domingo, setembro 04, 2005

cigarros, cigarettes, cigarrillos...

Três dias. Isso. Três dias sem fumar. Ok, sendo batante honesta, dois dias e algumas horas, mas a sensação é de que estou há anos sem sentir aquela fumacinha gostosa, enchendo pulmões e cérebro de nicotina. Ai que saudade eu tenho da Bahia e do Marlboro.

Começou que eu andei doente. Febre, tosse, garganta doendo, dificuldade em respirar. Depois rolou uma neura de menstruação atrasada (e pensar que houve um tempo em que eu nem pensava se tava no dia certo ou não, sabe como é, dedos não oferecem risco de gravidez a ninguém), vem ou não vem? Será que tô grávida, buchuda, prenhe, com pãozinho no forno? Bem, misture a isso tudo uma boa dose (1,80m, mais precisamente) de namorado não fumante, gringo, doido e tão TOC quanto eu.

A conclusão é óbvia: pressão total pra parar de fumar. Enquanto eu não tava conseguindo respirar, e pior, não tava conseguindo falar (porque posso até não respirar, mas deixar de me comunicar é a morte mesmo) eu concordei, né? Não tinha forças pra levar o cigarro à boca e, muito menos, o isqueiro até o cigarro. Mas o vício é implacável, delicioso, prazeroso, irresistível e completamente desesperador.

Tive uma crise, no primeiro dia, durante a arrumação da cozinha. Tava lavando louças, tarefa por si só deprimente e emocionante. Pois, com mãos ensaboadas, esponja na direita, um garfo na esquerda, comecei a chorar. Compulsivamente. Tom, que endurece mas não perde a ternura jamais, veio ao meu encontro, me salvou de detergentes e gorduras e me tirou de dentro de casa. Na hora pensei, "meu herói", mas depois desconfiei fortemente que ele tentava salvar sua própria vida. Porque meu estado, reconheço, já beirava a psicopatia.

Minha gente, nunca senti tanta energia acumulada como nesse dia sofrido e angustiante. Tínhamos que ir ao cento da cidade pra comprar ingressos no Municipal e Tom logo disse : " vamos a pé!". Eu fui, amarradona, tranqüila, só querendo esquecer que o maldito cigarro existia. Ou melhor, o que eu queria mesmo, era sentar com um maço recém aberto e fumar um por um, calmamente, saboreando cada tragada... ai ai. Mas nada de cigarros.

Caminhei durante horas, subi ladeiras, escadas, andei de bonde, conheci duas inglesas perdidas na cidade maravilhosa (duas Bridget Jones), comprei um vestido de noiva em um brechó, por 20 reais, uns óculos incríveis na rua, por 3 reais, tomei suco de abacaxi com hortelã, sopa de aipim com camarão, torta de limão, coca light, litros de café. Tudo isso numa ânsia desesperada de aplacar essa necessidade física, inevitável, imperiosa de acender um cigarro. Não acendi, verdade seja dita, mas sofri. Tô sofrendo.

No sábado tive um síndrome de abstinência pra valer. Enjôo, dor de cabeça, tonteiras. Vontade de ficar na cama durante todo o dia. E uma vontade constante de matar alguém. Tom, com muito custo, conseguiu me tirar de casa. Resolvemos dar um pulo em Copa, na Siqueira Campos, fazer um programinha bem "designer de interiores" dando uma olhada em todos aqueles antiquários. Mas, eis que na ida, ao tentarmos atravessar uma rua rapidamete (como se fosse uma novidade atravessar rua correndo no Rio de Janeiro), Tom dá um jeito na batata da perna, acho que uma distenção, um estirameto ou sei lá o quê. Passou o resto do passeio mancando e arrastando a perna. E eu com vontade de vomitar. Inútil dizer que o rumo de casa foi achado bem cedo.

Em casa dormi, tentei relaxar, não vomitar, não matar, talvez comer, talvez respirar, relaxar, não xingar, não espancar. Confesso que fui por vezes irônica e agressiva com Tom, sacaneei a perna dele, fui bastante mal-humorada. Chata mesmo. Afinal ELE tá fazendo força pra eu não fumar, ELE me lembra a toda hora que é melhor pra minha saúde e ELE diz que eu sou FORTE e que VOU CONSEGUIR.

Essa é a parte que dá mais medo, afinal, pra quem me lê e me conhece não é de hoje, sabe que eu sou rabugenta, chata, exigente, obsessiva, mas forte não sou nadica de nada. E não sei se vou ser capaz de segurar essa onda de "não fumar" ou "nunca mais colocar um cigarro na boca". Ainda tô achando o cigarro gostosão, um companheiro, uma fonte de prazer. Na verdade sinto como se eu estivesse sendo privada de algo que me é de direito. Assim como tenho direito de comer, beber ou dormir, tenho o direito constitucional de fumar.

Não quero decepcionar ninguém. Não quero, tampouco, sofrer mais do que já tô. Sei que é um pensamento imediatista, parecem desculpas esfarrapadas mas, que diabos, e se eu morrer amanhã? Terei sofrido à toa. E pior, terei me privado de um prazer tão simples, tão barato, tão imediato, que acaba parecendo burrice parar de fumar por causa de um câncer imaginário, futuro e talvez inexistente. Um cancerzinho de nada.

Tentarei não sucumbir à tentação. Talvez, depois de algum tempo, depois da readaptacão do cérebro a essa nova realidade da vida sem nicotina, eu tenha algum tipo de idéia com coerência politicamente correta. Talvez eu volte a dar importância a "não morrer de câncer". Talvez eu ache legal economizar não comprando cigarros. Talvez eu me sinta menos responsável pela destruição da camada de ozônio. Ou talvez eu fume 20 cigarros, um atrás do outro, pensando: "quanto tempo perdido em sofrimentos". Vá saber!

1 Comments:

Blogger marcelo said...

ah, deu vontade de comentar várias coisas:
1) cigarro é foda, mesmo. tenho uma relação de amor e ódio com os pirulitos de câncer. apesar de pegar mais leve do que você (suponho), não consigo largar os danados. no máximo, dou um tempo.
2) "dedos não oferecem risco de gravidez" é hilário. não consigo te imaginar mal-humorada (mas também não precisa me provar o contrário).
3) namorar é muito legal, né? o tom parece ser um cara maneiro. torço por vcs. nós quatro ainda vamos nos encontrar num finde, é promessa.
bjs.

7:55 AM  

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