sexta-feira, junho 17, 2005

Vibe Zone

Começou há, mais ou menos, uns 10 dias:
- Dinda, me leva no Vibe Zone?
- Você não pode entrar... não tem idade...
- Posso sim! Maiores de 12 anos podem ir acompanhados de um responsável!
- Você tem 11 anos...
- Tecnicamente já tenho 12. Eu nasci em 93!!
- Quanto é a entrada?
- er... assim... é... 70,00... cada uma... mas já pedi pro meu pai comprar! só falta alguém pra ir comigo!!
- 70,00?? que caro, hein?! e o que vai ter lá?
- Ahhh, vai ser muiiiito maneiro!! Vai ter tenda de música eletrônica, shows, tenda de azaração, pista de skate, tobogã, um monte de coisas radicais, banda de rock...
- ai, tô até cansada!
- Dinda você vai se amarrar!! É um monte de coisas que você curte também, do nosso jeito!!
- unhum...
- Por favor, por favor, por favor, por favooooooooooor!!
- Tá. Levo.
- Obaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!
Aí que meu irmão deixa tudo pra última hora e os ingressos acabaram. Foi choradeira total. O mundo caiu sobre nossas cabeças. Minha querida e feliz afilhada passou para o outro extremo: o ser mais triste, injustiçado e infeliz do mundo.
- Isso não é justo, Dinda.
- Filha, sei como você se sente, mas são coisas que acontecem. Tem que se programar com antecedência.
- Mas é a minha primeira grande saída!! Nunca fui num lance tão maneiro desses... eu queroooo!!
E o chororô recomeçava.
Meu irmão, penalizado com as lágrimas da filhota, colocou os conhecimentos dele pra funcionar. E lembrou, ontem à tarde, que trabalhou com a filha do diretor da Coca-cola no Brasil. Sem grandes delongas, ligou pra ela e conseguiu dois convites. Para hoje.
Como promessa é dívida, e promessa pra afilhada é mais do que dívida, é uma obrigação de vida, resignei-me com o meu fatídico destino dessa sexta e tentei realmente curtir a noite. Afinal, era o debut da minha princesinha. E eu teria o privilégio de ser a "responsável acompanhante"!!
Empenhei-me com dedicação a todos os preparativos. Vi com ela a roupa, ajeitei as presilhinhas coloridas no cabelo, expliquei a ela o que poderíamos encontrar pela frente, como poderia ser, a quantidade de pessoas, passei "pó de asa de borboleta" em suas maçãs do rosto para ficarem furta cor... enfim, uma festa!
E fomos. Andamos bastante, os acessos fechados, pessoas caminhando pelas ruas e via seu olhinho brilhar, seu sorriso iluminado pela novidade, pela hora tão esperada chegando: a hora de estar crescendo.
Enfrentamos uma grande fila pra entrar, fomos ambas revistadas, bolsa olhada. Pra mim, tudo normal. Pra ela um mundo novo que se descortinava.
A entrada, como de todo grande evento, é apoteótica. Luzes, barulho, música, brindes... e de repente surge aquele mundo de pessoas, de palcos, de brilhos, tudo visto do alto. Seus olhos se arregalaram. Ela não esperava por algo tão grande!
Passeamos por todas as tendas, tentamos ficar vendo alguns shows, mas eram muitos adolescentes, faixa etária mais alta do que a dela e muito menor do que a minha. Algumas brigas, algum empurra-empurra. Como eu já sabia que seria. Como ela nem imaginava que pudesse ser.
Até que, minha lindinha, 2 horas depois da chegada, com cara de que as coisas não estão bem do jeito que gostaria fala:
- Dinda... eu não tô muito confortável aqui. Sabe, é todo mundo muito mais velho...
- Eu entendo, também não estou muito... é todo mundo muito mais novo...
- É... é como se eu estivesse fora do lugar.
- Não foi o que você esperava?
- Foi, por um lado... é lindo, enorme, muita música...mas muitos problemas...
- Muitos problemas?!
- É... muita gente, teve aquela briga que a gente viu, as pessoas esbarram, tô me sentindo a pirralha... assim, tá chato...
- Se você quiser ir embora, não tem problema, querida. Quer ir?
- Ah, quero sim!! Você não fica chateada?
- Claro que não!! Imagina!!
E respirei aliviada. Estávamos ambas fora do lugar. Ambas desconfortáveis. Mas a minha única preocupação era com ela, com o seu bem-estar e com as conclusões que poderíamos tirar juntas de tudo isso.
Eu tinha esquecido como é um lugar com tantos adolescentes juntos. Realmente é assustador. Eles gritam, correm, te esbarram, querem fazer tudo e ao mesmo tempo. E querem sentir-se adultos, o que torna tudo um tanto engraçado. Adultos não gritam e correm o tempo todo, como se não houvesse tempo de vida pra fazer tudo o que se quer. Salvo excessões, claro.
Isso tudo deu material pra uma boa conversa com Bia na nossa volta. Andamos bastante e podemos avaliar como as coisas têm o seu tempo certo, a hora certa de serem feitas. Ela me confirmou que esse foi o melhor exemplo que ela pôde ter. Esperou muito por essa ocasião, mas não era a hora dela, não estava preparada pra isso ainda. Mas se não tivesse tido a oportunidade de ir, provavelmente teria se sentido frustrada e teria tido a certeza de ter perdido o evento do ano, ou ainda, da sua vida!
Fico feliz de ter podido proporcionar as ferramentas pra essa descoberta dela. E minha também. Comecei a ver certas coisas com outros olhos. Sou sempre permissiva, sempre acho que não tem grandes problemas a liberação de uma jovenzinha. Tem sim. E muito. A verdade, é que tô encaretando. Vi o quanto é preciosa a vida, o quanto os jovens não sabem muito bem o que fazem, o quanto meus pais devem ter sofrido comigo... tanta rebeldia. Rebeldia que tem os seus reflexos ainda hoje na minha vida.Na verdade, pude perceber que estou agora, aos quase 31 anos, finalmente virando adulta. E que, ao contrário do que eu temia, não dói nada e é realmente bom.
Uma última certeza, extraída disso tudo: filho meu no Vibe Zone? Nem que a vaca tussa!!