quinta-feira, julho 07, 2005

um lugar pra chamar de meu

Ai, as árvores secas, desfolhadas, juntando galhos por cima da larga avenida. Prédios antigos, com sacadas de ferro fundido, uma predominância de tons terrosos e quentes.
O céu limpo, sem nuvens, claro, de uma luminosidade transparente. O ar frio, entrando gelado pelas narinas, deixando as bochechas vermelhas e ardidas. O vento teimando em ultrapassar as barreiras do sobretudo vermelho. Uma sensação confortável em estar envolta em cachecóis de lã, com as mãos aquecidas dentro das luvas.
O ar tem um cheiro. A cidade toda tem um cheiro. Um cheiro quente e doce, que mistura café, eucalípto, chocolate e tabaco. O cheiro é da cor da cidade.
Os cafés, o metro, o som da língua, essa língua tão expressiva que aquece o coração, que conforta e aconchega. As ruas familiares e desconhecidas, a um só tempo. A sensação de saber exatemente pra onde se está indo. A simplicidade da geografia reta, linear, quadriculada. A segurança de se caminhar livre, tranqüila, impune.
Grandes distâncias foram percorridas, caminhadas, cheiradas, sentidas. Reconhecidas, na verdade. Tomo posse da cidade, finco bandeira, guardo, com olhos e ouvidos bem abertos, todas as lembranças e impressões, todos os amores sucitados. Amo o ar, os táxis, o cemitério, os museus, as casas coloridas do bairro beira-rio, os prédios modernos e contrastantes à arquitetura antiga dominante. Amo esse ar ligeiramente decadente, essa nostalgia presente nos rostos, na saudade do que um dia se foi. E a certeza reinante de que um dia voltará a ser.
A força do povo que fala, discute, gesticula, esbraveja. A educação, a falta dela. Médias lunas. Alfajores. A música passional, as grandes manifestações. Que saudade de tudo isso. Que vontade de tudo isso. Saudade do pedaço de mim que ficou lá, vagando pelas ruas e noites dessa cidade, que roubou parte do meu coração. Um dia volto pra buscar. Volto para o meu lugar.