quarta-feira, abril 20, 2005

bs as

O tempo nem sempre é um aliado, mas muitas vezes nos dá a trégua necessária para encarar os fatos de outra maneira, sob outro prisma. Nos permite uma maior compreensão da relação dos acontecimentos.

Sei que uso as palavras de uma maneira, digamos, bastante particular e especial. Você provavelmente diria que eu as manipulo. Talvez seja verdade sim. Mas isso não é um defeito meu, e sim uma maneira de me salvaguardar, me deixar a uma distância salutar do sofrimento. Não que eu não sofra. Quem dera isso fosse possível. Mas tento controlar, de certa forma, o imprevisível da vida e dos relacionamentos.

Com você isso não foi possível. Não houve controle. Fiquei completamente à mercê das marés e das tuas vontades. Te culpei muito por isso. Cheguei verdadeiramente a te odiar, por me entregar, me apaixonar, por me sentir usada e descartada. Me senti emocionalmente manipulada, uma verdadeira marionete nas mãos hábeis do experiente titereiro. Felizmente, com o tempo (aliado, dessa vez) esses sentimentos foram sendo digeridos, compreendidos e, conseqüentemente, amenizados.

Já não me sinto mais tão usada. Já consigo entender o teu jeito assertivo de ser, que quantas e quantas vezes beirou a agressividade. Eu encarava essa "agressividade" como pessoal, contra mim. Te via como um homem de palavras certeiras e firmes, procurei em você o que tantas e tantas vezes vi no meu pai. Mas enxergo hoje uma fragilidade e uma insegurança enorme por trás dessas palavras tão duras que ouvia. Um emocional delicado, intenso, denso e quase quebradiço. Não pude encarar isso. Não pude ver antes. Não consegui compreender o que tinha por trás de todos os acontecimentos. Sou de uma racionalidade quase concreta e tenho grandes dificuldades em verbalizar e entender as emoções.

Ainda bem que tivemos tempo suficiente para o comprometimento não ser maior, mais profundo, mais definitivo. É muito claro, hoje, que nosso relacionamento nunca teria sido feliz. Sou muito leve, solta, independente e problemática pra você. E por outro lado, você tem uma densidade e um peso que não posso conviver, não preciso e nem quero. Não poderia realmente estar ao lado de alguém que muda de humores a cada 5 minutos, tem explosões de euforia e chega a silêncios tumulares e depressivos. É intensidade demais, intranqüilidade demais pra mim. Eu nunca seria a mulher pra você e nem você o meu homem.

O que sobrou hoje das coisas que vivemos, dos sentimentos trocados, dos momentos partilhados? Difícil dizer. Me incomoda pensar que você não lembra de mim nem por um minuto. Gostaria de acreditar que não é assim, até porque você me marcou de uma maneira tão profunda, me deixou cicatrizes tão vivas que, é lógico, ainda passeia freqüentemente pelos meus pensamentos. Mas acho que o que ficou foi uma pequena inveja. Não dela, por estar com você. Como eu disse, minha certeza é plena da impossibilidade de convivência entre nós. Mas uma inveja de você, por ter finalmente encontrado alguém que te completa e te deixa tão feliz. E é disso que preciso. Um encontro de almas, de personalidades. Encontrar alguém que me complete. Esquecer os amores vazios, tristes, sofridos e viver uma entrega real, correspondida e sentida a fundo.

Sei, que muito provavelmente, isso vai te incomodar um pouco. Talvez você fique muito aborrecido comigo, por essas palavras sinceras e um pouco cruas. Não é minha intenção, verdadeiramente. Mas também não está me importando muito agora. Só estou desabafando, terminando o que eu ainda não tinha terminado. Finalizando os sentimentos, limpando as mágoas. Imagino que sejam frases sem resposta. Não acredito que você se daria ao trabalho de uma réplica. Também não sei se seria necessária. A comunicação com você sempre foi bastante imprevisível e talvez seja aí mesmo que reste, ainda, alguma graça.

De qualquer modo, te desejo uma boa vida, sorte, se é que ela existe. Por aqui a vida continua caminhando, com alguns problemas antigos, outros recentes e soluções que vão se descortinando pouco a pouco.