 24, 2005

no quarto...

ele : - vem cá... queria te perguntar uma coisa...
ela : - ai, deus, o que?! você tá com uma cara...
ele: - fica tranquila...
ela: - fala logo que já estou curiosa!!
ele: - bem, é... assim, você...
ela : - qua agonia!!! fala logo!!
ele : - tá!! você me interrompe! sempre faz isso!
ela : - é que você sempre demora a falar... dá nervoso!!
ele: - tá bom tá bom! deixa eu falar!! é o seguinte, você me trai?
ela : - o que?!!?
ele : - isso que você ouviu... você me trai? você tem um amante?
ela: - por que isso agora?! depois de tanto tempo vai passar a ter ciúmes?!
ele: - você tá diferente... sabe disso... sai cedo, chega tarde... e...bem, um mês já que nada!
ela: - sabia que você ia falar sobre isso!! e não tem um mês!! vocês homens são todos iguais, não dá pra ser mais compreensivo?!
ele: - mais compreensivo?! e você tem razão, não tem um mês, tem quase dois!!
ela: - deixa de ser exagerado!! sempre aumenta tudo!! igual naquela vez que disse que estávamos arruinados... só porque entramos 10 reais no cheque especial!!
ele: - não muda de assunto não!! a última vez, você lembra qual foi? hein? hein? pois eu lembro!!!! foi no dia do aniversário da Martinha, que você bebeu um pouco de vinho e chegou aqui mais animadinha... assim mesmo foi daquele jeito...
ela: - que jeito? que jeito?! agora quero que fale!!
ele: - ah, daquele, né?! não bota a mão aqui... assim você sabe que não ando curtindo... pô, faz devagar... você sabe que jeito!!
ela: - mas, caraca!! você já não sabe que eu tô passando por um momento difícil?! não dá pra entender não? como é que vou ter tesão assim, com você me criticando e me acusando tanto?!
ele: - e eu?!! não conto?? você acha que pra mim é fácil? é um momento difícil pra mim também... ou você acha que dois meses sem sexo é legal? dá pra me entender??
ela: - eu eu eu!!! você só pensa em você! só olha pro seu umbigo!! só pensa em satisfazer esses desejos... que podem ser satisfeitos por qualquer uma...
ele: - ah!! você tá me mandando procurar outra na rua, é isso?!?!
ela: - já vem você deturpando tudo o que eu digo!! claro que não falei isso... o que tô dizendo é que você está com um tesão assim aleatório... não é um tesão por mim especificamente...
ele: - tesão aleatório... essa é boa agora...rá rá rá!
ela: - você entendeu o que eu quis dizer... não se faça de bobo!
ele: - é, realmente não sou bobo... me responde logo a porra da pergunta: você tem ou não tem um amante?
ela: - ah, não!!! era só o que faltava!! já não ficou claro?? me recuso a falar sobre isso!!
ele: - mas...
ela: - nem mais nem menos... acabou!! nem mais uma palavra sobre esse assunto!!!
ele: - mas você não repondeu...
ela: -olha, qual parte você não entendeu?!
ele: - ué, muitas coisas... na verdade você não disse nada!!
ela: - eu mereço mesmo, por dedicar minha vida a você, trabalhar tanto, te dar força em tudo!! aí fica você me pressionando!!
ele: - mas eu tenho o direito, não tenho?! de querer saber?!
ela: - não, não tem esse direito não!! e já tô de saco cheio dessa história!
ele: - você tá é com medo...
ela: -ahhh!! essa foi a gota dágua!! quer saber?? eu vou embora! chega de só ser maltratada!!
ele: - mas eu te maltrato? não não!! você entendeu errado! eu só quero é te fazer feliz... saber o que tá errado...
ela: - pois assim tá difícil... não tá conseguindo não...(ameaçando um choro) eu tenho sofrido, sabe...?
ele: - não chora, querida... não chora não... eu...eu...eu te amo!!
ela: - ama nada...
ele: - amo sim!!! você sabe disso!! daria minha vida por você... TE AMO!!!
ela: - shiiii, fala baixo... os vizinhos...
ele: - não falo baixo nada !! quero que todo mundo saiba: AMO LOUCAMENTE ESSA MULHER!!!
ela: - não fala assim....
ele: - não sou nada sem você... nada...
ela: - eu sou dificl às vezes, eu sei...
ele: - é nada... te amo do jeito que você é...
ela: - ... (sorrindo)...
ele: - ... e um beijinho... rola? você fica tão linda, tão maravilhosa, tão tesuda quando está assim...
ela: - assim como...?
ele: - irritada... chorando... com esses cílios enormes molhados...
ela: - ah...tá bom...um beijinho rola...
ele: - rola abaixar, só um pouquinho, essa alça aqui da blusa...?
ela: - tá...
ele: - rola ir pra cama...?
ela: - (sorrindo) é...rola... mas...
ele: - (beijando o pescoço dela) mas o que? fala fala...
ela: - vamos esquecer essa história de amante...?

just a dream...

Os prédios corriam loucamente... andavam em trilhos. 70, 80 km/h, não entendo como não haviam grandes acidentes, grandes tragédias. Lembro que cheguei a pensar que haviam aumentado a velocidade, "esses prédios estão correndo muito hoje, mais do que o normal". E as pessoas trabalhando, entregues, confiantes.
Encontrei com meu ex dentro de um desses prédios (eu ainda me espantava com a sensação estática lá dentro). Ele ia me entregar um livro-caixa que eu precisava muito. Eu estava feliz e ansiosa. Fazia tempo esperava por isso. Resolvemos tudo rapidamente. Como eu estava longe, pedi uma carona... tinha também um pouco de receio de andar sozinha àquelas horas. Ele não quis dar. Como justificativa, com aquele ar de reprovação e crítica que tantas e tantas vezes vi, disse que não confiava em mim. Com insinuações, me chamou de lésbica, puta e inútil.
Eu chorei, como há tempos não chorava. Olhei pra ele me sentindo enganada, traída. Não era o homem que eu amei. Disse que nunca mais queria vê-lo e que, finalmente, nunca chegou a me conhecer... Deveria tê-lo xingado, mas não o fiz. Só pensei que inútil eu podia até ser uma vez ou outra, mas puta?! lésbica?! Não, definitivamente ele já não sabia quem eu era. Fui embora com o coração doendo...

(será que tudo isso faz algum sentido?)

sábado, abril 23, 2005

fly me to the moon...

Ai, essa lua... que parece que vai explodir de tão redonda que está!!
Uma indecência uma lua assim.
Como podemos nós, pobres mortais, transitar aqui embaixo em paz, impunemente com esse absurdo de beleza no céu?
Fico sempre assim mais agitada, excitada, exibida, com uma lua dessas. Sai invadindo os quartos alheios. Não nos deixa pregar os olhos...
Tudo fica maior, toma dimensões diferentes. O mau humor, vira péssimo humor. Mas o bom humor vira um estado quase de graça!!
Com essa lua tenho ímpetos de sair dançando, flutuando, voando mesmo!
Vontade doida de dar uma mordida na lua!
E milhões de beijos na boca!!!

tédio

Necessito escrever mas não tenho vontade. Não tenho ânimo de nada. Passo o dia embolada em cobertas e ressentimentos. Mágoas que afloram, que derrubam. Sei que vou ser magoada de novo e não sei se terei forças pra suportar tudo. Mais uma vez...
Não agüento a pressão, a cobrança, o controle. O “tem que ser feito”, “tem que ser dito”. E a urgência da vida me pressiona, me oprime. Não agüento isso. Me machuco, me magôo, me adoento.
A solidão é um fator, sei que é. Mas prefiro essa liberdade solitária do que uma prisão acompanhada. Não quero algemas. Não quero escravidão emocional. Isso ainda tenho algum controle.
Mas vivo aprisionada em uma vida que não escolhi. Claro que a pergunta procede: quem escolheu então? De quem é a culpa? É, talvez não tenha me expressado bem... falando melhor então, vivo aprisionada em uma vida que escolhi por pressão. Que fui impelida a viver. Me sinto culpada em relação aos que amo, me sinto em eterno débito e não consigo me libertar. É, é isso.
O estranho disso tudo é que sei não ser fundamental. Sei que todos viveriam sem mim. Mas tenho esse dívida que cresce em juros progressivos... não agüento mais dever nada a ninguém!
E aí fico aqui imóvel. Não sei o que fazer, pra onde ir, como agir. Me enterro em papéis, livros, lençóis... Me lambuzo de sorvetes e chocolates. E depois me sinto a pior das mulheres. A mais feia, a mais gorda, a mais insuportável.
Tomara que amanhã eu esqueça. Tomara que amanhã eu finja de novo que está tudo bem e consiga, assim, viver mais um dia, minuto a minuto. Afinal o futuro não existe mesmo, né?

sexta-feira, abril 22, 2005

patos 3

Ando pensando muito. Sempre penso, mas tenho tido um objetivo atual. O objetivo do auto-conhecimento.
E descobri muitas semelhanças minhas com o pato. Explico: vivo nadando em idéias e sentimentos, ou melhor, vivo boiando mesmo. Caio sempre como uma pata em conversas mais espertas e interessantes, românticas ou não... sempre acreditando nas pessoas. E como e cago, coisa típica do pato.

patos 2

Não quero saber se o pato é macho. Eu quero é os ovos.

patos 1

Era uma vez um pato.
Era uma vez um pato.
Tinha somente uma pata, o pato.
Era manco o pato.
E tinha uma namorada pata.
Não era manca a pata.
Casaram-se, pato e pata.
E tiveram filhos, todos patos.
Tiveram patos e patas.
Nenhum pato e pata nascido era manco.
Nadavam no lago os pequenos patos e patas.
Nadavam com seus pais patos.
Um dia apareceu uma rapoza comedora de patos.
Ela tentou comer todos os pequenos patos.
Qué, qué, qué, faziam muito bem os pequenos patos.
Correram mamãe pata e papai manco pato.
Jogaram uma pedra na rapoza comedora de patos.
Ela saiu correndo e mudou o cardápio, nunca mais comeria pato.

parênteses de tristeza

Dia triste. Sombreado pela morte. Quantas vezes está à espreita. Às vezes ataca. Implacável. Certeira.
Sofremos nós, sofre quem tá vivo. A saudade doendo, apertando o peito. A amiga rindo. A amiga falando. Coisas muito boas. Tudo na lembrança agora. Juventude perdida.
Ela não sofre. Paz. Acabou. Fim do tormento, da angústia, do medo. Alívio.
Nós somos atingidos na cara. Uma bofetada cheia. Crenças, que crenças? O que existe na morte? Ou, o que NÃO existe na morte?
Não quero saber. Verdadeiramente não quero. Abraço a vida com sofreguidão. Confirmo a vida em mim. Aumento a pressa, a intensidade, o prazer em respirar.
Somos egoístas. Sempre. Na tragédia alheia reafirmamos nossas vitórias. Nos orgulhamos de nossas conquistas.
Dia triste. Sombreado pela morte. O cheiro dos crisântemos murchos preso no nariz. Cheiro de cemitério e de lágrimas. Caminhando entre túmulos vemos fotos, momentos eternizados, epitáfios absurdos, tentativas desesperadas de perpetuar memórias.
O mármore, o granito gravados. Frios, duros, resistentes. Tão diferente da fragilidade e vulnerabilidade quente do corpo. A eterna luta pela imortalidade. O último grito.
Dia triste. Sombreado pela morte. Sombra essa que nos faz quentes, mais vivos do que nunca, sofrendo, respirando, sorrindo, amando.
Dia triste. Sombreado pela morte sim. Mas iluminado pela vida, pois não há sombra sem luz.

obsessiva, com certeza, compulsiva

Queria saber o porquê, meu deus, porque sou tão sistemática... logo eu que detesto prisões, me mantenho o tempo toda encarcerada nos infinitos rituais do dia-a-dia.Será que é pra compesar a minha total falta de constância nos assuntos verdadeiramente pertinentes da vida?
Sou do tipo chata mesmo, rabugenta, cheia de manias... se estou acostumada a ir a um restaurante, sento sempre na mesma mesa e gosto de ser servida sempre pelo mesmo garçon. Ok, muitas pessoas são assim. Mas não acredito que a mairoria sinta seu dia completamente estragado se alguma dessas coisas muda. Já saí de lugares pelo simples fato da decoração ter mudado e eu me sentir totalmente desconfortável com isso. Me sinto até traída.
Conversava ontem com um amigo. Comentávamos sobre o ritual de ligar o computador e a ansiedade que isso proporciona. Pois é, faço tudo igual, na ordem certa. Já tentei não fazer, mas me sinto culpada e tenho certeza de que alguma coisa muito ruim vai acontecer, algo sobrenatural, vou perder a conexão, vou ser castigada pelo Deus Cibernético.
E quanto mais deprimida e pressionada, pior fica. Tudo ritualizado. Na hora de comer, acender um cigarro. Na hora de dormir (a segunda pior hora do dia), tenho que ter os travesseiros certos, na posição certa, a quantidade certa. E passar creme nos pés e nas mãos. Muito creme, tem que ficar escorregando, senão não durmo.
A primeira pior hora do dia é, de longe, a hora de acordar. E aí é assim, uma caneca de café, um cigarro e nehuma palavra. Simplesmente preciso que tudo seja feito da mesma maneira, senão entro em colapso, perco as referências e me sinto perdida nessa teia cotidiana, sufocante e desprezível.
E, sei lá pra quê, faço contas de tudo, conto parafusos em ônibus, traço paralelas imaginárias com tudo o que vejo, tento gravar números inúteis, pulo as faixas que separam as calçadas, coloco calcinhas em gaveta de calcinhas e soutiens em gavetas de soutiens, separo roupas por cores. Mas, veja bem, nada dobrado e arrumado, isso não tem importância. O problema são os conjuntos. Agrupo objetos, agrupo idéias, rotulo pensamentos pra poder catalogar.
Só durmo fora de casa em viagens. Até tento, juro que já tentei, mas sempre saio, fugida, corrida, de onde quer que seja. Como posso conseguir adormecer fora do meu mundo? E se adormecer, como acordar em um lugar diferente?
A compulsão anda de mãos dadas com todas as manias, claro. Posso ser compulsiva por absolutamente qualquer coisa que me dê prazer. Além disso, todas as manias são cumpridas de forma compulsiva, mais e mais, num ritmo irresistível e incontrolável.
Acho que estou cada dia mais doida. Doida de viver assim, doida de ter abandonado um tratamento, doida de ter começado outro, doida de falar sobre isso tudo. Quem é que tem a ver com isso afinal?

parênteses de ódio

Eu odeio marimbondos, odeio elevadores que não funcionam, odeio batidas na porta às 8 da manhã. Odeio falta de educação, gente que cospe ao falar, odeio ser controlada. Odeio trepadas rápidas, odeio qualquer coisa feita de manga. Odeio canto de unha inflamado, odeio chuva que inunda o quarto, odeio quando o computador reinicia sozinho. Odeio quando não me escutam, odeio falar com as paredes. Odeio ser invisível. Odeio carros na oficina. Odeio quando se atrasam assim como odeio dar desculpas por estar atrasada. Odeio fila de banco, fila de mercado, fila de boite, fila de namorados. Odeio meias palavras, odeio funk, odeio pessoas violentas. Odeio baratas e afins, odeio fazer dieta, odeio o tom arroxeado dos vidros do meu quarto. Odeio ser baixinha, odeio a Gisele Bunchen, odeio locadoras de vídeo. Odeio pisar em cocô, odeio pena, odeio culpa. Odeio TPM, odeio patricinhas, odeio mauricinhos, odeio samba ruim. Odeio falar falar e não dizer nada. Odeio ouvir ouvir e não aprender nada. Odeio quando o pão cai com a manteiga pra baixo. Odeio ter que gostar, ter que aceitar, ter que calar, ter que falar, ter que entender, ter que amar. Acho que me odeio.

quarta-feira, abril 20, 2005

bs as

O tempo nem sempre é um aliado, mas muitas vezes nos dá a trégua necessária para encarar os fatos de outra maneira, sob outro prisma. Nos permite uma maior compreensão da relação dos acontecimentos.

Sei que uso as palavras de uma maneira, digamos, bastante particular e especial. Você provavelmente diria que eu as manipulo. Talvez seja verdade sim. Mas isso não é um defeito meu, e sim uma maneira de me salvaguardar, me deixar a uma distância salutar do sofrimento. Não que eu não sofra. Quem dera isso fosse possível. Mas tento controlar, de certa forma, o imprevisível da vida e dos relacionamentos.

Com você isso não foi possível. Não houve controle. Fiquei completamente à mercê das marés e das tuas vontades. Te culpei muito por isso. Cheguei verdadeiramente a te odiar, por me entregar, me apaixonar, por me sentir usada e descartada. Me senti emocionalmente manipulada, uma verdadeira marionete nas mãos hábeis do experiente titereiro. Felizmente, com o tempo (aliado, dessa vez) esses sentimentos foram sendo digeridos, compreendidos e, conseqüentemente, amenizados.

Já não me sinto mais tão usada. Já consigo entender o teu jeito assertivo de ser, que quantas e quantas vezes beirou a agressividade. Eu encarava essa "agressividade" como pessoal, contra mim. Te via como um homem de palavras certeiras e firmes, procurei em você o que tantas e tantas vezes vi no meu pai. Mas enxergo hoje uma fragilidade e uma insegurança enorme por trás dessas palavras tão duras que ouvia. Um emocional delicado, intenso, denso e quase quebradiço. Não pude encarar isso. Não pude ver antes. Não consegui compreender o que tinha por trás de todos os acontecimentos. Sou de uma racionalidade quase concreta e tenho grandes dificuldades em verbalizar e entender as emoções.

Ainda bem que tivemos tempo suficiente para o comprometimento não ser maior, mais profundo, mais definitivo. É muito claro, hoje, que nosso relacionamento nunca teria sido feliz. Sou muito leve, solta, independente e problemática pra você. E por outro lado, você tem uma densidade e um peso que não posso conviver, não preciso e nem quero. Não poderia realmente estar ao lado de alguém que muda de humores a cada 5 minutos, tem explosões de euforia e chega a silêncios tumulares e depressivos. É intensidade demais, intranqüilidade demais pra mim. Eu nunca seria a mulher pra você e nem você o meu homem.

O que sobrou hoje das coisas que vivemos, dos sentimentos trocados, dos momentos partilhados? Difícil dizer. Me incomoda pensar que você não lembra de mim nem por um minuto. Gostaria de acreditar que não é assim, até porque você me marcou de uma maneira tão profunda, me deixou cicatrizes tão vivas que, é lógico, ainda passeia freqüentemente pelos meus pensamentos. Mas acho que o que ficou foi uma pequena inveja. Não dela, por estar com você. Como eu disse, minha certeza é plena da impossibilidade de convivência entre nós. Mas uma inveja de você, por ter finalmente encontrado alguém que te completa e te deixa tão feliz. E é disso que preciso. Um encontro de almas, de personalidades. Encontrar alguém que me complete. Esquecer os amores vazios, tristes, sofridos e viver uma entrega real, correspondida e sentida a fundo.

Sei, que muito provavelmente, isso vai te incomodar um pouco. Talvez você fique muito aborrecido comigo, por essas palavras sinceras e um pouco cruas. Não é minha intenção, verdadeiramente. Mas também não está me importando muito agora. Só estou desabafando, terminando o que eu ainda não tinha terminado. Finalizando os sentimentos, limpando as mágoas. Imagino que sejam frases sem resposta. Não acredito que você se daria ao trabalho de uma réplica. Também não sei se seria necessária. A comunicação com você sempre foi bastante imprevisível e talvez seja aí mesmo que reste, ainda, alguma graça.

De qualquer modo, te desejo uma boa vida, sorte, se é que ela existe. Por aqui a vida continua caminhando, com alguns problemas antigos, outros recentes e soluções que vão se descortinando pouco a pouco.

silêncio...

Não falo mais nada. Fiquei muda. Perplexa, fria, catatônica.
Tinha tanta coisa a dizer. Tantas vontades, desejos, anseios. Os sentimentos transbordando, saindo pelas orelhas, sendo regurgitados pela boca. O coração inchado, latejando, a ponto de estourar. Tudo seria dito. Tudo necessitava ser dito.
Mas veio o tapa ardido na face vermelha. Uma enxurrada de palavras, o bafo gelado da decepção.
Era assim. Eu já sabia. Como, meu deus, como pude eu esperar algo diferente? As evidências sempre ali, sempre claras. E eu sem ver. Sem querer ver. Sempre sucumbo à tentação da esperança, do otimismo fácil.
Mas, no íntimo, sei. Sempre sei. Sei que tenho um ar, um cheiro, uma atitude, quem sabe, que afasta, repele aqueles que realmente importam. Não sempre sei dessa matéria mal cheirosa, pegajosa, nojenta, algo como uma doença de pele séria, que não mata, mas afasta?
Sei da existência de todo um modo de ser voluntário, talvez, mas nem por isso consciente. Culpa do medo imperioso, que oprime e guia ações. Me levando ao caramujo, ao conforto do ventre, à escuridão tranquilizadora. É a ânsia da inércia. É a paralização pelo terror. Difícil lutar.
As conseqüências desse comportamento covarde são graves. E também sei disso. Mas simplesmente não consigo evitar agir assim. Continuo hora após outra, me escondendo, muda, fechada, na casca.
Abra seu coração, me dizem. Ai que isso é processo lento, sofrido. É necessária uma auto-superação hercúlica. Passar por cima dos terrores da alma. Demora. Dá trabalho. E quem vai esperar por isso tudo? A paciência é virtude de poucos, o tempo curto e a espera longa. A possibilidade de um desencontro só tende a aumentar... e a idade ajuda.
E o que fazer com o coração finalmente aberto, amando, sem filtro, mas já só? Ainda só. Sempre só.
Sou uma adolescente emocional. Estou na puberdade. Não sei amar. É isso. Minha total incapacidade de expressão me faz, assim, uma analfabeta dos sentimentos. Não sei nomear, não sei dizer, não sei demonstrar. Não sei. Só sufoco deseperadamente.
A certeza é única. Não sou correspondida. Nunca sou. A falta de palavras e demonstrações me protege. Evita a vulnerabilidade, tão temida.
Me calo, mais uma vez. Talvez para sempre. Engulo os sentimentos-palavras, observo o mundo e choro por dentro. Choro por ver quão ridículo um ser humano pode chegar a ser quando acredita. Quando não enxergaa essa fragilidade e precariedade emocional.
Preciso aprender a ser só. O amor, finalmente, não é mais do que uma vaga sensação de bem-estar e companheirismo imediatista. E, talvez, algum sexo.
Fiquei muda. Não falo mais nada. Tinha tanta coisa a dizer. Tantas vontades, desejos, anseios. Esqueço-os agora.
Os sentimentos transbordando, saindo pelas orelhas, sendo regurgitados pela boca. O coração inchado, latejando, sendo lentamente endurecido e ressecado no processo de desertificação da alma. Se não é melhor um desérto estéril do que um pântano pútrido?

terça-feira, abril 19, 2005

início que não é início

Relutei.
Pensei antes.
O medo da exposição, sempre ele.
Mas a necessidade nos empurra pra frente.
Tudo o que se tem guardado, tudo o que se tem que expulsar, tudo o que já foi escrito e o que ainda vai ser. Essa é a necessidade.
É o início aqui. Mas longe de ser o início verdadeiro. Apenas uma nova forma. Muitas coisas serão ditas como novas, mas têm um cheiro forte de naftalina embolada com teias de aranha.
Digo isso pra não me sentir mais fraude do que já sou. Sempre uma ilusão de ótica. Trompe l'oeil. Pareço, mas não sou. Quero começar a ser.
Sei que novas idéias também irão surgir. E essa é a esperança, na verdade.
Respirar.
Renovar.
Arejar.
É, é isso sim.