domingo, junho 26, 2005

pequena reflexão

Mais de uma semana sem postar... falta de criatividade, de idéias, de tesão mesmo. Será que eu já disse tudo o que tinha pra ser dito? Não, duvido muito.
Talvez tenha sido só uma pequena pausa necessária pra digestão do aniversário, da entrada definitiva e completa na casa dos trinta. Entrada sofrida, comemorada, curtida, chorada... e solitária, claro!
Ando me sentindo meio caricatural, meio encarnação do estereótipo da mulher de trinta. Fico me questionando se isso tudo é real, ou se simplesmente me sinto na obrigação cultutal e urbana de estar, de ser assim. Criamos à vezes uma imagem, uma aparência, um modo de ser, que não é de todo real. Mas ensaiamos tanto que passamos a acreditar no personagem. E o pior, o feedback de amigos e conhecidos te confirma essa "realidade" de viés. Se eles acreditam, se vemos espelhadas em seus olhos essas características que criamos, passamos a crer mais ferrenhamente que somos assim!
Muitos me vêem como uma mulher forte, segura, bem resolvida. Que está sozinha, se ressente levemente disso, mas que está por que quer, porque pode escolher. Que nunca quis ter filhos, porque verdadeiramente não interessava deixar sua vida, carreira, liberdade, por causa deles. Que entrou nos trinta, teve aquela ligeira crise, mas que já está de pé, pronta pra viver e encarar os quarenta. Uma mulher estilosa, que usa paetês com allstar vermelho, cachos rebeldes, dita moda ao mesmo tempo que caga pra ela.
Sou isso? Talvez quem tenha a curiosidade de me ler, veja que a realidade é um pouco diferente disso. Veja como estou mais insegura do que nunca, como as máscaras pouco a pouco vão caindo. Como sofro sim com a solidão. Como, talvez, eu me arrependa de ainda não ter tido filhos...
Na verdade não necessariamente tenho que estar em um extremo ou em outro. Eu realmente não sou só uma "deborah". Sou várias. Sou segura, às vezes. Outras muito insegura. Dito moda sim, mas tenho meus momentos de não saber o que vestir e onde colocar as mãos. Não gosto nem um pouco de estar sozinha, mas não tenho a menor vontade de abrir mão da minha independência e liberdade por qualquer um. E não farei mesmo isso. Quero ter família, filhos, mas sei que pra isso tem que se estar bem, paciente, abrir mão de coisas. E sou careta, produção independente nem pensar! Quero papai, mamãe e filhinho. Mas não chego ao extremo de querer casar de novo, de branco, com bolo de noiva! Estou no meio termo. Nem lá nem cá. Tentando achar o equilíbrio e a verdade. O meu equilíbrio interior. A verdade que norteará a minha vida.

sábado, junho 18, 2005

nunca mais mãos-dadas

A saudade que eu sinto é de tudo. Dos beijos. Do cheiro. Da voz. Do sorriso. Dos amigos. Do mar de lá. Do sol de lá. Das lendas. Das brincadeiras. Da história.
A minha história era também a tua. E em algum momento perdemos as pontas. Eu me perdi sem a luz da tua presença, sem teus passos me guiando. Ou será que me achei? Me pergunto se caminhávamos juntos por opção ou por falta dela. Mas as lembranças do caminho são reais. A falta que eu sinto também, assim como as lágrimas roladas.
Tanto tempo, tanto tempo. Tanto tempo vivido juntos. Muita vida compartilhada. Uma ausência enorme de brigas, o diálogo fácil e simples. Talvez racionalidade demais, pouca expressão de amor. Ou talvez só um arrependimento de não ter dito mais, feito mais. Agora acabou. Não tem mais o que dizer.
Tudo seria mais fácil se não tivesse começado tão cedo. Se eu não tivesse aprendido a viver, desde o inciozinho dos tempos, a teu lado. Se eu não tivesse adotado tua família por completo, não me sentiria hoje assim como uma órfã. Se não tivesse absorvido tantas idéias, talvez pensasse com mais clareza hoje. Se não tivesse conquistado tantos amigos em comum, viveria hoje com menos saudades. As saudades dos amigos que se foram junto contigo.
Será tudo imaginação? Às vezes acho que só eu senti, só eu sinto. Talvez sejam emoções criadas, lembranças adquiridas pela imaginação, pela idealização dos fatos. Você não parece sentir a mesma falta que eu. E você sentiria, sei que sim, se tudo tivesse acontecido como trago nas minhas lembranças. Lembranças falsas. Só podem ser.
Há não muito tempo, você me falou de um pensamento, uma descoberta, que a mim pareceu uma verdade incondicional. Que ninguém é feliz o tempo todo, que a felicidade é a soma de vários momentos alegres e que temos de nos esforçar pra ter mais momentos desses do que os tristes. Acho que você tem toda razão. E, vendo assim, você parece feliz. Eu triste. Te invejo e admiro por isso. Quero ter essa força, quero aprender a ser assim.
Isso tudo não deixa de ser uma grande ironia. Eu sempre fui a forte da relação. No meu íntimo, tinha uma desconfiança séria, quase uma certeza, de que você me amava mais, muito mais do que eu a você. Eu me sentia culpada por isso, mas segura. Mas quando tudo desmoronou, você foi o primeiro a desistir, a não querer mais. A abdicar do amor.
É verdade que o que move a minha tristeza não é mais o amor. Não aquele amor homem-mulher. Esse acho que já tá acabado, extinguido. Ou quase. Mas a saudade, essa é implacável. As lembranças afloram, criam vida e sinto o aroma das situações. E o amor gerado pelo companheirismo e cumplicidade, pela amizade que tem de vida mais da metade da minha, esse amor teima em ficar. Não vê razão pra ir embora.
Nessas horas de solidão, de passeios por fotos e por escritos amarelados, de choro abafado e sentido, esse amor grita e chama por você, pelo teu colo e pelos teus dedos nos meus cachos. Pela tua voz inconfundível, gravada no meu coração para sempre, pelas tuas palavras sempre certeiras e sensatas, pelo sorriso fácil e menino. Pelo aconchego e conforto de poder ser eu mesma, tranqüila, de calças de moleton e cabelos presos. Pela certeza de que você vai entender tudo o que eu disser. E tudo o que eu não disser também. Porque entre nós, um olhar sempre foi mais do que suficiente.

sexta-feira, junho 17, 2005

Vibe Zone

Começou há, mais ou menos, uns 10 dias:
- Dinda, me leva no Vibe Zone?
- Você não pode entrar... não tem idade...
- Posso sim! Maiores de 12 anos podem ir acompanhados de um responsável!
- Você tem 11 anos...
- Tecnicamente já tenho 12. Eu nasci em 93!!
- Quanto é a entrada?
- er... assim... é... 70,00... cada uma... mas já pedi pro meu pai comprar! só falta alguém pra ir comigo!!
- 70,00?? que caro, hein?! e o que vai ter lá?
- Ahhh, vai ser muiiiito maneiro!! Vai ter tenda de música eletrônica, shows, tenda de azaração, pista de skate, tobogã, um monte de coisas radicais, banda de rock...
- ai, tô até cansada!
- Dinda você vai se amarrar!! É um monte de coisas que você curte também, do nosso jeito!!
- unhum...
- Por favor, por favor, por favor, por favooooooooooor!!
- Tá. Levo.
- Obaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!
Aí que meu irmão deixa tudo pra última hora e os ingressos acabaram. Foi choradeira total. O mundo caiu sobre nossas cabeças. Minha querida e feliz afilhada passou para o outro extremo: o ser mais triste, injustiçado e infeliz do mundo.
- Isso não é justo, Dinda.
- Filha, sei como você se sente, mas são coisas que acontecem. Tem que se programar com antecedência.
- Mas é a minha primeira grande saída!! Nunca fui num lance tão maneiro desses... eu queroooo!!
E o chororô recomeçava.
Meu irmão, penalizado com as lágrimas da filhota, colocou os conhecimentos dele pra funcionar. E lembrou, ontem à tarde, que trabalhou com a filha do diretor da Coca-cola no Brasil. Sem grandes delongas, ligou pra ela e conseguiu dois convites. Para hoje.
Como promessa é dívida, e promessa pra afilhada é mais do que dívida, é uma obrigação de vida, resignei-me com o meu fatídico destino dessa sexta e tentei realmente curtir a noite. Afinal, era o debut da minha princesinha. E eu teria o privilégio de ser a "responsável acompanhante"!!
Empenhei-me com dedicação a todos os preparativos. Vi com ela a roupa, ajeitei as presilhinhas coloridas no cabelo, expliquei a ela o que poderíamos encontrar pela frente, como poderia ser, a quantidade de pessoas, passei "pó de asa de borboleta" em suas maçãs do rosto para ficarem furta cor... enfim, uma festa!
E fomos. Andamos bastante, os acessos fechados, pessoas caminhando pelas ruas e via seu olhinho brilhar, seu sorriso iluminado pela novidade, pela hora tão esperada chegando: a hora de estar crescendo.
Enfrentamos uma grande fila pra entrar, fomos ambas revistadas, bolsa olhada. Pra mim, tudo normal. Pra ela um mundo novo que se descortinava.
A entrada, como de todo grande evento, é apoteótica. Luzes, barulho, música, brindes... e de repente surge aquele mundo de pessoas, de palcos, de brilhos, tudo visto do alto. Seus olhos se arregalaram. Ela não esperava por algo tão grande!
Passeamos por todas as tendas, tentamos ficar vendo alguns shows, mas eram muitos adolescentes, faixa etária mais alta do que a dela e muito menor do que a minha. Algumas brigas, algum empurra-empurra. Como eu já sabia que seria. Como ela nem imaginava que pudesse ser.
Até que, minha lindinha, 2 horas depois da chegada, com cara de que as coisas não estão bem do jeito que gostaria fala:
- Dinda... eu não tô muito confortável aqui. Sabe, é todo mundo muito mais velho...
- Eu entendo, também não estou muito... é todo mundo muito mais novo...
- É... é como se eu estivesse fora do lugar.
- Não foi o que você esperava?
- Foi, por um lado... é lindo, enorme, muita música...mas muitos problemas...
- Muitos problemas?!
- É... muita gente, teve aquela briga que a gente viu, as pessoas esbarram, tô me sentindo a pirralha... assim, tá chato...
- Se você quiser ir embora, não tem problema, querida. Quer ir?
- Ah, quero sim!! Você não fica chateada?
- Claro que não!! Imagina!!
E respirei aliviada. Estávamos ambas fora do lugar. Ambas desconfortáveis. Mas a minha única preocupação era com ela, com o seu bem-estar e com as conclusões que poderíamos tirar juntas de tudo isso.
Eu tinha esquecido como é um lugar com tantos adolescentes juntos. Realmente é assustador. Eles gritam, correm, te esbarram, querem fazer tudo e ao mesmo tempo. E querem sentir-se adultos, o que torna tudo um tanto engraçado. Adultos não gritam e correm o tempo todo, como se não houvesse tempo de vida pra fazer tudo o que se quer. Salvo excessões, claro.
Isso tudo deu material pra uma boa conversa com Bia na nossa volta. Andamos bastante e podemos avaliar como as coisas têm o seu tempo certo, a hora certa de serem feitas. Ela me confirmou que esse foi o melhor exemplo que ela pôde ter. Esperou muito por essa ocasião, mas não era a hora dela, não estava preparada pra isso ainda. Mas se não tivesse tido a oportunidade de ir, provavelmente teria se sentido frustrada e teria tido a certeza de ter perdido o evento do ano, ou ainda, da sua vida!
Fico feliz de ter podido proporcionar as ferramentas pra essa descoberta dela. E minha também. Comecei a ver certas coisas com outros olhos. Sou sempre permissiva, sempre acho que não tem grandes problemas a liberação de uma jovenzinha. Tem sim. E muito. A verdade, é que tô encaretando. Vi o quanto é preciosa a vida, o quanto os jovens não sabem muito bem o que fazem, o quanto meus pais devem ter sofrido comigo... tanta rebeldia. Rebeldia que tem os seus reflexos ainda hoje na minha vida.Na verdade, pude perceber que estou agora, aos quase 31 anos, finalmente virando adulta. E que, ao contrário do que eu temia, não dói nada e é realmente bom.
Uma última certeza, extraída disso tudo: filho meu no Vibe Zone? Nem que a vaca tussa!!

terça-feira, junho 14, 2005

o rapaz do piano - título provisório

Estava sentado no primeiro banco do ônibus. Aquele mais alto que ficava bem perto da porta de entrada. Sentia-se desconfortável ali. Não lhe parecia certo e digno sentar antes de pagar a passagem, mas estava demasiado cansado pra viajar em pé. E não havia assentos vagos do outro lado da roleta.
As mãos lhe doíam. Sentia uma dor que vinha dos pulsos até a ponta dos dedos. Quando mais jovem tinha sido um rapaz bonito e bem apessoado. A sua altura, além da média, e seu corpo bem formado, de ombros largos e fortes, faziam sucesso com as mulheres. De sorriso aberto e franco, olhos vivos e meigos, as moças nunca foram problema. E suas mãos grandes, de dedos longos sempre chamaram a atenção, eram muito elogiadas, naquela época. Mas hoje era diferente, pensava. Seus dedos doíam e as palmas tinham calos duros e ásperos. Esfregou os pulsos com vigor. Buscava alívio na dor e em tanto rancor que trazia dentro de si.
A vida não tinha sido justa. Definitivamente não. Tivera que sair às pressas de sua cidade, trazendo praticamente a roupa do corpo pra essa cidade enorme que engole, mata aos poucos. Tinha uma vida boa. Viveu com seus pais até tudo aquilo acontecer. E teve que largar tudo, deixar o piano, o amor, até o seu filho. Pensou com força, tinha um filho!
O nascimento do seu filho foi um divisor de águas na sua vida. Sempre quisera ser pai, mas não esperava que tudo fosse se precipitar dessa maneira. Imaginava encontrar a mulher da sua vida, casar, ter uma casa que pudesse chamar de lar. Mas não foi assim. Não foi nada disso.
Tinha conhecido Camila numa pequana apresentação que fizera no Colégio São Francisco de Paula. Ela era uma das internas, só saindo do colégio aos sábados e domingos para visitar a família.
Era uma menina de grandes olhos amendoados, cor de mel, cílios enormes e negros, assim como seus cabelos lisos e pesados. Nessa época ele só os tinha visto presos em uma trança única, que lhe caía até a cintura, amarrados por uma fita de cetim branco.
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continua...

domingo, junho 12, 2005

Você sabe que está ficando velha quando...

... diz num sábado à noite pra sua mãe que quer ficar em casa assistindo a um filme e que não sairia nem se o Antonio Banderas te convidasse.
... recusa um convite pra jantar com um cara gato, produtor cultural, viajado, antenado, solteiro, 8 anos mais velho que você, porque está simplesmente sem vontade.
... sente um prazer incomensurável em ir até a banca de jornal e à padaria com a cachorra a tira-colo.
... não passa mais horas na praia por causa do envelhecimento da pele.
... fica de cama depois de uma noitada, sentindo como se tivesse sido atropelada por uma jamanta.
... não come frituras, não pela preocupação óbvia em engordar, mas simplesmente porque te enjoa.
... não compra aquele vestido que tá namorando há semanas pra economizar pra casa própria.
... escuta sua sobrinha dizer: no seu tempo, como era a internet? e você respoder: quando eu tinha a sua idade, ainda não tinha internet...
... você começa a contar o tempo das lembranças de dez em dez anos.
... seu irmão mais novo vai fazer 30 anos.
... o porteiro, o frentista, o padeiro, o açougueiro só te chamam de senhora.
... finalmente você resolve pintar o cabelo, não para mudar o visual, mas pra esconder os cabelos brancos.

delírios festeiros

Acabou a aversão. Agora é quase objetivo. Vou casar de novo. Com festa. Com Aleluia Aleluia tocando na entrada da noiva. De vestido branco. Com pista de dança e DJs. Só falta um noivo.
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Humm... acho que eu tô querendo é festa mesmo. Uma festa de casamento é legal que pode-se convidar gente que você não vê há muito tempo e que nem rola convidar pra uma comemoração de aniversário de uma idade intermediária como 31 anos. É, acho que vou casar mas, sutilmente, vou esquecer o noivo.
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O problema são os presentes... isso é um problema. Vou acabar ganhando um monte de copo e baixelas que não tenho nem onde enfiar. E ô coisa chata ganhar coisas pra casa... sei não, acho que a idéia de festa de casamento tá ficando meio furada...
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A lista de presentes!! É isso!! Posso indicar a Colcci, U too, Parceria Carioca, Diesel... hehehe... resolveria o problema dos presentes!!
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Taí, faço uma festa junina, com quadrilha, xerife, padre e... tchan tchan tchan... casamento!!! Caso de mentira, ganho presentes e dou uma puta festa!! Arre que a idéia e boa dimais da conta!!
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Eu tô é cada dia mais perturbada... comecei falando em casamento com pompa e circustância, com um coral maravilhoso de Aleluia Aleluia... acabei numa festa junina com forró e milho cozido na fogueira... ainda bem que amanhã é dia de análise... tô piorando, tô piorando...tsc tsc tsc.

sábado, junho 11, 2005

polaridade

Ela me pega, me arrasta, me finca os pés na realidade.
Eu vôo, deliro, suspiro, sorrio.
Ela não quer o céu, quer a terra.
Eu me alimento de nuvens e de mar.
Tem uma insistência em me jogar na vida crua, dura, seca.
Mas me desamarro, ganho asas, decolo.
Ela persiste no real pastoso, patinante e pegajoso.
Acredito no fluido, no mágico, no energético.
Vive pensando em formas retas, quadradas.
Eu sou curvo, circular, elíptico.
Seu sangue é gelado, metálico, ártico.
A vida transborda nos meus olhos quentes.
Seus cabelos sedosos, brilhantes, ordenados.
Contraste claro à rebeldia dos meus cachos.
Antagônicos e complementares.
Dependentes e viciados.
O sentido está com ela, minha vida é escrava.
Sou senhor de minha dona.
Servo e rei de um amor.
Um amor que às vezes é ódio.
Na cama, dois animais que se amam, que se matam.
Polares, nos anulamos e nos encaixamos.
Ela não é ninguém. Eu não sou ninguém.
Juntos somos um.

quinta-feira, junho 09, 2005

falso brilhante

Respondo com evasivas.
Penso em negativas.
Fujo, enrolo, dobro a esquina.
Não te quero. Não te amo.
Subterfúgios e disfarces, falsos cabelos.
Falsos sentimentos e palavras.
O telfone toca e suo e tremo e enjoô.
Não posso te querer. Não posso te amar.
O encontro está aí, me nego a ver.
Atraso, pego o ônibus errado, minto.
Me perco em ruas desertas.
Corro perigos reais e imaginários.
A porta se abre. Um sorriso aparece.
E por que mesmo eu não queria?
O quê mesmo eu não queria?
Me entrego toda, me abandono, me ridicularizo.
Me embolo em suspiros e prazeres.
Borro os medos, desfoco as questões.
Te quero. Te amo.
Mesmo sem poder.
Mesmo sem querer.

quarta-feira, junho 08, 2005

farol e ovo-frito

Hoje lembrava com mamãe da minha primeira bicicleta, comprada pelo meu avô. O mesmo avô professor, músico, botafoguense, de modos e educação impecáveis, de fala mansa e gostosa. Avô que me ensinou a ler e a andar de bicicleta aos 4 anos. E que tinha um carinho e um cuidado que nunca mais senti após a sua morte. "Dedé, vamos estudar", dizia.
Ele tinha umas coisas engraçadas. Foi professor a sua vida inteira, era um homem dos livros e do violão. Tocava um chorinho como poucos, tendo sido integrante da banda que acompanhava Carmem Miranda. Mas aos sessenta e poucos anos (nossa, e eu achava que ele era um velhinho...), já aposentado dos livros e apenas amigo do violão, passou a ser um homem de chave de fenda na mão e durepóxi. Durepóxi, pra quem não conhece, é uma massinha acinzentada que pode ser moldada e fixada em qualquer coisa que mereça remendo. Ela seca, endurece e, voilá!, é a solução pra todos os seus problemas! Pelo menos era assim que ele pensava. Tascava durepóxi em mesa, cadeira, azulejo, violão (sim, até no violão dele, que temos até hoje, feito pelo próprio Di Giorgio sob encomenda, nos idos de 1915), porta, janela e até em bicicleta.
Aliás, foi na bicicleta que o assunto começou. Lembrava com mamãe dessa bicicletinha, minúscula, azul e branca, que meu avô me deu e enfeitou com fitas caídas do guidão, colocou buzina (que eu simplesmente amava) e um ovo-frito na frente. Epa, um ovo-frito?! Bem, era o que eu achava na época. Vovô, com sua paixão pelo durepóxi, colocou um farol amarelo na bicicleta fixado, naturalmente, com esse milagroso material. Mas, como era um experimentador na arte de colocar faróis, espalhou o durepóxi todo em volta do farol amarelo. Depois pintou de branco. Tinhamos então um farol/ovo-frito bem na frente da bicicleta. No auge dos meus 4 anos eu pensava: que legal, vovô fez um ovo!! A verdade é que só descobri que era um farol através de minhas lembranças, muitos anos depois. Bem depois da sua morte e do sumiço da bicicletinha.
Me faz refletir em quantas e quantas vezes nos enganamos na vida. Às vezes com coisas tão absurdas como ver um ovo-frito no lugar de um farol. Quantos sentimentos, quantas certezas, quantos conhecimentos caem por terra olhados por outro ângulo, com outra experiência. Quantas risadas damos de nós mesmos quando conseguimos enxergar um pouco mais. Finalmente ficam só os sentimentos mais íntimos, mais puros, como o amor que eu sentia (e sinto até hoje) por esse avô tão cheio de ternura. Fica, também, a certeza de que muita coisa ainda vai ser descoberta, que o tempo ensina, muda, transforma. E que a partir desse aprendizado passamos a ter o poder da escolha.
Escolho então lembrar que eu tive uma bicicleta com um ovo-frito. É mais divertido. É uma lembrança que existe dentro de mim, não foi inventada. É a maneira menina de ver o farol. Escolho manter viva a menina, apesar de tanta vida vivida, tanta vida sofrida. E, além disso, todo mundo já teve uma bicicleta com farol. Mas com ovo-frito, duvido.

terça-feira, junho 07, 2005

a vida secreta dos pés

É sabido pelos meus amigos íntimos que tenho uma ligação quase sobrenatural com pés. Amo pés. Sou viciada em sapatos. Conheço a personalidade de uma pessoa pelo tipo de sapatos que usa, pela maneira que cuida dos pés. Os calçados refletem de maneira muito fiel se estamos lidando com uma pessoa expansiva, tímida, ousada, clássica, inteligente, autêntica, insegura... enfim, se os olhos são o espelho da alma, os pés são o espelho do ego. Duvida? Faça a seguinte experiência: vista dez pessoas com roupas exatamente iguais, de cor preta e deixe livre a escolha dos sapatos. Verá que o resultado é surpreendente e esclarecedor.
Isso tudo pra explicar o sonho que tive. Sonhei que andava com sapatos de vidro. Não sapatos altos, estilo Cinderela. Nada romântico. Eram, na verdade, uma mistura de botas com jarras de suco. Uns sapatos-bolotas. E é claro que eram extremamente incômodos e desagradáveis de usar. Mantiam os pés apertados, presos e à mostra. Finalmente, eram moldes transparentes tentando mater meus passos sobre contole e vigilância constante.
E por que não quebrava as formas de pés afinal? Por que não me livrava do incômodo dos passos presos e pré-determinados? Simples: medo. Medo de me machucar, medo de andar descalça. Medo de agir fora do molde, de não ter uma receita simples a seguir. Mesmo que eu nem gostasse tanto assim da receita, era mais fácil agir assim, do que inventar uma receita nova. Uma receita nova sempre tem a possibilidade de dar errado, de não sair de acordo com o esperado. Mas quem precisa andar dentro do esperado? Por que não se permitir a surpresa, o erro, a descoberta?
São perguntas sem resposta. São as questões da vida, ainda. Da minha vida, digo. E pensando nessas questões, expressões como "pegar no pé", "dar no pé", "ser pega pelo pé", "acordar com o pé esquerdo", "ter cuidado onde pisa", passam a ter um significado diferente, maior, revelador talvez.
Enquanto tento descobrir o significados obscuros e secretos disso tudo, vou dar uma passadinha na pedicure que ninguém é de ferro. Ou de vidro. E os pés agradecem.

domingo, junho 05, 2005

astros

Segundo previsões do meu mapa astrológico, ontem foi o último dia de um tânsito de planetas que fazia a minha vida estar um inferno. Não tô acreditando muito ainda não, mas a esperança, sabe como é, a última que morre. Será que finalmente terei momentos de paz e de movimento ascendente? Será que as oportunidades vão enfim se tornar realidades? Espero que os astros tenham realmente tanta influência assim e que, mesmo no meio do meu inferno astral, eu volte a ser a mulher alegre, feliz, bem disposta e, acima de tudo, guerreira que sempre fui!!
Um brinde às estrelas!!

aniversário

- oi, Deh!
- oi!! tudo bem?
- tudo bem! então, tô te ligando pra saber onde vai ser a comemoração!
- de quê?!?
- ué, do teu aniversário!!
- ah, vai ter não...
- comé que é??!
- é, sem comemorações...
- mas ano passado você comemorou três vezes!! esse ano nada?!
- ahh, mas ano passado tinha a expectativa dos trinta anos, né? além disso eu tinha que fingir que tava feliz da vida fazendo trinta... agora já sei como é...
- melhor, já nem vai doer tanto!!
- mas é como um anticlímax, entende? foi uma espera tensa, sabia que era inevitável fazer trinta mas esperava algum acontecimento extraordinário... como se minha vida fosse mudar de repente, eu fosse envelhecer da noite pro dia ou, então, viraria uma mulher madura, completa e segura de si... não aconteceu nada disso!! imagina se agora nos trinta e um vai acontecer... bah!
- Deh, você tá me deprimindo...
- mas é só a verdade! não vou fazer nada, não tem clima, não quero parabéns, quero ficar quietinha e sozinha... como provavelmente serão os restos dos meu dias...
- ai, pára! vou começar a chorar aqui... pôxa, tem alguma coisa que eu possa fazer pra você se sentir melhor?
- ahnn... bem, pensando assim, até que tem...
- fala, querida!! o que posso fazer?
- ...humm... uma festa surpresa??

sexo e/ou namoro

Me pergunto porque o sexo toma um lugar de tanto destaque na vida de algumas pessoas. Veja bem, amo sexo. Difícil viver sem. Aliás, dificilimo. Mas sexo pelo sexo e só?
Claro que atire a primeira pedra quem nunca na vida, nem uma vezinha, fez sexo casual. Tem lá o seu encanto. Seu mistério. O desafio do desconhecido.
Mas tudo fica infinitamente mais saboroso se vem recheado com sentimento. E, venhamos e convenhamos, se foi um bom encontro (e estou falando aqui dos bons) quase impossível não passar pela cabeça que aquele encontro sexual vai evoluir. Vai ter repeteco, mais duas ou três vezes. E sexo casual depois de dois ou três encontros passa a não ser mais casual. Passa a ser sexo combinado, esperado. Passa a envolver algum tipo de sentimento. Passa a ter cara de início de relacionamento. Namoro.
A verdade é que isso quase nunca acontece. Os relacionamentos que começam na cama geralmente não evoluem. Porque é um começo de trás pra frente. Não sou nenhuma puritana, não acho que o sexo em um primeiro encontro nos diminui, ou algo de gênero. Mas o que de fato acontece é que sexo entre pessoas que já se conhecem, já se gostam, têm uma amizade é insuperável! Coloca qualquer sexo casual no chinelo. Mesmo os "espetaculares".
Penso em lançar uma campanha. Vamos todos namorar. Vamos só transar apaixonados. Ou pelo menos gostando muito de alguám. Vamos ficar com alguém pela pessoa. Que o sexo seja a conseqüência desse bem estar e não o objetivo principal. Vamos mandar flores. Beijar à luz do luar. Caminhar de mãos dadas. E aí sim transar no tapete da sala entre sorrisos e suspiros, brincadeiras e cumplicidades!
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Acho que estou sob o efeito da aproximação do Dia dos Namorados...

quarta-feira, junho 01, 2005

coleção

Sou uma colecionadora. Sei que isso é uma característica do ser humano e principalmente das mulheres, originalmente coletoras. Daí vem a nossa necessidade de consumo, de guardar coisas, de colecionar e catalogar objetos.
Desde que me entendo por gente ajo assim. A princípio sem objetivo definido. A coleção por ela mesma. O prazer simples de guardar, de possuir. Já colecionei coisas tão diversas e inúteis que suas lembranças me provocam risadas .Quem, afinal, alguma vez na vida precisaria de uma coleção de rolos de papéis higiênicos vazios? Ninguém, aposto. Nem eu precisava. Mas tinha.
Passei pelo período óbvio e normal de colecionar papéis de carta, figurinhas, gibis da Turma da Mônica, revistas do Asterix, io-ios da Coca-cola, playmobis, miniaturas... Depois enveredei por algumas coisas mais estranhas, como recortes e reportagens a respeito de guerras nucleares e suas conseqüências, efeito estufa, problemas na camada de ozônio. Nessa fase, passei a coletar e catalogar informações.
Hoje sou uma colecionadora de sentimentos. Guardo todos. Organizo por datas, por importância, por pessoas. É uma coleção ligada intimamente à coleção de lembranças. Minha lembrança mais antiga é de quando eu ainda nem andava. Oito meses de idade, minha mãe fazendo uma mamadeira tão esperada. E está carregada de sentimentos bons, quentes, aconchegantes.
Essas emoções todas guardadas têm um objetivo finalmente. O do aprendizado. Começo a compreender a relação entre as pessoas, as paixões que movem os seres humanas, as dores, as angústias, as felicidades, os amores. As inseguranças e fraquezas, tão minhas também, tão comuns a todos. Inicio o processo de ver por dentro, por trás do óbvio, através das capas e máscaras protetoras.
A internet é um bom lugar para se aprender um bocado. Aqui temos um laboratório rápido e eficaz, para quem quiser usá-lo, onde se fabricam vidas e sentimentos. Pode-se viver mil vidas em uma e extrair o que há de bom em cada uma delas. Criam-se lembranças, expectativas, lágrimas e sorrisos. Nunca, em período algum da história humana, existiu tão grande possibilidade de aprendizado.
E sou uma apaixonada por informação, por experiências. Estão guardadas juntos com os sentimentos e lembranças e são material farto, caldaloso, instigante. Escrevo tudo. Publico pouco. Mas o material tá crescendo, tá criando vida, tá dando muda. Um dia vou expôr tudo. Qual faria um colecionador de artes num museu. Só que no meu caso vão estar expostos em páginas. Nas páginas de um livro.