segunda-feira, janeiro 30, 2006

doente sim... mas do nariz ou da cabeça? (publicado originalmente no "Trompe l`oeil... parece aquele, mas não é")

Ainda no assunto "doente" (seguindo imperiosamente minha tendência totalmente obsessiva compulsiva), não poderia deixar de registrar aqui um momento, digamos, traumático, da minha relação com Tomzinho.

Como já está sabido por todos que andaram dando uma olhadinha nos posts anteriores, estou doente de pedra, de dar dó, de não dormir à noite com crises e crises de tosse convulsiva. Mas, o que precisa ser muito bem esclarecido e lembrado aqui, é que não durmo sozinha, estando sempre (ou quase sempre) acompanhada do meu maridão Tomzinho.

Pois bem, o ponto é justamente esse. Se eu não durmo tossindo, o pobre coitado não dorme com minhas tosses. Isso desencadeou algumas conseqüências por aqui. A primeira, sendo Tom um cara objetivo e prático, foi ele sair para o sofá da sala, a fim de conseguir algumas horas de sono mais tranqüilas. A segunda conseqüência foi eu me sentir extremamente sozinha na cama e ir atrás dele por causa disso. Claro que, levando em conta as minhas neuroses, meus (inúmeros) sentimentos de culpa, minha eterna briga com o superego, ao me deparar com um homem de um metro e oitenta espremido num sofá de um e quarenta, me senti a pior e mais cruel das mulheres por tossir, por não deixá-lo dormir e, como conseqüência, expulsá-lo da cama. Por outro lado me senti abandonada, não-compreendida, injustiçada, humilhada até. Como não podia deixar de ser, mandei ele voltar pra cama e num ato heróico, de mártir mesmo, disse que eu ficaria no sofá aquela noite pra ele poder dormir.

Mas, meninas de plantão e leitores masculinos, o que nós realmente esperamos é que nossos homens sejam mais heróicos do que nós. Que eles insistam, que nos deixem no conforto e aplaquem a nossa consciência pesada. Tudo numa única tacada. Bem, pelo menos era isso o que eu esperava. Trocando em miudos, eu não queria o dedo do meu superego enfiado no meu olho e ainda queria um chamego, uma compreensão extra, uma proteçãozinha.

Mas recebi a seguinte resposta à minha proposta de EU dormir na sala:

- Ok.

E lá voltou ele pro quarto de mala e cuia, edredon e travesseiros embaixo do braço. Fechou a porta e pronto. Lá fiquei eu com tosse, metida a heroína, arrasada, tendo como companhia um superego que gargalhava das minhas segundas (e condenáveis) intenções. Pra completar o quadro, lágrimas nos olhos, soluços e uma noite que parecia que nunca mais teria fim.

Felizmente, teve fim. E nem demorou tanto. Claro que eu só dormi depois que o corpo desmaiou por vontade própria. Isso também fazia parte da martirização, agüentar os olhos abertos, ardendo, o corpo cansado.

No dia seguinte tivemos uma DR (para quem ainda não conhece a expressão batizada por nosso amigo, escritor e psicanalista Francisco Daudt, DR quer dizer Discutir a Relação), essa coisa chata que casais de vez enquando têm e que, geralmente, eu abomino. Mas, tive que falar alguma coisa. Afinal, como ele poderia entender meu mau-humor tumular, as faíscas de raiva dos meus olhos e aquela cobrança surdo, velada, que nós mulheres somos especialistas em fazer? Na verdade é tudo uma puta de uma sacanagem, afinal quando fiz a pergunta a ele, não disse que tinha uma resposta certa a ser dada. Não disse que era um teste. Como, cacete, ele poderia advinhar?

Enfim, a DR foi a maneira encontrada pra desabafar, esclarecer as coisas, limpar a minha e a barra dele. Por sorte pouquíssimos dias depois eu tinha análise e é claro que esse foi assunto certo na sessão. O que ficou também muito claro, é que lá dentro dessa coisa chamada cérebro que tenho (ou acho que tenho) aqui dentro da cabeça, separação pra mim tá intimamente ligada a rejeição. Se não vai ficar comigo, é porque me odeia. Simples assim. Talvez meus pais tenham me tirado da cama deles quando meu irmão nasceu. Talvez tenham me dito: "não gosto mais de você porque seu irmãozinho é mais bonito. Ele que vai dormir agora conosco". Sei lá. O fato é que a associação foi (e ainda é) imediata.

Bem, o que me dá uma esperançazinha é que já consegui falar a respeito. Já consegui teorizar a "coisa". Claro que ainda não tá tudo bem, né? Ontem Tom foi caminhar nas Paineiras e eu fiquei em casa (por causa da maldita sinusite) e, pasmem porque é verdade, quando ele fechou a porta e saiu eu comecei a chorar (!!!!!). Me senti sozinha, abandonada, bla bla bla. Etc etc etc. Tudo aquilo de novo. Mas, como já tinha dado uma ligeira racionalizada na situação, abri uma cerva gelada, fiz uma pipoca e me postei na frente do computador que vos fala. Escrevi, ri, consegui esse blog novinho em folha (mas com idéias antigas, cheiasss de naftalina), enfim, vivi a vida, deixei meus pulsos intactos e corri pro abraço.

À noite, parece sacanagem, mas tive outras crises de tosse e lá fui eu pra sala outra vez. Só que dessa vez eu abri o sofá cama e dormi numa cama (quase) decente. Claro que fiquei ainda fula da vida. Claro que senti falta do quentinho dele encostado em mim. Claro que, em contrapartida, morri de calor longe do ventilador. Dormi pouco, dormi de uma maneira meio chata, acordei mal-humorada (bem, isso é coisa mais ou menos rotineira), muda, mas sem grandes frustrações. Depois disso tudo me resta acreditar. Necessito acreditar em algo maior que eu. Preciso acreditar que:

* primeiro - mais cedo ou mais tarde vou aprender a lidar bem com separações e com medos de rejeições.

* segundo - alguma hora, ainda nessa encarnação, vou parar de produzir meleca, de tossir à noite e vou voltar a ser uma esposa normal, daquelas que não incomodam o marido à noite, não fazem barulho (salvo exceções... uma mulher muda na hora da transa não é legal não), não precisam dormir na sala, não compram caixas de lenço de papel no atacado e, principalmente, conseguem respirar tranqüilamente durante o sexo oral. Que sexo oral com nariz entupido é tarefa árdua, difícil. Voltando ao princípio do post, diria heróica.