segunda-feira, agosto 15, 2005

ida a madureira

Fazia tempo que eu não andava pelos idos de Madureira. Na verdade tem mais ou menos um ano que eu não pisava por aquelas terras, nem por motivos profissionais e muito menos pessoais.

Nessa sexta, ao perguntar a Tom sobre seus planos para o sábado, recebi o convite: vamos a Madureira??

Eu fui, claro. Ele pegou o metrô em Botafogo, foi até a Central do Brasil e de lá se enfiou num trem com destino a Deodoro. Eu, pelo meu lado, me meti numa super kombi em direção a Estação de Trem de Madureira, saída dos confins de Jacarepaguá (daquela área intermediária em que vivo, entre Barra, Recreio e Vargem Pequena e que, carinhosamente, apelidamos de CDM, ficando a cargo da imaginação alheia descobrir o significado).

Nos encontramos no terminal rodoviário em frente à estação, primeiro ao som quente do forró, depois ao som balanceado do hip hop.

Para quem conhece e não vai há muito (como eu que já, inclusive, estudei em Madureira) ou para quem ainda não conhece, o programa é imperdível!! A estação está mais bonita, com uma rampa bem legal, adornada com azulejos coloridos, possibilitando uma alternativa de acesso aos dois lados da linha do trem mais confortável do que as antigas, gastas e escorregadias escadas.

O lado "de lá" é sem dúvida o que interessa. Deixando claro, falo do lado do "Mercado Popular de Madureira" ou, em outras palavras, do lado do camelódromo, não o do Tem Tudo (centro comercial paleolítico, precursor dos shoppings, onde tomei vários sundaes de morango no Bob's, nos idos da minha infância suburbana e feliz). Caminhando pelas calçadas, você tem uma infinidade de lojas, ambulantes, transeuntes, pessoas falando em alto-falantes, ofertas de absolutamente tudo, controles remotos universais, pilhas, calças jeans, sapatos, guarda-chuvas, poções mágicas, ervas emagrecedoras, fantasias eróticas... é uma festa pros olhos e para o nosso, facilmente despertável, desejo consumidor.

Continuando no terreno "consumo", prepare-se: pode ser um choque total para alguém que tem andado nos grandes shoppings e lojas de grife há muito tempo. Os preços são absurdamente baixos e atraentes. Está claro que a moda não é a mesma da zona sul mas, por isso mesmo, acaba ganhando ares de exclusividade. Pode-se comprar calças jeans 10 vezes mais baratas, com um estilo totalmente street e urbano. E é claro que com um preço tão baixo, nos adaptamos facilmente ao novo look!!

As lojas de lingerie, endumentária casamenteira, de utilidades domésticas, cama mesa e banho e roupas de jeans, são campeãs absolutas tanto na variedade de produtos e na quantidade de lojas, quanto na preferência dos consumidores. Mas é sempre bom lembrar que uma boa dose de paciência e um espírito aventureiro podem ser necessários se você resolver comprar e experimentar alguma coisa, por exemplo. A fila, até chegar ao provador, pode despertar aquele ser rabugento, mimado, intolerante, insuportável, um verdadeiro Ogro que vive nas entranhas da sua alma. Se isso ameaçar acontecer, respire fundo, antes que seja incontrolável, e pense: eu não estou com pressa!! Tenho todo o tempo do mundo!! Verá que o resultado pode ser libertador e extremamente compensador na hora de passar no caixa.

Depois desse conhecimento do comércio de rua oficial do bairro, partimos até a quadra da Portela. Apesar de estar fechada, sem nenhuma programação, usei o argumeto infalível de que Tom é gringo, não conhecia a escola, veio a Madureira com esse intuito... tivemos a colher-de-chá, então, de entrar e fotografar à vontade. Saimos de lá encantados. Eu com meu encantamento renovado. Tom totalmente contaminado. É portelense desde pequenininho.

Depois da Portela o caminho natural e óbvio é rumar para o Mercadão de Madureira. Um mercado "indoor" com ares de feira, onde pode-se achar um aviário (um lugar onde vende-se galinhas e coelhos que são abatidos na hora), uma loja de bugigangas chinesas, um restaurante mineiro com um cheirinho apetitoso, uma loja de tudo - absolutamente tudo - para festas, tendo ao lado a maior loja de artigos religiosos que já vi. Claro que, relembrando o antigo incêndio, depois que o Mercadão original foi quase totalmenete queimado, houve uma significativa mudança e melhora em suas instalações, podendo-se usufruir de ar condicionado, escadas rolantes e uma aparência mais limpa e organizada. Mas, talvez seja um grande e absurdo saudosismo, acabou perdendo muito do seu charme popular. Tom, porém, sentenciou: esse é mais um endereço obrigatório pra trazer os gringos turistas de visita à cidade maravilhosa.

Saimos do Mercadão pela Avenida Edgar Romero e demos de frente a uma rua transversal que descortinava, ao longe, uma grande escadaria. No fim da escadaria uma igreja. O instinto alpinista de Tom foi imediatamente atiçado mas como seguro morreu de velho e de guarda-chuva, e a escadaria passava inapelavelmente pelo meio de uma favela com aparência nada amistosa, fui enfática: aí não dá pra subir! Como minha fama de medrosa corre mundo e entre nós não poderia ser diferente, Tom resolveu tirar a prova dos nove perguntando a um bicheiro na esquina se era seguro subir o morro. A resposta foi interessante: se vocês querem ir a uma igreja, vão nessa aqui de baixo, a lá de cima não vale a pena... nunca se sabe se sai vivo ou morto! Acatamos ambos o bom conselho do senhor contraventor e nos limitamos a subir timidamente a rua. O suficiente para "descobrir" uma outra loja de macumba. Tinham coisas muito interessantes, santos, desenhos na parede, esteiras, entidades em tamanho natural. Acabamos tomando um café com a dona depois de um bom papo, algumas fotos e a compra de uma Nossa Senhora da Conceição e uma Iemanjá, ambas de cerca de 70 cm de altura e de preços inacreditáveis.

Viemos embora, santas nos braços (pesadas, aliás), pegando um ônibus até Irajá e o metrô de Irajá até Botafogo. Ficou um gostinho de quero mais. Quero mais Portela. Quero mais preços baixos. Quero mais povo aberto e caloroso. Quero mais conversa na fila do provador. Quero sempre mais desse Rio de Janeiro de várias facetas, vários mundos. Meio esquisofrênico, meio poeta, meio louco. Totalmente apaixonante.

algumas dicas básicas

Atente para a possibilidade de se comprar uma calcinha por R$ 0,60!! Pode-se usar uma calcinha nova por dia, sem repetir, durante um mês inteiro, jogar todas fora, descartáveis, pela bagatela de R$18,00!! É ou não um sonho?? A loja fica na estrada do Portela se não me engano, mas não é única. Pesquise!

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Indo da zona sul, pode-se pegar o metrô até a Central e depois o trem para Deodoro. A possibilidade de ir de metrô até Irajá e depois se pegar mais 5 minutos de ônibus até Madureira também é boa. Da Barra existem ônibus e kombis direto, todos passando pelo Barrashopping. De Jacarepaguá (ou CDM) também se tem as duas possibilidades de transporte.

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Pode-se tomar um açaí com granola, uma boa porção de pães de queijo mais um suco de abacaxi feito na hora por apenas R$6,00. Tudo na lojinha de sucos da esquina da R. Dagmar da Fonseca com Est. do Portela.

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Uma MICRO saia jeans, que te deixa a mais gostosa do bairro pode ser comprada por apenas 18 reais. Acredite, o resultado levanta a moral de qualquer cristã. Ou cristão. Aprovadíssima!

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A Portela começa no próximo mês, ainda que timidamente segundo me foi informado, os ensaios para o carnaval 2006. No próximo dia 03/09 (primeiro sábado de setembro) tem feijoada na quadra, com velha guarda e bateria da escola no palco. Vale e muito!!

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Para se ir da Est. do Portela para o Mercadão de Madureira, tem-se que passar pelo meio da linha do trem. Isso mesmo, pelo meio, pulando os trilhos. Isso por si só já seria uma aventura, mas antes de chegar à linha, passa-se por uma feirinha interessante. O destaque fica por conta dos verdadeiros artistas que estampam camisetas na hora. Desenham, personalizam, colocam nomes e dizeres, de acordo com a vontade do freguês. A camiseta já pronta sai por R$10,00. A feita na hora, com exclusividade, por R$15,00.

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Não se pode fotografar dentro do Mercadão sem autorização.

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Não se deve subir o Morro de São José se você tem amor à vida.

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Você pode ter uma Iemanjá e uma Nossa Senhora da Conceição, de aprox. 70 cm de altura cada uma, te protegendo, na sala da sua casa (como estão aqui) por R$18,00 cada uma.

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Corre-se sempre o risco de divertidamente ser abordado, enquanto tenta tirar uma foto, com a seguinte fala: TIRA UMA FOTO MINHA!! SOU MUITO MAIS BONITA DO QUE ISSO AÍ!

2 Comments:

Blogger Deborah Moore said...

eh isso aiiii!

6:52 PM  
Blogger tt said...

Tenho vários causos de uma linha de ônibus que leva a MAdureira, aí no Rio...
Qqer dia te conto. Se eu lembrar desses causos..

O que siginifica CDM ?

9:11 AM  

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