sexta-feira, fevereiro 10, 2006

amanhã de manhã... (publicado originalmente no "Trompe l`oeil... parece aquele, mas não é")

Pra quem é mais íntimo, o assunto não é novidade. Tomzinho viajou ontem pros esteites e só volta na quarta-feira de cinzas. Um monte de dias sozinha pela frente é o que tenho.

Claro que fui até o aeroporto com ele ontem. É claro que vi ele entrar naquela porta escura do embarque internacional do terminal 1 do Galeão. Triste mesmo. A gente se acenando, falando à distância, sem som, só os lábios se movendo: " I L-O-V-E Y-O-U !!"... enfim, cena de filme...

Custei a dormir ontem, mesmo depois de ter tomado algumas na Cobal. Mas depois que dormi, a noite transcorreu às mil maravilhas. Difícil foi acordar hoje. Primeiro porque tava sozinha. Segundo por causa das cervas de ontem. E terceiro porque Tomzinho de manhã é um espetáculo, faz café, pancakes, pega o jornal lá embaixo e tá sempre acordado antes de mim, com o seu sorriso habitual e um "bom dia" ou " good morning" nos lábios, quebrando qualquer possibilidade do meu mau-humor (antigamente normal) se instalar.

Hoje não teve nada disso e, como na vida de qualquer pessoa com uma tendência forte a oscilações de humor matutinas, a lei de Murphy imperou inclemente. O café, que eu sei fazer muito bem obrigada, deu pau. O filtro dobrou e encheu de pó. A água que eu ia colocar no copo pra tomar meus remedinhos entornou, já que, não sei porque cargas d`água, a droga da tampa da garrafa estava desatarrachada. Mas o pior de tudo veio depois, o meu jornal foi roubado.

Eu abri a porta na esperança do zelador te-lo colocado gentilmente no espaço destinado ao capacho (infelizmente ainda não temos um capacho). O jornal não estava, claro. Então resolvi fazer o que Tom faz sempre, descer e pegar o jornal na portaria. Claro que Tom faz isso umas duas horas antes do que eu estava fazendo. Mas que diabos, cada um tem seu ritmo, certo? Enfim, desci e nada do jornal. Encontrei com o zelador que me disse veementemente que tinha deixado o jornal na minha porta. Subi todos os degraus de volta pensando que defitiviamente eu precisava de um café forte.

Vários lances de escada depois e nada. Catei daqui e dali e não tinha jornal porra nenhuma e isso já tava dando nos meus nervos. Desci de novo pra falar com o zelador e falar que não tinha nenhum jornal, que alguém tinha roubado, que era impressionante que alguém tivesse tão pouco respeito pelos outros, que eu teria que acordar às seis da manhã pra ficar esperando o globinho, bla bla bla.

Conclusão eu, a síndica, que mora no meu andar e também é assinante do Globo, e o zelador acabamos fazendo uma conferência no corredor, falando como esse mundo tá perdido, que a vizinha do andar de baixo teve livros didático, imagine, roubados, que o outro vizinho que já até se mudou, tinha a sua revista Veja roubada, enfim, essas coisas normais de corredor de prédio e vizinhos. No fim das contas a síndica, que já tinha lido o Globo dela, me emprestou o jornal e fechamos as portas com sorrisos. Pouco tempo depois devolvi o jornal, que definitivamente não teve o mesmo gosto de ser lido, afinal eu precisava devolvê-lo (pra que a filha da síndica lêsse quando acordasse). Logo eu não podia amassar, dobrar e, muito menos, rabiscar e fazer minha palavra cruzada sagrada de todo dia.

Duas horas depois toca a campanhia aqui de casa. Era a síndica e o zelador outra vez. E, surpresa, meu jornal arrumadinho na minha porta, com o número do meu apartamento escrito nele e tudo. O ladrão, além de letrado, é organizado e alguma coisa consciencioso. Não quis me deixar sem minhas notícias. Claro que essa lida cheia de dedos e fora de hora, me tirou bastante o prazer de (re) ler o MEU jornal. Mas não deixou de ser curiosa a volta do jornal afanado.

Veremos o que meu destino reserva para a manhã de amanhã...