sexta-feira, abril 22, 2005

parênteses de tristeza

Dia triste. Sombreado pela morte. Quantas vezes está à espreita. Às vezes ataca. Implacável. Certeira.
Sofremos nós, sofre quem tá vivo. A saudade doendo, apertando o peito. A amiga rindo. A amiga falando. Coisas muito boas. Tudo na lembrança agora. Juventude perdida.
Ela não sofre. Paz. Acabou. Fim do tormento, da angústia, do medo. Alívio.
Nós somos atingidos na cara. Uma bofetada cheia. Crenças, que crenças? O que existe na morte? Ou, o que NÃO existe na morte?
Não quero saber. Verdadeiramente não quero. Abraço a vida com sofreguidão. Confirmo a vida em mim. Aumento a pressa, a intensidade, o prazer em respirar.
Somos egoístas. Sempre. Na tragédia alheia reafirmamos nossas vitórias. Nos orgulhamos de nossas conquistas.
Dia triste. Sombreado pela morte. O cheiro dos crisântemos murchos preso no nariz. Cheiro de cemitério e de lágrimas. Caminhando entre túmulos vemos fotos, momentos eternizados, epitáfios absurdos, tentativas desesperadas de perpetuar memórias.
O mármore, o granito gravados. Frios, duros, resistentes. Tão diferente da fragilidade e vulnerabilidade quente do corpo. A eterna luta pela imortalidade. O último grito.
Dia triste. Sombreado pela morte. Sombra essa que nos faz quentes, mais vivos do que nunca, sofrendo, respirando, sorrindo, amando.
Dia triste. Sombreado pela morte sim. Mas iluminado pela vida, pois não há sombra sem luz.