segunda-feira, agosto 01, 2005

sexta no morro

Antes de voltar a falar do meu Brasil varonil, mais especificamente da minha adorável cidade, abro um parêntese de meias desculpas e de reconhecimento da minha possível chatice exaltando tantas e tantas vezes o Rio de Janeiro, nesse repentino furor apaixonado que me encontro.
Sei que ando parecendo uma fanática religiosa, daquelas que acabaram de abraçar uma nova crença e se jogam de cabeça na tarefa imperiosa de catequizar os não crentes. Mas diante de acontecimentos deliciosos, como os dessa última sexta-feira, sinto-me justificada e com a obrigação inadiável do registro dos fatos.
Mesmo tendo nascido e vivido aqui minha vida inteira, sendo uma autêntica carioca da gema, ainda sou pega de surpresa, bofetada na cara, por alguns exemplos da simplicidade, simpatia e acolhimento desse povo. Para quem não sabe, Tom (o responsável direto pela minha confissão de uns dois posts atrás), vive no pé do Dona Marta. Toca chorinho com um grupo da área, conhece a favela e é figurinha fácil nas redondezas. Pois bem, surgiu por seu intermédio o convite inusitado dessa sexta:
- Você já conhece o Dona Marta? Vamos até a entrada da favela?
Eu, ligeiramente assustada com a proposta:
- Agora à noite?
- Why not?
- Tá bem, vamos!
E fomos. Subimos pouco a ladeira, apenas o suficiente pra chegar na primeira escadaria de acesso à comunidade. Dali pode-se avistar um primeiro pátio, já algumas casas/barracos e o Bar do Kaká, ainda fechado, mas já com data marcada para a inauguração.
Ficamos por alguns intantes parados, observando os arredores e tecendo alguns comentários, numa típica atitude turística. Mas foram instantes fugazes e velozes. Rapidamente fomos abordados por uma mulher que subia as escadas:
- Oi, posso ajudar? Vocês tão procurando alguém? Querem ir a algum lugar?
Tom respondeu no seu fluente e gringo português:
- Estava mostrando a favela a ela que ainda não conhece. Toquei com o Rodrigo Simões que é daqui da comunidade, você conhece?
Ela falando conosco e com um rapaz moreno que descia as escadas:
- Rodrigo...? Não sei quem é... ô Kaká, você conhece o Rodrigo?
Kaká é o mesmo do Bar do Kaká. Um rapaz de 23 anos, dois filhos e mais um na barriga, que atende pelo nome de batismo de Cassiano, e pela alcunha óbvia de Kaká. Impressionantemente gente boa, já chegou se apresentando, conversando e nos convidando:
- Oi, eu sou o Kaká ali daquele bar. Rodrigo, hummm talvez eu saiba quem é sim. Mas vocês estão querendo falar com ele? Eu tô descendo pra um barzinho do meu pai logo ali embaixo pra comer uma carne de sol com aipim, a melhor do mundo! E tomar uma cerveja, vamos lá?
Eu até então estava calada e participando passivamente de todas as conversações. Como tenho essas características pouco brasileiras de cabelos, pele e olhos muito claros, ele me perguntou:
- Você é de onde?
Eu:
- De Jacarepaguá.
- Mas assim de que país?
- Ué, Brasil! Sou carioca, pô!
O que arrancou uma gargalhada dele e a expressão : "e eu gastando o meu inglês aqui!".
Acompanhamos o Kaká. Sentamos numa mesa de metal na beirada da rua, com várias outras pessoas da área. Todos amigos dele. Conhecemos Celo e Márcio (irmãos), Sofia (a segunda esposa de Kaká, com uma barriga já saliente de gravidez), Pica-pau, Francisco (empregado do bar), Seu João (pai do Kaká), Caetano (um cara de camisa do flamengo, apelidado de Gringo por causa dos incomuns olhos azuis) e Cassiane.
Cassiane merece um comentário à parte. É a filhinha de 4 anos de Kaká (o nome não é mera coincidência - Cassiane e Cassiano), linda, de cabelos cacheados, sorriso meigo, covinhas na bochecha e que nos deixou completamente apaixonados. Ela beijou, brincou, riu e alegrou de verdade a noite.
Quanto à carne de sol com aipim, eu nunca, repito, NUNCA, comi uma igual. Digna de reis. A cerveja, Skol e Antartica, estupidamente gelada. A música variava entre forró, samba, funk, hip-hop. Coisas daqui e da terra do Tom. O papo divertido, descontraído e alto astral. Eu me senti lisonjeadíssima pois me foi oferecido um lugar para sentar no meio dos homens, atitude pouco comum na área, como pude observar pelo distanciamento das outras mulheres que estavam presentes ao encontro. Fomos ainda convidados para a inauguração do Bar do Kaká, que vai acontecer no próximo sábado, dia 06/08, com direito a pagode ao vivo, a ponche liberado para as mulheres e a uma grande queima de fogos à meia-noite!
Depois de incontáveis cervejas bebidas e vários pratos comidos, resolvemos que era hora de voltar pra casa. A conta foi pedida e quando perguntamos o valor, simplesmente não nos deixaram pagar! Poucas horas antes nunca tínhamos estado com aquelas pessoas e de repente éramos convidados de honra. Como diz Tom, parafraseando o poeta, "aqui sou amigo do Rei..."
Fomos para casa felizes, de mãos-dadas, sorrindo dessa noite mágica, simples, calorosa e inesquecível. Com a certeza de que dia 06 estaremos lá. E convido a todos os leitores: conheçam o Bar do Kaká.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

estou de mal.
me deixou no vácuo no msn.

1:57 PM  

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