segunda-feira, setembro 26, 2005

continuando com teclados

Acabou-se o pânico. Teclado comprado. Ontem mesmo. Eu saí e fui pra CDM, como ficou devidamente registrado no post anterior. Tomzinho ficou e não se deu por vencido. A depêndencia faz milagres. Conclusão: estou agora vos escrevendo de um super-mega-hiper-plus teclado sem-fio, acompanhado de um mouse ótico igualmente remoto. Um luxo só. Foi uma lenga-lenga e um rame-rame até a instalação ser finalizada. Cheguei aqui e Tom estava arrancando os cabelos (pra não me utilizar de expressões de baixo calão falando de pêlos pubianos). Duas horas pra instalar um teclado para PC, caro pra chuchu, com tecnologia da Microsoft num computador com tecnologia Apple. Tipo água e azeite, difícil de se misturar. Mas está feito e com louvor. Obra do meu gringo. Salvação da casa e da lavoura. E eu de volta. Em grande estilo.

domingo, setembro 25, 2005

água mole em teclado duro tanto bate até que estraga

A água é um líquido santo, que hidrata, fertiliza, refresca o clima, a alma, faz bem para os olhos quando estamos frente ao mar. Mas, como tudo na natureza, pode ter uma força destrutiva. Vide as grandes enchentes ocasionadas pelos furacões nos Estados Unidos. O último temporal aqui no Rio, de dois dias atrás se não me engano, também fez dos seus estragos. Barreiras caídas na Favela Dona Marta, ruas cheias, carros enguiçados e engarrafamentos quilométricos.
Em casa tivemos também um acidente devastador. Eu, boa amiga, namorada, esposa (?), levei um copo d'água para Tomzinho. Com gás, diga-se de passagem. E, bem na hora em que estava descarregando as fotos de um dia delicioso, eis que o braço de Tomzinho esbarra no copo e esse, quase em câmera lenta, vira entornando todo o líquido precioso em cima do teclado. Teclado para Machintosh. Teclado para porta USB. Teclado que não vende na Casa e Vídeo.
Isso aconteceu ontem. O teclado ainda nos pregou uma peça, funcionando bem à noite, depois travando a tecla de espaço. Agora parou. Nada mais funciona. Conclusão: estamos sem internet (porque não dá pra se logar), não podemos escrever e-mails, baixar fotos, nada nada.
Já corremos mundo nesse domingo atrás de um teclado, na esperança de voltarmos à nossa vidinha normal. Até achamos algo que podia funcionar, mas com preços bem acima do esperado, praticamente proibitivos. Duzentas pratas. Ainda existe a esperança do Edifício Avenida Central amanhã.
No momento, escrevendo do computador de CDM, só me resta filosofar. Filosofar sobre a força da água, vital e destruidora a um só tempo, filosafar sobre os grandes (e pequenos) imprevistos da vida, filosofar como dois seres humanos podem ser tão dependentes de uma máquina. E lembrar, que mesmo contra nossas vontades, um braço pode estar no meio do caminho, e entornar o caldo, travar vidas e teclados, impossibilitar conexões sentimentais e virtuais, fazer reiniciar máquinas e pensamentos. E sem que ninguém seja realmente culpado por isso. São simplesmente obras do acaso, de coincidências. Ou do grande, mal e vingativo Deus Cibernético.

sábado, setembro 17, 2005

de violinos

Sou uma grande apreciadora de boa música. E está claro que acho que o aparecimento de bons profissionais na área está intimamente ligado ao estímulo dado ao estudo, ao aprendizado e às apresentações públicas desses mesmos alunos. Apoiadíssimo.
Mas, de qualquer modo, mesmo sentindo uma pontinha de dor na consciência por falar isso, aturar violino mal tocado é complicado. Aliás, é foda mesmo. Isso tudo pra falar do concerto assistido ontem, onde pude apreciar uma cravista excepcional, acompanhada por uma orquestra de alunos de uma escola de música. Muitos violinos. Muito mal tocados. Ouvido muito dolorido. Uma pena.
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Já sei, muito rabugenta.

de bonecas infláveis

Segundo nota publicada hoje no O Globo, a mania entre os homens solteiros japoneses, desde mais ou menos 1999, é comprar e (acho) utilizar bonecas infláveis para sua particular diversão. As bonecas estão cada vez mais realistas e têm carinha de ninfetas, vindo acompanhadas de bichinhos de pelúcia e tudo.
Pintou a curiosidade em saber qual é a graça em praticar atos sexuais com algo que se parece com uma mulher, mas que não se mexe, não reage, não diz "eu te quero". Tive vontade de fazer uma pesquisa entre os amigos, mas é totalmente sabido que brasileiros , principalmente cariocas, não têm necessidade de recorrer a esse tipo de artifícios, dada a grande oferta feminina no mercado. Resta pedir opiniões, ainda que hipotéticas, sobre o assunto. Alguém se habilita a falar a respeito? Quem transaria com uma "menininha" de plástico?

domingo, setembro 11, 2005

estrada colonial - de vila inhomirim a petrópolis



Em exploração anterior, eu e meu querido namorado gringo, conhecemos Vila Inhomirim, estação final de trem da linha 5 que sai da Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro. Foi nesse dia, também, que travamos nosso primeiro contato e conhecimento com a estrada colonial, construida por escravos nos idos de 1723 e que foi, durante anos a fio, o único acesso a Petropólis, tendo servido de passagem inúmeras vezes para o príncipe regente e, posteriormente, ao imperador.

Bom, o fato é que nos maravilhamos com a informação de que a estrada chega até Petrópolis, subindo por um lado só conhecido por quem efetivamente já subiu a estrada a pé já que, há muito tempo, é impossível percorrê-la de carro. Quando muito, e não em todos os trechos, há a possibilidade de subir de moto. Mas tem que ser macho e habilidoso.

Como nem eu nem Tom temos essas aspirações motoqueiras e a nossa praia é subir montanha a pé, resolvemos nesse último sábado que estava na hora da tão esperada aventura: ir para Petrópolis, desde Vila Inhomirim, subindo a estrada colonial.

Saímos de casa, em Botafogo, por volta das 8:30 da manhã. Pegamos o metrô até a Central do Brasil. Da Central, o trem até Saracuruna e de lá, finalmente, outro trem até Vila Inhomirim. A viagem leva aproximadamente 2:30 horas e, como sempre, vem recheada de diversões e curiosidades dentro desses vagões cheios de vida dos trens cariocas. Tem-se uma feira habitual, pessoas falando, conversando alto, gente cantando, rindo, além da possibilidade de se comprar de tudo, desde refrigerantes e paçocas a pilhas e envelopes.

A chegada a Vila Inhomirim aconteceu por volta das 11:00 da manhã, em meio ao falatório incrível de crianças de uma escola da redondeza, que também viajavam conosco, voltando de um desfile que fazia parte, ainda, das comemorações do dia 7 de setembro, dia da independência do meu Brasil brasileiro.

A chegada é sempre surpresa e gostosa a Vila Inhomirim, verdadeiro oásis e refugio pra olhos e sentidos, depois do trem passar por tantos lugares áridos, pobres e declaradamente feios. Ficamos sempre com esse sorriso estampado e esse ar perplexo e feliz. Dessa vez, claro, não foi diferente e foi com esse ar satisfeito que caminhamos cerca de 5 minutos, saindo da estação, até a Pensão da Vovó Dui, lugar honesto e aprazível, onde já tinhamos almoçado na última viagem, e que não podíamos deixar de repetir. Estômagos claramente reclamando, pedimos a Reinaldo (o dono do estabelecimento) um prato feito de comida mineira e uma garrafa de soda Convenção. Dois garfos, um prato e um dia lindo, fizeram de nosso almoço um banquete digno de reis, ou de imperadores, soberanos que se encaixam melhor no contexto petropolitano.

Almoço resolvido, partimos para a nossa expedição. Duas garrafas de água na bolsa, dois sanduíches, muita vontade e curiosidade e algum nível de irresponsabilidade já que, de fato, não tínhamos conversado com ninguém que tivesse subido a estrada, que conhecesse o caminho, que tivesse detalhes da trilha pra nos dar. Não sabiamos nem o tamanho do caminho e nem o tempo que levaríamos. Fui preparada psicologicamente para encarar algo como 7 horas de caminhada! Chegamos no início da estrada às 11:50 da manhã, sol a pino, pedras seculares à nossa frente e uma subida bastante íngrime que começava a se descortinar.


Poucos minutos depois do início da aventura, tivemos a sorte de conhecer Antônio, um cara de seus cinqüenta e tal, físico invejável, e que foi nascido e criado em Raiz da Serra (nome original de Vila Inhomirim). Ele conhece a estrada a vida inteira, sobe sempre pra Petrópolis por lá e se ofereceu pra nos acompanhar até um certo ponto. Eu, como boa e desconfiada carioca, com aquelas neuras da cidade grande, fiquei com os dois pés atrás, mas Tom (ainda bem que existe o Tom) é um cara mais light, que acredita na boa vontade alheia (e está totalmente certo nisso), achou a companhia providencial e aceitou de bom grado.

Aceitar a companhia de Antônio foi uma atitude sensata e inteligente. A estrada vai se fechando e sumindo no meio do mato poucos quilômetros a frente, tornando-se uma trilha de poucas pedras, encravada no meio de mata atlântica fechada, úmida e fresca. Vamos subindo beirando paredões de pedra de tirar o fôlego, com uma variedade e quantidade de árvores impressionante. Nosso guia veio mostrando uma infinidade de ervas medicinais, como arnica, que serve para pancadas e machucados, assa-peixe, usada no tratameto de bronquites e doenças respiratórias, azedinha, um trevinho que faz bem pra coração e circulação e que tem um sabor bem azedo e agradável, moranguinhos silvestres (confesso, como total urbanóide paranóica, tive medo de comer e morrer envenenada. Mas comi, são muito gostosos e nada tóxicos!), cipó-cravo, saião etc. Impressionante os seus conhecimentos, tanto em relação às ervas quanto à história da estrada ao longo dos anos. Nos contou sobre torturas e prisões feitas na mata no período recente da ditadura militar, prisões de bandidos, localização das senzalas nos idos do império, túmulos de escravos mortos durante a construção da estrada, além de lendas, como a de uma cobra de 14 metros de comprimento que devorou, sem mastigar, a filha, ainda criança, de um senhor que passeava pela mata e esse, encontrado-se desgostoso da vida pela morte da filha, foi de novo para a floresta e acabou devorado pela mesma cobra. Esse "monstro" teria sido capturado, morto e posteriormente fatiado em postas de cerca de 40 cm de diâmetro!! Não pude resistir e perguntei:
- Mas o senhor chegou a ver a cobra ou alguém lhe contou a respeito?
Ao que respondeu:
- Eu vi!!
Só me resta respeitar a história, desconfiar acreditando, já que seguro morreu de velho e de guarda-chuva. E, falando em cobras, Antônio nos previniu durante todo o percurso para ficarmos de olhos bem abertos, olhando para o chão e para os lados, afim de evitar encontros desagradáveis, doloridos e venenosos com esses seres, ao que dei a maior força. Picada de cobra era o tipo de coisa que estava fora dos meus planos, definitivamente.

O caminho tem três pontos cruciais que sem o guia teria ficado bem difícil e até um pouco perigoso. São três bifurcações, em diferentes pontos da estrada, onde se perde a obviedade do caminho e pode-se pegar direções opostas às corretas. O primeiro ponto fica a cerca de 30 minutos do início da caminhada, onde a trilha se divide em dois, sendo realmente impossível escolher o sentido correto (seguir à direita) sem conhecer previamente o local. O segundo já é bem mais a frente, num ponto de caminho aberto, muito perto das encostas. Pegando-se a direção oposta a Petrópolis (o que fizemos conscientemente e com a orientação de Antônio), chegamos a uma pequena queda d`àgua, com uma série de poços de água gelada e cristalina, boa de beber e de tomar um bom banho revigorante. Nesse ponto temos as primeiras vistas realmente boas, antes escondidas pela mata fechada. É um lugar florido, com muito verde e pedras, muitas pedras. Paredões verticais quase oprimentes de tão grandes e fortes. Impressionante a beleza.

De volta à direção correta, rumo ao topo, vamos tendo acesso a vistas maravilhosas, onde além das montanhas, começamos mais e mais, conforme subimos, a vislumbrar a baixada e partes do Rio de Janeiro.

Depois de quase 2 horas de caminhada, chegamos ao terceiro ponto de bifurcação do caminho. É a chegada a uma estrada quase civilizada, já sendo possível a passagem de alguns veículos e onde, antigamente, passava o trem com destino a Petrópolis. Como nos foi relatado, o comboio era composto por uma pequena locomotiva movida a lenha que puxava dois vagões, relativamente leves, feitos de madeira e com bancos para transportar passageiros. Pudemos observar um pouco depois, em um parque já no alto de Petrópolis, no bairro chamado Alto da Serra (ponto mais alto de toda a travessia), que o trem contava com uma ajuda crucial de catracas no meio dos trilhos, que puxavam todo o conjunto de locomotiva e vagões. Sem isso seria virtualmente impossível subir, dada a verticalidade do terreno. Mas, mesmo com todo esse aparato, Antônio ainda nos contou sobre um acidente acontecido há, provavelmente, cerca de quarenta anos, quando a locomotiva não agüentou a subida e soltou os vagões, provocando um acidente de grandes proporções. Mas são coisas do passado. Ficaram apenas na memória de quem pôde desfrutar dessa subida romântica e bucólica, envolta em vistas espetaculares, na antiga e arcaica maria-fumaça.

Mais alguns minutos de caminhada e chegamos ao primeiro pontilhão, uma pequena ponte construída sobre um desfiladeiro para a passagem do trem. Nesse ponto já estamos dentro do município de Petrópolis e a uma grande altitude. As vistas, agora, são absurdas, podendo-se ver toda a já logínqua cidade do Rio de Janeiro. A visão é panorâmica, nomeando-se o Pão-de-açúcar, o Corcovado, o Pico da Tijuca, a Pedra da Gávea, além de quase toda a baixada Fluminense. Nunca tinha tido acesso a uma visão tão ampla da cidade assim.

Na seqüência, chegamos ao segundo pontilhão, mais largo e muito mais alto. Olhando pra baixo ê impossível não sentir aquele frio na barriga ao constatar que simplesmente não dá pra ver o fim do precipício. Essa segunda ponte é bastante antiga, feita toda de pedras e com estrutura em arcos, o que nos fez imaginar ter sido construída no mesmo período da estrada colonial. Nesse ponto a parada para fotos e admirar a paisagem é obrigatória, tanto para apreciar a beleza abundante como para meio que se despedir do ambiente mais selvagem. Começamos a avistar as primeiras casas e a entrar nos limites da cidade de Petrópolis, totalizando umas 3 horas de caminhada.

Com a chegada à civiização, uma paradinha estratégica numa casa para tomar um sacolé e resfrescar a cabeça, é reconfortante. Sacolé, pra quem não conhece, é um sorvetinho feito em casa e congelado dentro de um pequeno saco plástico. A "técnica" de consumo é simples: corta-se a pontinha do saco com os dentes e vai-se chupando o líquido gelado e doce enquanto descongela. A variedade de sabores exposta no cartaz era grande, mas nós três optamos pelo tradicional chocolate. É verdade que estava um tanto aguado e com pouco gosto mas àquela altura do campeonato e a R$0,25 cada um, nos deliciamos e lambemos os beiços!

Com a chegada às estradas pavimentadas (não com asfalto ainda, mas de paralelepípedos), era hora de nos despedirmos do nosso guia e seguir até o centro de Petrópolis por nossa conta. Já não tínhamos mais o risco de nos perder, podendo nos informar com as placas e os vários transeuntes. Demos a Antônio uma pequena gorjeta ao que ele aceitou entre surpreso e feliz. Era claro que tinha nos ajudado de bom grado mas que também seria um dinheiro bem vindo. Grande cara.

Seguimos subindo as ruas íngremes e curvas da cidade, rumo ao centro, nosso objetivo final. Como fizemos todo o caminho praticamente sem paradas, sentamos durante alguns minutos na mureta da estrada e ficamos ali felizes, sol no rosto, ventinho gelado, vista espetacular, pernas cansadas e sensação de vitória no coração. Mais uma hora e estávamos já sentados num restaurante, Tom se deliciando com um enorme sundae de morango e eu, mais modesta e curando um enjôo ocasionado pelo esforço físico, bebendo um suco de abacaxi. Merecíamos o descanso e a regalia. Fomos, claro, recompensados durate todo o percurso com vistas maravilhosas, natureza deslumbrante, cachoeiras e histórias. Mas o corpo precisava agora de um carinho e foi com felicidade que sentei na poltrona do ônibus com ar condicionado rumo à Rodoviária Novo Rio.

Dicas e anotações

O trem da Central do Brasil até Vila Inhomirim leva aproximadamente 2:30 h para chegar lá e custa R$1,80. A integração com o metrô custa R$3,30, sendo bastante prático e mais barato utilizar o meio de transporte ferroviário.

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O prato feito na Pensão da Vovó Dui custa a bagatela de R$3,50 e pode-se perfeitamente dividir por duas pessoas. No prato de comida mineira você pode degustar arroz, feijão, couve à mineira, lingüiça acebolada, banana à milanesa, torresmo e ovo cozido. A garrafa de soda limonada Convenção de 600 ml custa R$0,50, o almoço para cada um sai por R$2,00!!
A Pensão da Vovó Dui fica na R. Fábrica de Papel, nº 7, Vila Inhomirim (Raiz da Serra). O telefone é 3666 5151. Imperdível.

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Um guia pode ser muito útil na subida, já que existem pontos de bifurcação na estrada onde é bem possível se perder. Nosso guia foi o Antônio que, curiosamente, também é conhecido como Guilherme na região.

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Não deixe de levar barrinhas energéticas e bebidas isotônicas. Mesmo a travessia não tendo um grau de dificuldade tão alto, o gasto energético e a perda de líquido é bastante grande devido a verticalidade do terreno. Por experiência própria, é muito possível ficar desidratada, situação perigosa e nada agradável.

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O saquinho de sacolé vendido em uma das primeiras casas a esquerda depois do segundo pontilhão, custa apenas R$0,25. A variedade de sabores no "menu" é grande encntrando-se doce de leite, leite condensado, abacate, abacaxi, manga, chocolate, etc. No dia da travessia nem todos os sabores estavam disponíveis. É bem verdade que não se trata do melhor sacolé do mundo, mas depois da travessia algo doce e gelado, e com preço tão bom, vem bem a calhar. Recomendo.

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Os ônibus que saem da rodoviária de Petrópolis com destino à rodoviária Novo Rio no centro do Rio de Janeiro, têm partida de 30 em 30 minutos. A passagem varia de mais ou menos R$11,00 a R$12,50, essa última a do ônibus com ar condicionado. Investimento super válido e reconfortante, depois de 4 horas initerrúptas de caminhada. Obrigatório.

segunda-feira, setembro 05, 2005

liberaçao feminina & lava-roupas

Sou uma eterna pesquisadora dos costumes e da alma humana. Quando se trata da feminina, mais ainda, já que, além da minha natural curiosidade em relação a vida alheia, sou um autêntico exemplar dessa espécie (mulheres) e a mim interessa absolutamente tudo que possa jogar um pouco de luz na minha existência, tudo o que possa fazer minha vida mais confortável e inteligível.

Pois bem, tendo esse tipo de objetivo em mente, andei batendo um papinho com vovó, desses que bato sempre. Minha avó é uma das fontes de conhecimento e pesquisa que mais gosto de utilizar porque está sempre bastante acessível a mim, sendo representante, ao mesmo tempo, de uma realidade distante e quase fantasiosa.

Minha avó é viúva há mais de 20 anos. Nunca mais teve nenhum outro homem, o que causa indiscutível estranhamento para as mulheres da minha geração. Mas há uns 2 ou 3 anos houve um pretendente. Eles conversaram por telefone, almoçaram juntos, ficaram amigos, mas nada além disso. Isso me deixou muito intrigada, já que era um senhor respeitável, inteligente, bem apessoado. Enfim, um bom partido. Quis investigar, lógico, os motivos dela. O que a levou a não querer?

Depois de alguns esclarecimentos, pude começar a entender a lógica dessa avó e de boa parte de mulheres da geração dela. O namoro não foi adiante simplesmente porque estava chegando a hora inevitável do sexo. Ela sabia disso. Ele sabia disso. Mas ela só aceita o sexo se houver casamento. Veja bem, isso em relação a ela. Não faz diferença se eu tenho sexo fora de uma relação de casamento. Pra ela, porém, isso é simplesmente impensável.

Passamos então para uma segunda parte de investigações e perguntas. Ele era, afinal, um "cafajeste"? Não queria nada sério? Não queria casar, era isso? Negativo. Queria sim. Queria uma amiga, investir num relacionamento estável e de companheirismo.

Aí deu um nó. Ué, ela queria ou não queria algo sério? Queria ou não sexo com comprometimento? Na verdade, o que ela não queria era justamente o comprometimento. Nada de viver junto. Nada de ter que se adaptar aos roncos novos. Nada de novas velhas manias. Nada de perder a individualidade. E, o mais importante de tudo, NADA DE LAVAR CUECAS.

Chegamos então ao cerne da questão, ao ponto principal: na geração dela sexo = lavar cuecas. "Compra-se" o direito ao prazer com a lavagem periódica das roupas de baixo do parceiro em questão. Pra pagar o pecado, ralam-se os dedos. Como ela NÃO QUER lavar cuecas, não pode se dar ao direito ao sexo. Abre mão de sentir simplesmente pra não sofrer. Como o prazer acaba sempre tendo um ar de coisa roubada, de coisa que não é de direito, a escolha é fácil e parece óbvia. Passa-se batida por uma outra possibilidade, a de ter prazer SEM lavar cuecas, porque isso seria acreditar no DIREITO ao prazer, que as mulheres antigamente não tinham. Quando muito, possuiam um contrato de concessão.

Acho que o movimento feminista, o movimento de liberação feminina, de reconhecimento de direitos e desejos, acaba tendo uma íntima ligação com o aparecimento das máquinas de lavar roupas mais modernas. Quanto menos tempo as mulheres passaram a destinar à lavagem de roupas íntimas de seus parceiros/maridos, mais tempo passaram a ter para si e para a descoberta de que sim, podem e devem ter prazer. Com esse desenvolvimento e modernização das lavadouras, olha que coisa, até homens podem lavar suas próprias cuecas, economizando um tempo precioso e importante para o relacionamento a dois.

Devemos muito ao inventor da máquina de lavar-roupa, pela possibilidade atual de sermos independentes, donas dos nossos desejos, senhoras dos nossos sexos e dos nossos destinos. Devemos brindar aos botões, ao sabão em pó, ao amaciante de roupas, às mãos suaves e macias, aos relacionametos por amor e não por conveniência. E nunca nos esquecermos de quem veio antes de nós, daquelas que cresceram em outra realidade, acreditaram no que lhes foi dito e que, hoje, simplesmente não podem se livrar das cuecas e obrigações, reais ou imaginárias, opressivas e dominadoras.

quatro

Quatro dias e contando. Contando o desespero. Contando a vontade louca de fumar. Contando quantas vezes já subi pelas paredes. Contando quanto tempo será que vou resistir à tentação. Contando dias, horas, minutos. Contando pra todo mundo que ser viciada é uma merdaaaaaaaaaaaaaaaaa!!

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Hoje, todos os pássaros podiam morrer. Todos os cantos calarem. Asas queimadas.

Hoje, nehuma lagarta pode virar borboleta. Todas presas nos casulos, sufocadas, sem luz.

Que todos os peixes fritem solenemente nas águas ferventes dos oceanos do mundo. Calotas derretidas, cidades submersas.

Nenhuma lágrima pode cair pela face triste. Nenhum sorriso pode iluminar bocas e olhos. Nenhuma palavra traz alento.

Nada pode importar. Nem a vida, nem a morte. Nem o prazer, nem a dor.

Violência. Corpo violentado. Alma violentada. Sentimento despedaçado.

Que as nuvens caiam impiedosamente em forma de chuva. De vendaval.

Que a água limpe os pecados, leve embora mágoas, essas águas sujas que corroem, corroem, corroem.

Hoje, todos os pássaros podiam morrer. Bolas de fogo se debatendo pelo céu. Fênix, talvez. Talvez mortais.

Silêncio. Parem de cantar, parem de falar. Respeitem meu silêncio.

Calem os murmúrios. Calem as críticas. Calem as acusações.

Façam calar essa voz interna acusativa.

Baixem o indicador que aponta e sangra feridas.

Que a existência deixe de ser de dor. Que a morte importe.

Abram gaiolas, ignorem proibições, soltem amarras.

Flutuem. Voem. Nadem. E me escondam.

domingo, setembro 04, 2005

nota 2

Ontem foi aniversário de minha mãe. Fomos ao concerto no Municipal e depois para CDM. Lá rolou bolo e cachorro-quente.

Mamãe está feliz da vida com essa minha "fase" natureba e sem nicotina. É claro que ela tá gostando muito mais porque tô aqui em Botafogo. Se estivesse por lá já sei que estaria com ânsias de me bater por causa do meu (terrível) mau-humor. Mas vale a (boa) intenção dela.

nota 1

Não estou prenhe, buchuda, pãozinho no forno, grávida não... como eu disse, era só uma neura. Normalíssimo em se tratando de neuras e de mim. Taí duas coisas que caminham de mãos-dadas, eu e minhas neuroses.

cigarros, cigarettes, cigarrillos...

Três dias. Isso. Três dias sem fumar. Ok, sendo batante honesta, dois dias e algumas horas, mas a sensação é de que estou há anos sem sentir aquela fumacinha gostosa, enchendo pulmões e cérebro de nicotina. Ai que saudade eu tenho da Bahia e do Marlboro.

Começou que eu andei doente. Febre, tosse, garganta doendo, dificuldade em respirar. Depois rolou uma neura de menstruação atrasada (e pensar que houve um tempo em que eu nem pensava se tava no dia certo ou não, sabe como é, dedos não oferecem risco de gravidez a ninguém), vem ou não vem? Será que tô grávida, buchuda, prenhe, com pãozinho no forno? Bem, misture a isso tudo uma boa dose (1,80m, mais precisamente) de namorado não fumante, gringo, doido e tão TOC quanto eu.

A conclusão é óbvia: pressão total pra parar de fumar. Enquanto eu não tava conseguindo respirar, e pior, não tava conseguindo falar (porque posso até não respirar, mas deixar de me comunicar é a morte mesmo) eu concordei, né? Não tinha forças pra levar o cigarro à boca e, muito menos, o isqueiro até o cigarro. Mas o vício é implacável, delicioso, prazeroso, irresistível e completamente desesperador.

Tive uma crise, no primeiro dia, durante a arrumação da cozinha. Tava lavando louças, tarefa por si só deprimente e emocionante. Pois, com mãos ensaboadas, esponja na direita, um garfo na esquerda, comecei a chorar. Compulsivamente. Tom, que endurece mas não perde a ternura jamais, veio ao meu encontro, me salvou de detergentes e gorduras e me tirou de dentro de casa. Na hora pensei, "meu herói", mas depois desconfiei fortemente que ele tentava salvar sua própria vida. Porque meu estado, reconheço, já beirava a psicopatia.

Minha gente, nunca senti tanta energia acumulada como nesse dia sofrido e angustiante. Tínhamos que ir ao cento da cidade pra comprar ingressos no Municipal e Tom logo disse : " vamos a pé!". Eu fui, amarradona, tranqüila, só querendo esquecer que o maldito cigarro existia. Ou melhor, o que eu queria mesmo, era sentar com um maço recém aberto e fumar um por um, calmamente, saboreando cada tragada... ai ai. Mas nada de cigarros.

Caminhei durante horas, subi ladeiras, escadas, andei de bonde, conheci duas inglesas perdidas na cidade maravilhosa (duas Bridget Jones), comprei um vestido de noiva em um brechó, por 20 reais, uns óculos incríveis na rua, por 3 reais, tomei suco de abacaxi com hortelã, sopa de aipim com camarão, torta de limão, coca light, litros de café. Tudo isso numa ânsia desesperada de aplacar essa necessidade física, inevitável, imperiosa de acender um cigarro. Não acendi, verdade seja dita, mas sofri. Tô sofrendo.

No sábado tive um síndrome de abstinência pra valer. Enjôo, dor de cabeça, tonteiras. Vontade de ficar na cama durante todo o dia. E uma vontade constante de matar alguém. Tom, com muito custo, conseguiu me tirar de casa. Resolvemos dar um pulo em Copa, na Siqueira Campos, fazer um programinha bem "designer de interiores" dando uma olhada em todos aqueles antiquários. Mas, eis que na ida, ao tentarmos atravessar uma rua rapidamete (como se fosse uma novidade atravessar rua correndo no Rio de Janeiro), Tom dá um jeito na batata da perna, acho que uma distenção, um estirameto ou sei lá o quê. Passou o resto do passeio mancando e arrastando a perna. E eu com vontade de vomitar. Inútil dizer que o rumo de casa foi achado bem cedo.

Em casa dormi, tentei relaxar, não vomitar, não matar, talvez comer, talvez respirar, relaxar, não xingar, não espancar. Confesso que fui por vezes irônica e agressiva com Tom, sacaneei a perna dele, fui bastante mal-humorada. Chata mesmo. Afinal ELE tá fazendo força pra eu não fumar, ELE me lembra a toda hora que é melhor pra minha saúde e ELE diz que eu sou FORTE e que VOU CONSEGUIR.

Essa é a parte que dá mais medo, afinal, pra quem me lê e me conhece não é de hoje, sabe que eu sou rabugenta, chata, exigente, obsessiva, mas forte não sou nadica de nada. E não sei se vou ser capaz de segurar essa onda de "não fumar" ou "nunca mais colocar um cigarro na boca". Ainda tô achando o cigarro gostosão, um companheiro, uma fonte de prazer. Na verdade sinto como se eu estivesse sendo privada de algo que me é de direito. Assim como tenho direito de comer, beber ou dormir, tenho o direito constitucional de fumar.

Não quero decepcionar ninguém. Não quero, tampouco, sofrer mais do que já tô. Sei que é um pensamento imediatista, parecem desculpas esfarrapadas mas, que diabos, e se eu morrer amanhã? Terei sofrido à toa. E pior, terei me privado de um prazer tão simples, tão barato, tão imediato, que acaba parecendo burrice parar de fumar por causa de um câncer imaginário, futuro e talvez inexistente. Um cancerzinho de nada.

Tentarei não sucumbir à tentação. Talvez, depois de algum tempo, depois da readaptacão do cérebro a essa nova realidade da vida sem nicotina, eu tenha algum tipo de idéia com coerência politicamente correta. Talvez eu volte a dar importância a "não morrer de câncer". Talvez eu ache legal economizar não comprando cigarros. Talvez eu me sinta menos responsável pela destruição da camada de ozônio. Ou talvez eu fume 20 cigarros, um atrás do outro, pensando: "quanto tempo perdido em sofrimentos". Vá saber!