segunda-feira, setembro 05, 2005

liberaçao feminina & lava-roupas

Sou uma eterna pesquisadora dos costumes e da alma humana. Quando se trata da feminina, mais ainda, já que, além da minha natural curiosidade em relação a vida alheia, sou um autêntico exemplar dessa espécie (mulheres) e a mim interessa absolutamente tudo que possa jogar um pouco de luz na minha existência, tudo o que possa fazer minha vida mais confortável e inteligível.

Pois bem, tendo esse tipo de objetivo em mente, andei batendo um papinho com vovó, desses que bato sempre. Minha avó é uma das fontes de conhecimento e pesquisa que mais gosto de utilizar porque está sempre bastante acessível a mim, sendo representante, ao mesmo tempo, de uma realidade distante e quase fantasiosa.

Minha avó é viúva há mais de 20 anos. Nunca mais teve nenhum outro homem, o que causa indiscutível estranhamento para as mulheres da minha geração. Mas há uns 2 ou 3 anos houve um pretendente. Eles conversaram por telefone, almoçaram juntos, ficaram amigos, mas nada além disso. Isso me deixou muito intrigada, já que era um senhor respeitável, inteligente, bem apessoado. Enfim, um bom partido. Quis investigar, lógico, os motivos dela. O que a levou a não querer?

Depois de alguns esclarecimentos, pude começar a entender a lógica dessa avó e de boa parte de mulheres da geração dela. O namoro não foi adiante simplesmente porque estava chegando a hora inevitável do sexo. Ela sabia disso. Ele sabia disso. Mas ela só aceita o sexo se houver casamento. Veja bem, isso em relação a ela. Não faz diferença se eu tenho sexo fora de uma relação de casamento. Pra ela, porém, isso é simplesmente impensável.

Passamos então para uma segunda parte de investigações e perguntas. Ele era, afinal, um "cafajeste"? Não queria nada sério? Não queria casar, era isso? Negativo. Queria sim. Queria uma amiga, investir num relacionamento estável e de companheirismo.

Aí deu um nó. Ué, ela queria ou não queria algo sério? Queria ou não sexo com comprometimento? Na verdade, o que ela não queria era justamente o comprometimento. Nada de viver junto. Nada de ter que se adaptar aos roncos novos. Nada de novas velhas manias. Nada de perder a individualidade. E, o mais importante de tudo, NADA DE LAVAR CUECAS.

Chegamos então ao cerne da questão, ao ponto principal: na geração dela sexo = lavar cuecas. "Compra-se" o direito ao prazer com a lavagem periódica das roupas de baixo do parceiro em questão. Pra pagar o pecado, ralam-se os dedos. Como ela NÃO QUER lavar cuecas, não pode se dar ao direito ao sexo. Abre mão de sentir simplesmente pra não sofrer. Como o prazer acaba sempre tendo um ar de coisa roubada, de coisa que não é de direito, a escolha é fácil e parece óbvia. Passa-se batida por uma outra possibilidade, a de ter prazer SEM lavar cuecas, porque isso seria acreditar no DIREITO ao prazer, que as mulheres antigamente não tinham. Quando muito, possuiam um contrato de concessão.

Acho que o movimento feminista, o movimento de liberação feminina, de reconhecimento de direitos e desejos, acaba tendo uma íntima ligação com o aparecimento das máquinas de lavar roupas mais modernas. Quanto menos tempo as mulheres passaram a destinar à lavagem de roupas íntimas de seus parceiros/maridos, mais tempo passaram a ter para si e para a descoberta de que sim, podem e devem ter prazer. Com esse desenvolvimento e modernização das lavadouras, olha que coisa, até homens podem lavar suas próprias cuecas, economizando um tempo precioso e importante para o relacionamento a dois.

Devemos muito ao inventor da máquina de lavar-roupa, pela possibilidade atual de sermos independentes, donas dos nossos desejos, senhoras dos nossos sexos e dos nossos destinos. Devemos brindar aos botões, ao sabão em pó, ao amaciante de roupas, às mãos suaves e macias, aos relacionametos por amor e não por conveniência. E nunca nos esquecermos de quem veio antes de nós, daquelas que cresceram em outra realidade, acreditaram no que lhes foi dito e que, hoje, simplesmente não podem se livrar das cuecas e obrigações, reais ou imaginárias, opressivas e dominadoras.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Você é uma doidinha muito legal.

7:40 PM  

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