terça-feira, julho 05, 2005

de como se pode chegar à lucidez ou de como estar à beira de um surto psicótico

Chove, eu tenho dor, tô sozinha, vi um filme chato, água-com-açúcar, pequeno-burguês e imperialista.
Além dessa linda cena, leio coisas que me deixam confusa e entristecem.
Comi um sanduíche de queijo, sucrilhos com leite, bisnaguinhas seven boy com amendocrem. Tenho certeza que, de uma vez só e sem aviso, todas essas calorias vão se transformam em quilos a mais e gorduras localizadas e amanhã, se conseguir levantar da cama, terei que retirar porta, portal, abrir um vão na parede pra conseguir ir ao banheiro. Isso, se não entalar no corredor.
Minha bochecha direita está dobrando de tamanho. Ainda não sei se é só um inchaço ou se realmente ela está sendo clonada e vou ter um rosto com três bochechas. O fato é que tenho um calombo enorme, vermelho e dolorido, que lembra as espinhas da puberdade. Só que é difícil crer em uma espinha nessas proporções. Acho que fui abdusida por ets, perdi a memória, me enfiaram um chip pele a dentro e essa é uma das experiências que estão fazendo comigo, clonagem de bochechas humanas.
Descobri (eu sempre descubro) uma nova comunidade de cabelos brancos. Todos novos, todos rebeldes e fortes, prontos pra se alastrar e contaminar todos os outros. No início eu arrancava, mas tô começando a ficar preocupada em ficar careca, tal a quantidade e velocidade no aparecimento dos mesmos. O pior de tudo é que estão na frente, bem em cima da testa, prateados, brilhantes, exibidos. Acho que vou pintar tudo. De preto. Preto é fácil, que mesmo sem grana, sempre aparece um pouquinho de piche pra se passar na juba.
Tinha um carinha me paquerando. Mais novo. 4 anos mais novo. Baterista. Moreno, alto. Interessante mesmo. Mas eu fiquei pensando. Quero? Não quero? Não respondi aos vários telefonemas, não encontrei com ele no dia que ele propôs (ai, o velho medo do segundo encontro) e babau. Foi pro beleléu.
Meu fim de semana passado foi altamente instrutivo. Aprendi tudo (claro, aprendi com toda a profundidade que se pode existir num livro de 5ª série) sobre Mesopotâmia, Egito Antigo, início da civilização Chinesa e Indiana. Conheço os rios Eufrates, Tigre, Nilo, Amarelo, Indo, Ganges... Código de Hamurábi (olho por olho, dente por dente - aliás, uma ótima forma de encarar a vida... hummm... vou refletir sobre isso), Nabucodonosor e o 2º Império Babilônico e por aí vai. Isso tudo pra tentar salvar minha pequena, doce e querida afilhada de uma possível recuperação. A prova foi ontem. Eu sonhei até com isso. O resultado? Médio. Expressão transcrita fielmente como ouvida dos seus lindos lábios infanto-juvenis.
E, apesar de tudo, estou relativamente bem. Me atrevo a dizer que estou quase feliz da vida. A solidão e o abandono total e irrestrito me incomodam, mas já não penso em cortar os pulsos e nem em tomar formicida. Posso ver até um leve brilho de felicidade em meus olhos. Uma pontinha de esperança começando a vingar no coração. Afinal, se realmente eu não estrou tão mal é porque, talvez (veja bem, eu disse TALVEZ), eu esteja começando a me conhecer e a me aceitar. Ainda no talvez, pode ser que finalmente eu esteja aprendendo a viver só e me bastar. Mesmo com mil toneladas, mesmo com 3 bochechas, mesmo ficando uma bruxa de cabelos brancos. Mesmo abandonada e sozinha.
Meu medo é só desse ser o olho do furacão, sabe? No olho do furacão a tempestade diminui, os ventos zeram e tem-se a sensação de calma e tranquilidade total... mas quando ele volta a tragédia recomeça. E os danos são maiores, acontecem sobre o estrago já feito e ainda não recuperado dos vendavais anteriores! Tenho medo, então, de começar a babar, espumar pelo canto da boca, arrancar as calcinhas pela cabeça e sair correndo e gritando condomínio afora: EU NÃO SOU DAQUI, MARINHEIRO SÓ! EU NÃO TENHO AMOR, MARINHEIRO SÓ! EU SOU DA BAHIA, MARINHEIRO SÓ! DE SÃO SALVADOR, MARINHEIRO SÓ!
Ai, amanhã ligo pra miha analista assim que acordar. Não convém facilitar.