terça-feira, julho 26, 2005

democratização ou esculhambação... eis a questão

Pra quem vive no Rio de Janeiro e é freqüentador da noite e dos eventos cariocas, já deve estar por dentro da nova mania da cidade: lançar discos e fazer shows em lugares descolados como cafés-livrarias e sebos.
Nesse último sábado estive num desses eventos no Song Book Café, no Leblon. Era uma apresentação de um jovem grupo de chorinho e afins. O grupo é relativamente bom, os jovens músicos são entusiasmados e gostam do que fazem. Mas falta infra. Falta profissionalismo. É extremamente desagradável assistir a um show atrás de uma coluna, sem ver os músicos, no corredor de uma galeria, mil pessoas conversando e passando, a acústica ridiculamente ruim e a conseqüente falta de sincronia e harmonia entre os músicos. Ocasionadas, com certeza, pela precariedade das condições, aliada à falta óbvia de experiência dos mesmos.
Sei que parece mais um ataque de rabugice explícita, mas de fato me questiono sempre se todas essas novidades cariocas no quesito “cultura” e “fuga do tédio” são válidas. Me dá sempre a sensação de um “vale-tudo” contra a mesmice.
Apesar de considerar aceitável essa criatividade e inventividade constante, acho que um pouco de desconfiômetro cai bem. Me irritam, por exemplo, os pseudo-intelectuias-antenados-descolados-bem-transados que têm zero de sendo crítico e batem palma para qualquer invencionice bizarra “sacada” pelos produtores cariocas. Engolem todas as novidades, agradecem e pedem bis.
Sou a favor sim da cultura espalhada, pulverizada em qualquer cantinho possível. Nas ruas, shoppings, cafés, restaurantes, etc. Mas bom senso é fundamental. Os rapazes de sábado, no fim das contas, foram definitivamente prejudicados. Ficou um gosto de coisa crua na boca, de comida tirada do forno antes de assar. Provavelmente, ao me deparar com eles nesse mundinho de Rio de Janeiro, já terei uma ressalva, já pensarei duas vezes antes de me decidir a assisti-los. E, a não ser que queiram viver da apresentação a amigos (que lotavam, aliás, o Song Book Café, com direito a torcida organizada e tudo), vão ter que comer bastante feijão com arroz, acertar a mão no tempero e colocar uma bonita mesa para os ouvintes/comensais.
E o nosso apetite por boa música, respeito e qualidade agradece.