minha alma canta, vejo o rio de janeiro...

É claro que eu continuo não gostando da violência, da sujeira, do trânsito… não gosto mesmo. Mas aí é que tá a graça da reconciliação: a gente já sabe como o outro é, já vive com o sujeito, já conhece os puns, os roncos, mas conhece também aquele sorriso de canto de boca que só você pode decifrar. Ninguém mais.
Assim tá sendo a minha reconciliação, o meu trocar de bem com o Rio. Amo desse jeito mesmo, imperfeito, com problemas, safado e lindo... Amo o sol, o mar, a lagoa, o cristo, o pão de açúcar. Amo as pessoas. Amo poder dizer bom dia e em 5 minutos saber da metade da vida da senhora à minha frente na fila do pão, ou do banco, ou do ônibus... a fila é o que menos interessa. O que importa é a comunicação, o calor, a simpatia reinante.
E olha, que coisa maravilhosa e mágica: eu sou CARIOCA!! E faz tempo que eu não me dava conta disso. Tinha esquecido, guardado no fundo da gaveta das memórias e lembranças esse detalhe nada irrelevante da minha vida pessoal.
Sei que não é de hoje que tenho problemas de relacionamento, do tipo dificuldades em abraçar e beijar amigos do peito, por exemplo. Mas possuo uma penca de outras características que, pensando hoje, estão intimamente ligadas ao fato de ter nascido e vivido até hoje nessa cidade maravilhosa. Como não desenvolver um senso estético apurado olhando, vendo, absorvendo tanta beleza retina adentro? Como não criar habilidades de humor e ironia vivendo em uma cidade com tantas desigualdades e contradições que por si só já são tão irônicas? E como encarar o engarrafamento monstro de fim de dia sem uma boa dose de paciência e humor? Mas quando o mau humor bate imperioso alguns palavrões também são bem-vindos, fazendo parte totalmente incorporada à maneira de ser, à cultura e ao vocabulário carioca.
Me entrego toda, então. Faço aqui essa declaração de amor, de redescoberta. Faço o que tantos músicos, artistas, poetas já fizeram tão bem. Entendo o que move a alma dos que nasceram ou adotaram essa cidade como sua. Vejo o Rio com olhos estrangeiros e me apaixono. Descubro uma cidade dentro da cidade. Descubro uma cidade inteira dentro de mim, com toda sua ambivalência, seus contrastes, suas contradições, seus perigos e seus desejos. E minha alma canta.