quarta-feira, junho 01, 2005

coleção

Sou uma colecionadora. Sei que isso é uma característica do ser humano e principalmente das mulheres, originalmente coletoras. Daí vem a nossa necessidade de consumo, de guardar coisas, de colecionar e catalogar objetos.
Desde que me entendo por gente ajo assim. A princípio sem objetivo definido. A coleção por ela mesma. O prazer simples de guardar, de possuir. Já colecionei coisas tão diversas e inúteis que suas lembranças me provocam risadas .Quem, afinal, alguma vez na vida precisaria de uma coleção de rolos de papéis higiênicos vazios? Ninguém, aposto. Nem eu precisava. Mas tinha.
Passei pelo período óbvio e normal de colecionar papéis de carta, figurinhas, gibis da Turma da Mônica, revistas do Asterix, io-ios da Coca-cola, playmobis, miniaturas... Depois enveredei por algumas coisas mais estranhas, como recortes e reportagens a respeito de guerras nucleares e suas conseqüências, efeito estufa, problemas na camada de ozônio. Nessa fase, passei a coletar e catalogar informações.
Hoje sou uma colecionadora de sentimentos. Guardo todos. Organizo por datas, por importância, por pessoas. É uma coleção ligada intimamente à coleção de lembranças. Minha lembrança mais antiga é de quando eu ainda nem andava. Oito meses de idade, minha mãe fazendo uma mamadeira tão esperada. E está carregada de sentimentos bons, quentes, aconchegantes.
Essas emoções todas guardadas têm um objetivo finalmente. O do aprendizado. Começo a compreender a relação entre as pessoas, as paixões que movem os seres humanas, as dores, as angústias, as felicidades, os amores. As inseguranças e fraquezas, tão minhas também, tão comuns a todos. Inicio o processo de ver por dentro, por trás do óbvio, através das capas e máscaras protetoras.
A internet é um bom lugar para se aprender um bocado. Aqui temos um laboratório rápido e eficaz, para quem quiser usá-lo, onde se fabricam vidas e sentimentos. Pode-se viver mil vidas em uma e extrair o que há de bom em cada uma delas. Criam-se lembranças, expectativas, lágrimas e sorrisos. Nunca, em período algum da história humana, existiu tão grande possibilidade de aprendizado.
E sou uma apaixonada por informação, por experiências. Estão guardadas juntos com os sentimentos e lembranças e são material farto, caldaloso, instigante. Escrevo tudo. Publico pouco. Mas o material tá crescendo, tá criando vida, tá dando muda. Um dia vou expôr tudo. Qual faria um colecionador de artes num museu. Só que no meu caso vão estar expostos em páginas. Nas páginas de um livro.