quarta-feira, abril 20, 2005

silêncio...

Não falo mais nada. Fiquei muda. Perplexa, fria, catatônica.
Tinha tanta coisa a dizer. Tantas vontades, desejos, anseios. Os sentimentos transbordando, saindo pelas orelhas, sendo regurgitados pela boca. O coração inchado, latejando, a ponto de estourar. Tudo seria dito. Tudo necessitava ser dito.
Mas veio o tapa ardido na face vermelha. Uma enxurrada de palavras, o bafo gelado da decepção.
Era assim. Eu já sabia. Como, meu deus, como pude eu esperar algo diferente? As evidências sempre ali, sempre claras. E eu sem ver. Sem querer ver. Sempre sucumbo à tentação da esperança, do otimismo fácil.
Mas, no íntimo, sei. Sempre sei. Sei que tenho um ar, um cheiro, uma atitude, quem sabe, que afasta, repele aqueles que realmente importam. Não sempre sei dessa matéria mal cheirosa, pegajosa, nojenta, algo como uma doença de pele séria, que não mata, mas afasta?
Sei da existência de todo um modo de ser voluntário, talvez, mas nem por isso consciente. Culpa do medo imperioso, que oprime e guia ações. Me levando ao caramujo, ao conforto do ventre, à escuridão tranquilizadora. É a ânsia da inércia. É a paralização pelo terror. Difícil lutar.
As conseqüências desse comportamento covarde são graves. E também sei disso. Mas simplesmente não consigo evitar agir assim. Continuo hora após outra, me escondendo, muda, fechada, na casca.
Abra seu coração, me dizem. Ai que isso é processo lento, sofrido. É necessária uma auto-superação hercúlica. Passar por cima dos terrores da alma. Demora. Dá trabalho. E quem vai esperar por isso tudo? A paciência é virtude de poucos, o tempo curto e a espera longa. A possibilidade de um desencontro só tende a aumentar... e a idade ajuda.
E o que fazer com o coração finalmente aberto, amando, sem filtro, mas já só? Ainda só. Sempre só.
Sou uma adolescente emocional. Estou na puberdade. Não sei amar. É isso. Minha total incapacidade de expressão me faz, assim, uma analfabeta dos sentimentos. Não sei nomear, não sei dizer, não sei demonstrar. Não sei. Só sufoco deseperadamente.
A certeza é única. Não sou correspondida. Nunca sou. A falta de palavras e demonstrações me protege. Evita a vulnerabilidade, tão temida.
Me calo, mais uma vez. Talvez para sempre. Engulo os sentimentos-palavras, observo o mundo e choro por dentro. Choro por ver quão ridículo um ser humano pode chegar a ser quando acredita. Quando não enxergaa essa fragilidade e precariedade emocional.
Preciso aprender a ser só. O amor, finalmente, não é mais do que uma vaga sensação de bem-estar e companheirismo imediatista. E, talvez, algum sexo.
Fiquei muda. Não falo mais nada. Tinha tanta coisa a dizer. Tantas vontades, desejos, anseios. Esqueço-os agora.
Os sentimentos transbordando, saindo pelas orelhas, sendo regurgitados pela boca. O coração inchado, latejando, sendo lentamente endurecido e ressecado no processo de desertificação da alma. Se não é melhor um desérto estéril do que um pântano pútrido?