segunda-feira, agosto 28, 2006

du iu ispiqui inglishi?

E lá se vai um mês exatamente desde meu último post. Tô virando a maior preguiçosa da paróquia. Claro que Tomzinho vive me dizendo pra escrever, claro que assunto tem aí aos borbotões. É só andar com a antena ligada que a gente sai tropeçando em coisas "escrevíveis" em cada esquina.
Mas o problema é justamente um mal contato nas antenas. Tô cheia de interferências. Cheia de preocupações enviando ondas e mais ondas à minha central de criatividade literária. Não que o que eu faço seja propriamente literatura. Já sei disso. Mas falo não num sentido, digamos, literal, mas num sentido figurado, usando "literatura" no lugar de "escrita".
Enfim, acabo de passar, precisamente, 12 dias com Merlin, meu enteado de 14 anos, lindos olhos azuis, aparelhos nos dentes, amante inveterado de vídeo games e afins e que, para o meu desespero comunicativo, não fala uma palavra de português. Quer dizer, não falava. Agora fala "oi", "obrigado", "de nada", "desculpe", "filho da put...". Eu ensinei alguma coisinha pra ele não passar sufoco, né? Mas fora esse básico do básico, é encarar um inglês pesado, ligeiro, de New Jersey, um inglês de quem não tá ligando muito se tá sendo compreendido. E eu como a mulher do pai, a madrasta ou, com a tecla sap ligada, a stepmother, tinha que correr atrás do prejuízo, tinha que entender, tinha que me comunicar.
O que aconteceu de fato é que eu perdi a vergonha totalmente. Sabe aquele medo de pagar mico e trocar alhos por bugalhos? Foi pro saco. Sabe aquela sensação que vc é um ET e que vc fala numa língua initeligível, como "¢∂ß©ƒˆ ¨¥ƒˆ¶∑œƒ¨¥®∂ƒ ©ƒ∂¨¥†∑?" (tradução: quer almoçar?)? Esteve sempre presente. Mas assumi as antenas de marciana e continuei falando. Claro que teve horas de eu praticamente implorar pra ele repetir uma frase uma 25 vezes. E é claro que não adiantou, eu continuei sem entender, mas parei de pedir com medo de tomar uma dentada. Se fôsse eu, com certeza, já teria partido pra violência física lá pela pergunta de número 8... quanto mais 25!!
Falando dele especificamente, posso dizer que fui tratada com bastante benevolência e compreensão. Mais ainda do que eu poderia esperar de um menino dessa idade. Ele me ensinava as palavras, me corrigia quando tava errada (de 2 em 2 minutos, para ser mais precisa), me ouvia de olhos bem abertos (acho que era pra poder me ouvir melhor, ou talvez pra tentar adivinhar o que eu estava falando, ou ainda, pra descobrir que cacete de língua era esse em que eu balbuciava). Fizemos muita companhia um ao outro, rimos juntos, comemos sushi, falamos sobre séries de TV, filmes, video games, tiramos fotos de língua de fora. Enfim, foi tão bom que chorei um rio quando deixei ele no aeroporto.
E aí eu volto ao assunto do dia, "comunicação". A verdade é que nós dois tínhamos dificuldades em entender o que o outro estava falando. E era verdade também que precisávamos ficar muito tempo juntos sem o nosso tradutor oficial, atarefadíssimo, envolvido em um milhão de ensaios. E é claro que poderíamos ter nos rendido às dificuldades iniciais e nem termos nos dado ao trabalho de tentar nada. Mas tentamos sim. Mesmo tendo idades bem diferentes, mesmo sendo pessoas estranhas, nos conhecendo nessa overdose de presença um do outro, mesmo tendo assuntos e vidas tão diversas, acabamos amigos. Acabei ouvindo dele que eu sou "legal" ou "you're all right". E ele acabou sendo apertado num abraço, entrecortado de beijos, e escutando ao pé do ouvido que vou sentir muita falta dele. Segurando as lágrimas, claro.
Isso tudo pra dizer que falta de comunicação é falta de amor, de boa vontade entre as pessoas. Talvez seja por isso que me sinto tão estranha quando vejo Tom muito calado. Primeiro porque a natureza dele é a de uma mama italiana encerrada num corpanzil de americano, ou seja, ele fala e gesticula pelos cotovelos. Segundo porque sempre acho que a única razão para as pessoas não se comunicarem é a falta de vontade, de carinho. Com as barreiras do preconceito e das idéias pré-concebidas baixadas, a comunicação acontece naturalmente. E tive essa prova dentro de casa. Claro que eu nunca disse que é fácil. Isso não é não. Mas é compensador. Foi maravilhoso ganhar um amigo. Foi ótimo esse amigo ser filho do Tom, o meu alto do pódium em amizade. Assim, posso dizer que amigo é família, e que a minha família tá crescendo e ficando cada dia mais recheada de pessoas interessantes e diferentes. Cada dia mais bonita.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

estou passeando pelos seus textos, passarei por Lidice amanhã, então procurava algo para ler sobre. Há um tempo me disseram que o imporntante não é bem o teor do conto, mas como se conta um conto. Já sei que vou chegar com um olhar para esta cidade muito especial. Seus contos são muito pessoais, ricos, diria saborosos. Continue escrevendo, precisamos saber quem somos e para onde vamos, rs. abraço.

9:06 AM  

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