segunda-feira, setembro 05, 2005

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Hoje, todos os pássaros podiam morrer. Todos os cantos calarem. Asas queimadas.

Hoje, nehuma lagarta pode virar borboleta. Todas presas nos casulos, sufocadas, sem luz.

Que todos os peixes fritem solenemente nas águas ferventes dos oceanos do mundo. Calotas derretidas, cidades submersas.

Nenhuma lágrima pode cair pela face triste. Nenhum sorriso pode iluminar bocas e olhos. Nenhuma palavra traz alento.

Nada pode importar. Nem a vida, nem a morte. Nem o prazer, nem a dor.

Violência. Corpo violentado. Alma violentada. Sentimento despedaçado.

Que as nuvens caiam impiedosamente em forma de chuva. De vendaval.

Que a água limpe os pecados, leve embora mágoas, essas águas sujas que corroem, corroem, corroem.

Hoje, todos os pássaros podiam morrer. Bolas de fogo se debatendo pelo céu. Fênix, talvez. Talvez mortais.

Silêncio. Parem de cantar, parem de falar. Respeitem meu silêncio.

Calem os murmúrios. Calem as críticas. Calem as acusações.

Façam calar essa voz interna acusativa.

Baixem o indicador que aponta e sangra feridas.

Que a existência deixe de ser de dor. Que a morte importe.

Abram gaiolas, ignorem proibições, soltem amarras.

Flutuem. Voem. Nadem. E me escondam.