domingo, maio 08, 2005

a festa

Ando irritada. Sei que pra quem me conhece isso não é nenhuma novidade. Mas a minha tolerância anda baixa em todas as áreas da vida e atingiu agora a do divertimento, das relações sociais.
Tenho estado meio fechada, quase não tenho curtido badalações. Achava que a causa disso era uma possível necessidade de isolamento, vontade de ficar só, de me interiorizar um pouco mais. Mas tô achando, agora, é que eu tô é sem paciência mesmo. Tô chata, exigente, metida até.
Bem, isso tudo pra explicar a festa de ontem. Sabe aquelas festas onde tudo deveria ser perfeito? Onde dificilmente você teria algum minuto de tédio? Pois é, essa era uma dessas festas. Localizada numa linda casa no Alto Gávea (como alguém pode ter dinheiro pra viver num lugar tão tão carerérrimo assim???), com convidados descoladérrimos, designers, jornalistas, intelectuais, etc, etc, todos da minha faixa etária, todos bem moderninhos, todos antenados. Música interessante, moderninha e antenada. Muito álcool, alguma comidinha de festa, daquelas misturas descoladas de cachorro-quente a patê de fois-gras.
As conversas? Todas descoladas, moderninhas e antenadas. Eu tô fazendo não-se-o-quê. Viu o filme de não-sei-quem ? Ah a exposição de fulano-de-tal estava ótima!!!
A maneira de se vestir era bem homogênea, todos muito descolados e antenados. E moderninhos, claro. As mulheres de preto e sapatos estilosos. Os homens de jeans, uma camisa descolada e uma casual all star.
Tudo pra ser uma daquelas festas cariocas inesquecíveis, onde se é tão descolado e moderninho e antenado, que pode-se dançar de Beatles a Claudinho e Bochecha, com o mesmo interesse, o mesmo sorriso e a mesma atitude blasé de sempre. Mas acontece que foi um saco.
Tediosa, com pessoas que não têm o que dizer, todos usando aquele mesmo padrão descolado, moderninho e antenado, que desemboca numa arrogância de comportamento, numa elitização que dá nojo. Até porque a maioria "vive" socialmente é justamente da atitude, daquele ar blasé, do que parece ser e não do que na verdade se é e se sente. E o pior, é que treinam tanto esse "papel", que acabam acreditando que realmente são a nata descolada, moderninha e antenada. E que a verdade está com eles. Pobres dos outros mortais que fazem parte da grande massa. Mas nesse pacote de comportamento, existe também a complacência (falsa, claro), a aceitação social de que existem pessoas intelectualmente desfavorecidas e que devemos ser generosos e compreensivos com eles. Mas claro, nunca chamá-los para essas festas. Porque nessas festas especiais, só entram pessoas muito descoladas, antenadas e moderninhas.
Resumo da ópera: uma bebedeira memorável com uma ressaca dos diabos!