sábado, junho 11, 2005

polaridade

Ela me pega, me arrasta, me finca os pés na realidade.
Eu vôo, deliro, suspiro, sorrio.
Ela não quer o céu, quer a terra.
Eu me alimento de nuvens e de mar.
Tem uma insistência em me jogar na vida crua, dura, seca.
Mas me desamarro, ganho asas, decolo.
Ela persiste no real pastoso, patinante e pegajoso.
Acredito no fluido, no mágico, no energético.
Vive pensando em formas retas, quadradas.
Eu sou curvo, circular, elíptico.
Seu sangue é gelado, metálico, ártico.
A vida transborda nos meus olhos quentes.
Seus cabelos sedosos, brilhantes, ordenados.
Contraste claro à rebeldia dos meus cachos.
Antagônicos e complementares.
Dependentes e viciados.
O sentido está com ela, minha vida é escrava.
Sou senhor de minha dona.
Servo e rei de um amor.
Um amor que às vezes é ódio.
Na cama, dois animais que se amam, que se matam.
Polares, nos anulamos e nos encaixamos.
Ela não é ninguém. Eu não sou ninguém.
Juntos somos um.